A temporada 2023 da Fórmula 1 (foto de abertura) terminou, nas pistas, há pouco mais de uma semana. Fora dela, equipes, engenheiros e pilotos vivem dias agitados, desde mudança de comando, aposentadorias e retorno ao lar-doce-lar. No primeiro caso encaixa-se o clima na Ferrari, onde a demissão de Mattia Binotto já é um fato consumado: esta manhã a Scuderia emitiu um comunicado que oficializou o que era esperado. No segundo, Ross Brawn confirmou sua segunda despedida da F-1, de onde havia se afastado em 2016, e no terceiro a confirmação de Daniel Ricciardo como piloto de desenvolvimento da Red Bull, marca que defendeu de 2012 a 2018. Sebastian Vettel, outro piloto consagrado com as cores do touro vermelho, viu seu nome cada vez mais ligado a um cargo técnico nesse time. Desde os salões da FIA, veio a notícia do desligamento de Shalla-Ann Rod do cargo de secretária interina para esportes a motor.
No início do ano Charles Leclerc e Ferrari foram apontados como favoritos ao título: o piloto liderou a tabela de pontos após as corridas no Bahrein, Jeddah, Melbourne e Imola, pista próxima a Maranello, quartel-general da Scuderia. A vitória de Max Verstappen em Miami, onde Leclerc chegou em segundo, colocou ambos em pé de igualdade com 104 pontos e a partir de então o holandês foi somando mais pontos que o monegasco. Paralelamente, isso começava a desandar o molho a bolonhesa de Binotto, que começou a preparar um novo cardápio em 2019, quando substituiu Maurizio Arrivabenne no posto de “team principal” da Ferrari.
A progressão de Binotto na Ferrari, onde entrou em 1995, foi muito prestigiada por Sergio Marcchione, ítalo-canadense que ingressou na Fiat em 2009 para cuidar da Chrysler e se consagrou pela maneira dura que adotou para reverter os prejuízos do grupo italiano. Sem Marchionne e sem interromper o jejum de títulos da Ferrari desde que assumiu o comando da equipe, Binotto foi perdendo prestígio. Vários erros estratégicos custaram bons resultados e a partir da metade deste ano seu afastamento começou a aparecer no seu horizonte. De acordo com a imprensa italiana, o posto de Binotto será ocupado interinamente por Benedetto Vigna, atual èxecutivo-chefe da Ferrari.
O nome mais cotado para assumir o posto de Binotto é Fredéric Vasseur, atual diretor esportivo da Alfa Romeo Sauber e grande amigo de Charles Leclerc. Ocorre que o anúncio de Ross Brawn em deixar o posto de diretor-gerente da categoria já provocou especulações de que ele poderia voltar a ocupar o comando da Ferrari, onde trabalhou entre 1997 e 2006. A julgar pelo que escreveu em sua coluna no site da categoria, não parece ser o caso:
“É o momento certo para que me aposentar. Teremos um novo carro em 2026 e é melhor que o próximo grupo de trabalho assuma esse desafio. Eu acredito que deixo a F-1 em um ótimo lugar.”
Na Red Bull o clima é o oposto da decisão de Brawn: ontem a equipe anunciou o retorno de Daniel Ricciardo, agora na condição de piloto de testes e não emitiu nenhum comentário sobre os rumores que Sebastian Vettel assuma um posto que o leve a substituir Helmut Marko. Sete das oito vitórias de Ricciardo na F-1 foram pela Red Bull (a outra pela McLaren) enquanto Vettel sagrou-se tetracampeão mundial (2010/11/12/13) pela mesma equipe.
Com menor repercussão pública, mas bastante ampla entre as equipes, a informação que Shaila Ann-Rao deixa o cargo de Secretária Geral Interina para Esportes a Motor junto à FIA. Antes de trabalhar para a entidade Ann-Rao foi consultora legal da equipe Mercedes entre dezembro de 2018 e janeiro de 2022, o que provocou reclamações de equipes. As maiores queixas estiveram ligadas ao processo que acabou em multa e restrições quanto a desenvolvimento aerodinâmico para a Red Bull, time que junto com a Ferrari levantou suspeitas sobre a imparcialidade da, agora, ex-executiva da FIA.
WG
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