Poucas vezes se viu tanta transformação na F-1: no intervalo para 2023 a categoria exibe uma lista significativa de alterações tanto em pilotos quanto em posições técnicas e administrativas. Dos 20 pilotos que atuarão na próxima temporada, três mudaram de equipe, três deixaram a atividade plena e três podem ser considerados estreantes ou novatos. Além disso, quatro equipes já confirmaram alterações no comando de suas operações de pista e é possível que novas sejam anunciadas em breve. Esta semana falarei sobre o segmento dos pilotos.
Entre os pilotos, a mudança mais importante sob o ponto de vista hierárquico é sem dúvida a decisão de Sebastian Vettel encerrar voluntariamente sua carreira na F-1 e ter seu lugar ocupado por Fernando Alonso. A troca do alemão pelo espanhol garantiu à equipe Aston Martin manter um campeão mundial como companheiro de Lance Stroll, filho do dono do time. Vettel foi tetracampeão em 2010/11/12/13 e Alonso foi bi em 2005/06. O brasileiro Felipe Drugovich, que venceu a temporada internacional da F-2 FIA, é o piloto-reserva e de desenvolvimento do time cuja base está situada em frente ao portão principal de Silverstone.
A decisão de Alonso deixar a Alpine ocorreu em um período turbulento para time francês. A demora em confirmar o interesse pela permanência do espanhol e o constante adiamento de uma primeira experiência do australiano Oscar Piastri na primeira sessão de treinos livres fez os franceses amargar a perda de dois nomes nos quais investiram tempo e dinheiro. É fato consumado que Esteban Ocón marcou mais pontos na temporada do que Fernando Alonso (92 a 81), mas a contribuição do espanhol foi importante para dar continuidade ao plano quinquenal de alçar o time a disputar vitórias, quiçá o título, em 2025.
O capítulo Piastri foi dos mais turbulentos do ano. Apoiado pelos franceses em suas campanhas nas F-3 e F-2, as categorias de acesso à F-1, o relacionamento do jovem australiano com a equipe começou a azedar no início deste ano. A demora em possibilitar que ele disputasse uma sessão do primeiro treino livre, nas manhãs de sexta-feira não contribuiu para que seu empresário, o ex-piloto Mark Webber, investigasse outras possibilidades, algo que ganhou corpo na medida em que os resultados de Daniel Ricciardo, igualmente australiano, levassem ao fim prematuro de um contrato de três anos com a McLaren.
Por mais que Piastri estivesse em seu direito de não renovar seus laços com a Alpine, a dinâmica de suas atitudes sempre será lembrada como uma demonstração de ingratidão com quem bancou seu acesso à F-1. Se ele andar mais rápido ou igual a Lando Norris, seu companheiro na equipe fundada por Bruce McLaren, esse comportamento perderá importância. Caso ele tenha uma atuação semelhante a de Ricciardo as chances de reviver a experiência em sua nova equipe não surpreenderão.
Experiência oposta vive o holandês Hendrik Johannes Nicasiuus De Vries, campeão da F-2 FIA em 2019 e da Fórmula E (a categoria de monopostos elétricos) na temporada 2020/21, quando assumiu a condição de piloto-reserva da equipe Mercedes. Em setembro teve uma chance excepcional: o anglo-tailandês Alex Albon teve uma crise de apendicite e o seu lugar no Williams FW44 foi ocupado por De Vries, cortesia do fato que a Williams usa o motor da marca alemã.
Ao terminar a corrida em nono lugar ele ganhou notoriedade e acabou virando uma importante moeda de troca na reformulação das equipes AlphaTauri e Alpine e na vida de Pierre Gasly. O francês vivia uma relação desgastada com a academia da Red Bull: alçado à vaga de Daniel Ricciardo na equipe em 2019, ele foi devolvido à equipe Toro Rosso no meio da temporada e apesar da vitória no GP da Itália em 2020 desde então sua carreira ficou praticamente estacionada. O conhecido nacionalismo francês fez com que a Alpine intercedesse junto à Mercedes para liberar De Vries e, com isso, liberar Gasly do contrato com a Red Bull, uma singular homenagem a Antoine-Laurent de Lavoisier, o pai da química moderna e sempre lembrado quando se nota que nada se perde, tudo se transforma.
Ex-piloto das equipes Williams (2010), Force India (2011/12 e de 2014/16), Sauber (2013), Renault (2017/18/19), Racing Point (2020) e Aston Martin (piloto-reserva em 2021/22), o alemão Nico Hulkenberg já participou de 184 GPs, somou 521 pontos, mas ainda não conseguiu seu primeiro pódio. Esse retrospecto contrasta com seu histórtico pré-F-1: em 2005 ele dominou o campeonato alemão de F-BMW, na temporada 2006/07 da extinta A1-GP ele venceu nove provas e em 2009 venceu a temporada internacional da GP2, categoria hoje conhecida como F-2 FIA. Após um hiato de duas temporadas como piloto-reserva, ele volta a atuar em tempo integral ao substituir o conterrâneo Mick Schumacher na equipe Haas. Dispensado da Academia Ferrari, o filho do heptacampeão mundial foi recentemente anunciado como piloto-reserva da equipe Mercedes. Pietro Fittipaldi segue como piloto-reserva da equipe aemericana.
O americano Logan Hunter Sargeant é daqueles pilotos que constroem a carreira na base de resultados regulares e sem conquistar títulos. Desde que estreou no automobilismo internacional, em 2016, ele disputou 182 provas nas F-4, Renault Challenge, F-3, Le Mans Series e F-2 e anotou 14 vitórias, 13 poles, 19 voltas mais rápidas e 59 voltas mais rápidas. Mesmo assim, ao ficar em quarto lugar na F-2 FIA este ano, conseguiu os pontos necessários para obter a superlicença necessária para competir na F-1. Considerando que a equipe Williams é hoje controlada pela Dorilton Partners, uma empresa de investimentos com base nos EUA, é lícito considerar que também aqui o apelo nacionalista falou mais alto.
Desejo a todos um Feliz Natal.
WG
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