Quando desço a Imigrantes voltando para casa, sempre me chamou a atenção o número de motoristas que desconhecem a existência do freio-motor. Muitos só conhecem o “freio do pé” e não desistem dele de modo algum na descida da Serra do Mar pelo trecho da estrada que está para completar 20 anos de idade.
Tem gente que freia a cada segundo, sempre de olho nos absurdos 80 km/h de máxima permitida ali. Mas, certo dia, peguei pela frente o motorista de um Volvo (modelo nem hibrido nem elétrico) em que as luzes de freio ficaram acesas durante os 20 quilômetros do trecho de serra, sendo 8,23 km de túneis e 4,27 km de nove viadutos. Tudo isso para manter os 80 km/h.
A foto de abertura é apenas ilustrativa para mostrar as luzes de freio numa situação de uso. Note que o carro em primeiro plano à esquerda está sem usar freio, porém com todas as luzes desligadas, ignorando a regra de trânsito que obriga usar farol baixo nos túneis (CTB Art. 40 Inciso I).
Eu fiquei ali, atrás dele, esperando as luzes se apagarem. Ele passou pelo túnel 1, com seus 3,146 km de extensão (o maior rodoviário do Brasil); seguiu com seu pé no pedal do freio, passando pelo 2 (3,005 km) e também pelo 1 o menor deles, com 2,080 km de extensão. Depois que ele entrou na pista para o Litoral Norte, não vi mais suas luzes de freio acesas. Eu segui para Santos.
Quem dirigia aquele Volvo nem imagina o risco que correu mantendo o pé no feio do carro por toda a descida de serra. Isso causa superaquecimento dos discos e pastilhas, pelo atrito constante, prejudicando o sistema de freio ao aquecer demais as pinças e levar o fluido hidráulico em seu interior a ferver — embora os fluidos mais modernos tenham um ponto de ebulição mais alto que os antigos e reduz, mas não impede, a possibilidade de o fenômeno ocorrer. Quando isso acontece o freio simplesmente não funciona mais.
Mas mesmo que não chegue a esse ponto, a alta temperatura devido ao frear constante causa o fading (perda de ação por superaquecimento) e pode deixar o veículo sem freio enquanto seus componentes não voltarem à temperatura normal.
Isso não acontece com o veículo híbrido ou elétrico, pois quando tiramos o pé do acelerador o sistema entra no modo de regeneração de energia elétrica para recarregar a bateria e faz acender, automaticamente, as luzes de freio do veículo (que não era o caso do Volvo em questão).
A descida da Imigrantes vai completar 20 anos logo mais, no dia 17 de dezembro. Ela foi construída por 45 mil trabalhadores em quatro anos e três meses, sendo entregue com cinco meses de antecedência. Usou o mesmo sistema da pista ascendente para abertura de túneis, o NATM (New Austrian Tunneling Method). O projeto, de 1986, foi alterado e assim a devastação da Mata Atlântica caiu, de 1.600 hectares, para apenas 40.
Disque 0800 0197878
Se você quiser informações sobre o Sistema Anchieta-Imigrantes, ligue para este número. É o telefone da Ecovias, concessionária dessas rodovias. Por intermédio dele receberá informações sobre as condições das duas estradas. E preste atenção na voz feminina que passa essas informações. A pronuncia dela da palavra QUILÔMETRO é hilária. Neste número falará também com a Ouvidoria. Ligue lá!
Segunda edição
Esse intertítulo, colocado, 9 horas depois da publicação desta coluna, tem um motivo especial. Usei o recurso do tempo em que jornais tinham grande circulação e era comum haver uma segunda edição quando surgia uma notícia relevante. E essa notícia relevante ocorreu depois que a coluna foi publicada.
Se você ligar agora para a Ecovias e ouvir a voz que informa as condições do sistema Anchieta-Imigrantes, vai achar que eu estou equivocado ou não ouvi direito a informação e confundi quilômetro com quilometro, como há anos se ouve na ligação. Mas creia, estou certo e orgulhoso de saber que, após ler aqui no AE a falha de locução, a Ecovias corrigiu o erro.
Agora só falta acertar a questão dos túneis que desapareceram na pista ascendente.
CL