Voar de balão é algo extraordinário. Dentro do cesto, não se sente o vento, o penteado das mulheres não se desfaz. Nem o do homem, caso o tenha. O balão faz parte do vento e a ele obedece, muito embora o bom piloto seja capaz de “orientar” seu voo, usando as correntes de ar que variam de direção, conforme a altitude.
Mas, para quem gosta de aventura na terra, de vencer grandes obstáculos ou nem tanto, nada se compara a estar no volante de uma picape que sai em busca do balão, para resgatá-lo quando ele aterrissar, Nesta, que podemos chamar de aventura, o uso de picapes 4×4, capazes de ir buscar o cesto nos lugares mais incríveis, seguindo a orientação do piloto que, lá do alto, passa as dicas para alcançar o ponto de pouso. Quando não for um veículo 4×4, o piloto, lá do alto, orienta para que siga por caminhos mais tranquilos.
E aí, a “caça” do balão vira uma deliciosa aventura, no solo, para quem está na direção da picape. É garantia de muito prazer. O ideal dessa aventura é participar dela por completo, ou seja, ajudando no descarregar o balão da picape, na sua abertura e para inflá-lo.
O ideal é ter duas “equipes”. Uma voa pela manhã e outra no final da tarde, revezando-se na busca.
Para isso, é preciso que estejam dispostos a sacrificar o sono, pois o ideal é começar o voo por volta das 6 da “matina”.
O voo pode durar cerca de uma hora, dependendo sempre das condições do tempo. Se o vento aumenta a velocidade, diminui o tempo de voo. E, lá no alto, a cerca de 300 metros de altitude (em competições pode chegar até 1.200 m e em casos especiais aos 4.000 m), a sensação que temos é de estarmos imersos no vento. Não o sentimos.
Entretanto, se o piloto muda a altura, o vento pode mudar também e aí sim, até que haja a “integração”, podemos sentir o vento. Mas isso dura pouco tempo, até que haja a imersão. Essa mudança de altura pode, também, mudar a direção do vento.
Então, lá embaixo, a equipe de apoio que seguia, por exemplo, na direção sul, tem que mudar seu rumo para onde o balão segue. Isso pode significar o surgimento de obstáculos e cabe, então ao piloto, orientar o novo caminho a seguir, de acordo com o tipo de veículo do resgate. Segundo Luiz Eduardo Consiglio, piloto de balão há 33 anos, é como se fosse uma espécie de rali sem planilha.
Ele também explica que, na nossa região, a tendência é que o vento sopre para leste, salvo em lugares montanhosos, como Campos do Jordão, por exemplo.
Sem apoio, não tem voo
A equipe de apoio é essencial para que o voo se realize. Sem ela, o balão não pode sair do chão. Hoje usa-se Google Maps e WhatsApp para orientação da equipe de terra, embora o rádio esteja sempre de “plantão” porque existem regiões, com estradinhas e pinguelas, que cortam fazendas pelo interior, que não são mapeadas por esses sistemas e então, o velho, bom e fiel rádio entra em ação.
A descida começa cerca de 10 minutos antes do pouso. O piloto deixa de alimentar o balão com o ar quente que o sustenta e vai deixando que ele desça devagar e no ponto onde a equipe de apoio poderá acessar para levar o balão de volta ao ponto de partida.
Em geral, em 90% dos casos, o pouso é tranquilo, com ventos de até 10 km/h, com o cesto ficando de pé e passageiros tranquilos.
O Brasil, segundo Luiz, é pródigo em voos de balão. Há balonistas em todo o País, inclusive na Amazônia, onde é praticamente impossível voar e o apoio tem que ser dado por barcos e não picapes. O Nordeste, região de ventos fortes, dificulta o balonismo, mas não o impossibilita. As regiões mais favoráveis à prática deste lazer esportivo estão em Santa Catarina, São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e Centro-Oeste.
Os Lençóis Maranhenses apresentam uma grande dificuldade para voo. Luiz conta que não existem condições favoráveis e que ele passou 10 dias esperando e só fez um único voo em todo esse tempo. A paisagem, segundo ele, é deslumbrante, mas a espera por ela é desgastante.
Até 20 pessoas
O balonismo é muito difundido na Europa e Estados Unidos e vem se desenvolvendo rapidamente no Brasil. Hoje já temos balões de recreação/voos panorâmicos, com capacidade para até 20 pessoas.
É seguro voar de balão?
—Muito — garante Luiz — não tem como dar errado se tudo estiver certo. Um bom equipamento, sempre em perfeito estado de conservação e manutenção, é a garantia disso. Os acidentes ocorrem por imperícia ou imprudência.
Ele dá como exemplo de imprudência, alçar voo com ventos acima de 25 km/h.
Luiz Eduardo Consiglio é um aventureiro. Falou em aventura, lá vai ele. Faz parte do grupo de precursores da Operação Antártica da Marinha do Brasil, desde 1987. Como ele também é alpinista, vai na frente da expedição para ver a situação do terreno por onde vão passar seus integrantes.
— Como nós, brasileiros, não temos habilidades para deslocamentos em terreno com neve e gelo, nossa equipe vai na frente para tomar conhecimento do terreno e anotar as dificuldades que serão enfrentadas.
Voz da experiência.
CL