São apenas negócios. O adágio usado quando um acordo comercial não é concluído de forma equilibrada, se encaixa bem no mercado de pilotos que disputam uma vaga para a temporada 2023 da F-1. Após o GP da Itália (foto de abertura a lista eclética inclui pilotos que deixam o picadeiro, outros que trabalham para se manter e muitos que querem desembarcar na principal categoria do automobilismo mundial. Não bastasse tudo isso, a pirotécnica situação na qual Fernando Alonso e, principalmente, Oscar Piastri, envolveram a equipe Alpine também contribui para gerar marolas e marolinhas no setor.
Tetracampeão nas temporadas de 2010/11/12/13, o alemão Sebastian Vettel anunciou meses atrás que esta é a sua última temporada na categoria. Suas passagens subsequentes pela equipe Ferrari, onde chegou a disputar o título frente a Lewis Hamilton, e pela Aston Martin, aqui de forma bem mais branda, pavimentaram o caminho para sua aposentadoria aos 36 anos. Seu posto será ocupado por outro campeão mundial (2005 e 2006), o espanhol Fernando Alonso. O brasileiro Felipe Drugovich está confirmado como piloto-reserva da equipe inglesa, que tem o filho de Lawrence Stroll, Lance, como outro piloto oficial.
O australiano Daniel Ricciardo ainda não está confirmado como egresso da F-1, mas as possibilidades de que isso aconteça são consideráveis. Enquanto ganhava espaço como potencial campeão mundial, ele encontrou no caminho o holandês Max Verstappen, piloto rápido e arrojado (por vezes até demais) e queridinho de Helmut Marko
O dirigente austríaco é a eminência parda mais clara da F-1: é ele quem coordena as contratações de pilotos das equipes apoiadas pela Red Bull. Ricciardo chegou como substituto de Vettel em 2014, mas sem poder lutar de igual para igual com Verstappen, desligou-se da equipe e iniciou um périplo pelas equipes Renault e McLaren, onde conseguiu a mais recente de suas vitórias na F-1: o GP da Itália de 2021. A constante defasagem em seus resultados quando comparados com o novato Lando Norris, levaram a equipe a romper seu contrato na segunda das três temporadas que o acordo deveria durar.
Ricciardo poderia ser interessante para a Alfa Romeo-Sauber, AlphaTauri, Alpine, Haas, e Williams, onde há vagas potenciais, mas em cada uma delas há impedimentos, alguns mais negociáveis do que outros. Na Alfa Romeo-Sauber é provável que o chinês Zhou Guanyu seja confirmado para mais uma temporada ao lado de Valtteri Bottas. Na AlphaTauri, por exemplo, a permanência de Pierre Gasly — nome sonhado pela Alpine — trava as negociações. Sabe-se que ele só será liberado caso o time encontre um substituto igual ou melhor que ele. Na Alpine há dúvidas se seu retorno seria visto com bons olhos pela atual direção. Haas e Williams não têm apelo para o australiano, que já declarou não ter interesse em disputar a F-1 em uma equipe de fundo do pelotão.
Seu lugar na McLaren será ocupado por outro australiano, Oscar Piastri, cuja transferência ruidosa para essa equipe mexeu com os nervos de muita gente, em particular os franceses da Alpine. Depois de apoiar o piloto por três temporadas, a maneira como a relação entre ambos se desenvolveu no primeiro semestre acabou por uma separação que ainda vai reverberar na categoria. A própria Alpine já coloca em discussão a continuidade de sua academia de pilotos, o que afetaria diretamente os planos de carreira do brasileiro Caio Collet, que este ano disputou a F3.
Os nomes que estão na lista de compras do time francês incluem, pela ordem, o francês Pierre Gasly (atualmente na AlphaTauri), o alemão Nico Hulkenberg (sem equipe), o holandês Nick De Vries (sem equipe) e o também alemão Mick Schumacher (Haas). Gasly. Só seria liberado pela AlphaTauri caso o time austro-italiano conseguisse um nome de peso para substituí-lo. Esgotadas as tratativas para convencer a FIA a dar a superlicença para o estadunidense Colton Herta disputar a F-1, Helmut Marko tenta convencer Nick De Vries a assumir o posto de Gasly. De Vries, que estreou na categoria em grande estilo ao marcar dois pontos no recente GP da Itália, é o nome forte do mercado neste mês.
Haas e Williams seguem seu caminho sem grandes sobressaltos ou maiores intenções. Ambas ainda dependentes de apoios externos (entenda-se patrocínios trazidos por pilotos), elas tentam ganhar musculatura na onda de controle de custos imposta pela FIA. De certa forma, a medida teve impacto positivo no contexto mais amplo: a Red Bull anunciou esta semana que sua fábrica de motores poderá fornecer o equipamento para duas equipes além das suas, provavelmente a partir de 2027.
A Haas, atualmente ligada à Ferrari, segue vivendo brilharetes cada vez mais raros e sua continuidade na categoria é regularmente colocada em discussão. Ali, apenas o dinamarquês Kevin Magnusen tem emprego garantido para o ano que vem. A Williams, atualmente administrada pela Dorilton Capital, uma empresa de investimentos, depende atualmente do apoio trazido pelo canadense Nicolas Latifi, único piloto oficial da temporada que ainda não marcou pontos. Mais, a brilhante estreia de Nick de Vries em Monza (onde substituiu o anglo-tailandês Alex Albon ) refletiu ainda sobre sua já opaca atuação neste ano.
WG