Dois episódios aconteceram no Campo de Provas da Cruz Alta (CPCA), da General Motors, em Indaiatuba, SP. Fui testemunha de ambos e, garanto, me diverti muito. No primeiro, durante o lançamento da linha Opala 1988, o personagem principal foi o querido Expedito Marazzi, que já nos deixou (e virou nome de rodovia que liga Juquiá a Sete Barras, no Vale do Ribeira, SP; pai do também querido Gabriel e avô, do não menos querido, Guilherme, formado em engenharia, trabalhando na área na construção de hospitais.
E, em um segundo, envolvidos estavam dois representantes de um grande jornal paulistano, o repórter e um fotógrafo, que queriam “emoções”, em um lançamento da linha Monza, também nos anos 80.
Começando pelo episódio do Expedito. Ele era um excelente piloto (de kart, carro, moto, caminhão e sabe-se lá, de trator também), além de grande jornalista, que já sequestrou um Fiat 147 para antecipar o teste e a capa da revista em que trabalhara.
Naquela ocasião a GM estava apresentando para a imprensa especializada a nova suspensão da linha Opala. Sofreram mudanças o barramento de direção, os amortecedores passaram a ser pressurizados, foram mudadas as molas por outras mais duras, houve alteração nos diâmetros das barras antirrolagem, e batentes da suspensão traseira passaram a ser de Cellasto (elemento que substitui o batente de borracha), entre outras mudanças.
Bem, ocorre que, por uma questão que envolvia os fornecedores, os novos componentes não chegaram para a Caravan, a “station wagon” da linha. Por isso, avisamos aos jornalistas que o modelo não estaria entre os veículos de teste. Mas o Marazzi, ao que consta, não ouviu a explicação. Por isso, ao ver uma Caravan, que estava lá, em um canto, ao lado de outros modelos que serviriam apenas como apoio, simplesmente entrou no carro, uma versão de 6 cilindros, e saiu “cantando pneu” pela chamada D1 (Durabilidade 1), uma das pistas do CPCA, que tem inúmeras curvas e uma “serrinha”, ótima para testes e para quem gostava de desafios em alta velocidade, como o Expedito.
E continuou acelerando forte, cantando pneu a cada curva, “sem dó nem piedade”. Não ligou para os acenos de parar e seguiu com o pé direito, a todo vapor.
Depois de duas ou três voltas, parou no local determinado para o fim do teste. Desceu do carro e sentenciou: “Esta suspensão nova da Caravan ficou ótima”.
Assim era ele, piloto/jornalista capaz de conseguir fazer com a suspensão antiga da Caravan, o que muitos só conseguiram depois que elas foram introduzidas as mudanças no modelo.
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Agora, sobre o pedido de emoção
Neste outro episódio, um repórter aproximou-se e pediu: “chicolelis, será que a gente consegue algo, muito especial, para o nosso caderno de veículos?”
Perguntei o quanto especial era o pedido e ele explicou que queria umas fotos diferentes, feitas de dentro do carro, com o motorista movimentando os braços para virar, trocando marchas e acionando acelerador e freio.
Respondi que tudo bem, mas que isso só poderia ser feito com a pista vazia. Foi uma questão de tempo. O test drive parou, todos foram almoçar e pedi a um dos engenheiros do CPCA para levar o repórter e o fotógrafo, explicando o que eles pediram.
Meio ressabiado, ele ainda perguntou: “Mas é isso mesmo?”
Diante da resposta afirmativa, lá foi ele, dar uma volta na D1, com suas curvas e a deliciosa e desafiadora “serrinha“. Duas voltas depois, parou o carro onde eu estava. E o fotógrafo dizia que precisava de algo mais emocionante, mais forte!
Ok, que assim seja! pensei. E falei para o engenheiro: por favor faça o que eles pedem.
Ainda mais ressabiado ele olhou para mim, com o cenho franzido e perguntou: é isso mesmo, posso exagerar?
Confesso que senti um olhar “diabólico” acompanhando aquela pergunta. Mas acenei que sim, porque era um pedido do “freguês”. E, como diz o ditado popular, “o freguês sempre tem razão”.
E exagerou desde a primeira arrancada, que deve ter deixada uns 20% dos pneus traseiros (isso, a tração da linha Opala era traseira) no asfalto. Apenas uma volta depois, pararam onde eu estava. E os dois saíram do carro completamente zonzos, pálidos e tremendo.
– Nossa Senhora — disse o fotógrafo — não acreditei no que vivi. Achei que um momento a traseira do carro ultrapassaria a frente.
Pode ser que quase tenha visto isso mesmo, pois sabia bem quem estava ao volante. Era como o Marazzi, para ele também não tinha tempo ruim.
E desistiram das fotos com emoção, enquanto o engenheiro me lançava um olhar maroto como quem diz: “Eu não tive culpa. Só fiz o que eles pediram”.
Ouvi aquilo quando fui socorrer os dois, antes que caíssem no chão, de tão zonzos que ficaram.
CL