Dias atrás eu estava em um evento automobilístico e me deparei com um Porsche 928 (foto de abertura e abaixo) dos idos da década 1990, em estado excelente, como convêm a um Porsche. Sendo um modelo “ame ou odeie” da marca de Stuttgart-Zuffenhausen, o 928 me fez parar e pensar em como algumas coisas não têm o resultado esperado no mundo dos carros, mesmo quando o produto final vem recheado de bons atributos e com o que o cliente espera. Ou pelo menos se esperava — ou se achava — que ele desejasse.
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Quando o 928 foi lançado em 1977, a fabrica acreditou que seria uma evolução natural do 911, e para isso adotou duas coisas opostas a esse, o motor dianteiro e arrefecido a água. Como não são de brincadeira, um tremendo V-8 de 4,7 litros. Mais espaço interno, mais porta-malas, mais conforto, mais seguro pela estabilidade “normal” e não a de um carro fora do comum com motor pendurado na traseira, o 928 tinha tudo para vender em grande número, despertando o desejo dos donos de 911 e angariando novos clientes que não queriam o “Fusca transformado em Superman” como o 911 podia ser entendido de forma simplificada.
Acontece que as cabeças mercadológicas da Porsche não levaram totalmente em conta o que tinham em produção há 14 anos o 911, que nascera e convivera dois anos com outro modelo que durou 17 anos, o 356. Desde que o 356 apareceu no mundo a quantidade de fanáticos e apreciadores da marca só cresceu, sempre apoiada principalmente pelo prazer de dirigir, muito em parte pela agilidade e respostas de direção dos 356 e 911. Se você já dirigiu um Fusca, imagine que esses carros têm toda a comunicabilidade deste, mas são completamente mais bem desenvolvidos, validados e construídos. Um abismo de diferenças apesar do conceito básico igual.
Mas onde quero chegar? Simples. Se algo atende a necessidade, é melhor evoluir, e não revolucionar. Evolução se faz “empurrando” o que existe, o que acontece. A história — resumidamente — não deve ser puxada, ou seja, ninguém deve acordar e dizer: ” Daqui a uma semana todos os hambúrgueres serão feitos de uma mistura de carne e vegetais”. Não vai “colar”, todos sabemos.
Mesma coisa acontece com as tentativas constantes de puxar a história do carro para um outro tipo de energia, abandonando o petróleo. Milagres não acontecem, e essas tentativas já estão mostrando hoje que vai ser muito difícil existir uma data para se deixar de fabricar e vender carros com motores de combustão interna no mundo todo, assim, como num decreto.
Sugiro então a adoção de mais um modelo alternativo de propulsão, já existente, bem mais simples que o que temos hoje nas ruas e de fonte energética gratuita: o carro a vela.
Invenção antiga, quase certamente veio do Egito no tempo dos faraós, e nunca deixou de existir, sendo há bastante tempo um passatempo e esporte, em corridas muito disputadas. Há dezenas de campeonatos pelo mundo, principalmente em áreas litorâneas onde vento não falta. Muitas organizações e clubes pelo mundo estão a postos para ajudar no desenvolvimento e implantação do uso em qualquer lugar, com anos de história e experiências para servir de base.
Mas como isso pode funcionar em nossas cidades? Simples, o vento que temos em áreas urbanas com muitas edificações pode sim fazer um carro a vela andar. Quando não tiver vento, apenas se espera ele chegar, como se faria em um carro elétrico carregando suas baterias, por exemplo, ou um carro a gasolina que precisa parar no posto para encher o tanque. Apenas questão de paciência.
As vantagens são muitas. Construção simples, custo muito baixo, peso minúsculo — pode ser manipulado com as mãos em estacionamentos — é confortável, já que se viaja reclinado, silencioso, ecológico — esse sim não tem emissões de nenhum tipo —, saudável, pois se precisa usar os braços para comandar a vela, e muito sociável por ser totalmente aberto. Imagine poder conversar com o colega do carro ao lado numa avenida, por exemplo?
Pode ser também melhorado de acordo com a vontade do dono, com capota, para-brisa, espelhos retrovisores, e ate mesmo um suporte de telefone preso ao capacete. Bagageiros de vários tipos podem ser criados, pequenos reboques para compras ou carregar crianças e animais de estimação. Modelos maiores com mais de um lugar podem ser feitos para famílias maiores ou para táxis, por exemplo, e ate grandes para substituir os ônibus, como esse da foto abaixo.
Vejo muitas vantagens e poucas desvantagens, mas a vida e a historia são assim. Acontecem em uma sequência natural de mudanças, que vão surgindo conforme a experiência de pessoas e grupos, alterando o que existe de forma mais pratica e solucionadora de problemas. Nunca atendem a todos os gostos e necessidades, mas no resultado final mostram a evolução humana.
Barato, leve, limpo e divertido. Basta definir uma data para ser adotado. O que pode ser mais fácil e melhor que isto?
JJ