Assim como muita gente, fiquei triste com o fechamento da Livraria Cultura. Como paulistana (mesmo que por adoção), sempre achei a Avenida Paulista e aquele oásis de conhecimento um refúgio seguro e um lindo lugar para ficar sozinha ou para encontrar algum conhecido. Da última vez que estive foi em algum momento do ano passado com um amigo que, paradoxalmente, não conhecia pessoalmente, mas ambos sugerimos o mesmo ponto de encontro.
Eu mesma tenho comprado muitos livros pela internet e não acho que livrarias físicas tenham sido vítimas do ciberespaço, mas sim da diminuição de leitores. Nem vou aqui falar do baixíssimo índice de leitura das pessoas em geral. Conheço muita gente que não lê absolutamente nada, outros que leem um livro por ano. É algo muito triste e sempre digo o mesmo: não sabem o que estão perdendo.
Eu mesma tenho lido num ritmo muito mais lento do que ao longo da minha vida inteira. Recentemente quase perdi um amigo de longa data porque nunca lhe devolvia o livro que me emprestara, Abril Despedaçado, um pequeno volume interessantíssimo de um escritor albanês, Ismail Kadaré, que eu procurava havia tempo e que ele, dono de uma invejável e variadíssima biblioteca, tinha. No entanto, a toda hora passava alguma coisa na frente e a leitura se arrastou no mesmo ritmo dos acontecimentos depois que Gjorg Berisha “toma o sangue” de Zef Kryewqyq. Na verdade, mais. No livro, são 28 dias. Eu levei quatro meses. Felizmente, o Zezo Carcagnolo relevou essa falha minha de caráter e continuamos amicíssimos — sim, porque demorar e, pior, ainda, não devolver um livro, é uma falha de caráter gravíssima. No mínimo, mas talvez devesse ser algum tipo de crime a ser tipificado no Código Penal.
Agora peguei outro livro emprestado, este de um leitor que acabou virando amigo, como felizmente tem acontecido com alguns outros. Celso Couto me cedeu “Eu me lembro muito bem”, a compilação de crônicas de Nélson Piquet que durante um bom tempo foi publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo. Espero devolvê-lo num prazo menor do que o livro albanês e também espero não perder (ou quase) outro amigo…
Na época da publicação lia as crônicas com voracidade, pois eram muito bem escritas e com aquela verve que sempre caracterizou o Piquet. Tinham muitos bastidores, histórias divertidas e muitos “causos”. Por enquanto, não passei da décima página, mas promete ser uma leitura fantástica, décadas depois da primeira vez. Acho que valerá a pena a espera, pois há anos tento achar o livro que está esgotado em todo lugar e quem tem não o vende nem empresta. Será uma demonstração gigantesca de idoneidade da minha parte devolvê-lo, mas hei de fazê-lo. Por enquanto, já aproveito duas fotos do livro — a de abertura, que é sua estreia na F-1, GP da Alemanha de 1978, em Hockenheim, com Ensign-Ford. Bão terminou, quebra de motor, e a da capa.
Como autoentusiasta e leitora voraz é claro que adoro livros sobre automobilismo. Tenho muitos, muitos, mesmo. Desde biografias até livros de fotos, passando por todos os tipos. A cada vez que entro numa livraria desvio daquelas bancas de livros de autoajuda que estão logo na entrada, driblo as pilhas de livros de administração e vou direto para os de Esportes, parando, é claro, nas de literatura “séria”. A seção de Esportes costuma ser pequena, é verdade, mas dá para achar coisas interessantes, embora em pequeno volume. Tanto que a maior parte da minha coleção é de edições corporativas, aquelas editadas por empresas e usados para dar de presente a clientes e imprensa.
Em casa esses livros parecem que tem perninhas. Eles andam livremente. Tem, é claro, a enorme e bem projetada biblioteca, mas também vão para a mesa de centro (com uma providencial parte inferior feita para acolher muitos livros), para as mesinhas de cabeceira do quarto e para qualquer outro lugar, por mais improvável que possa parecer. Muitas vezes pego um e o releio ou apenas fico folheando e depois o deixo em outro canto para terminar de ver.
Tem também a mesinha perto da estante dos carrinhos de coleção, onde vários livros de automobilismo ficam empilhados para consulta rápida. Por circunstâncias desconhecidas ou capricho do destino, dois dos mais olhados são “José Carlos Pace, a busca de um sonho”, belíssima edição feita pela empresa Mahle há alguns anos, e “Interlagos, 1940 a 1980”, de Paulo Scali, Aliás, os outros livros do Scali, devidamente autografados e com dedicatória, estão junto com o de Interlagos. Falando de Paulo Scali, hoje é o dia seu 71º aniversário e aproveito para felicitá-lo.
O livro sobre Pace, além de extremamente caprichado, tem para mim um enorme valor sentimental. Já falei aqui do carinho que tenho pela família Pace e do que eles representam para mim, especialmente a filha Patrícia. Mas tecnicamente o livro é um registro e tanto e vale muito a pena ler, reler e voltar a reler.
O livro de Interlagos tem, além de muitos registros históricos de datas, informações sobre carros e pilotos ano a ano, fotos incríveis. E, como muitos, sou uma saudosa do traçado antigo e longuíssimo de Interlagos, mesmo que só nas fotos do livro. Também gosto das outras publicações sobre os circuitos brasileiros como da Gávea, e um de Circuitos de Rua, também do Paulo Scali, com fotos lindíssimas.
Também curto consultar os volumes da “Biografia do Automóvel Brasileiro”, de Claudio Habara, que ganhei do meu “primo” Wagner González, uma verdadeira enciclopédia sobre o assunto.
Todos estes livros não apenas me ajudam na hora de perpetrar minhas escrevinhações, mas também a buscar inspiração para as colunas e, suprema honra, fazem minhas conversas diuturnas mais interessantes, pois envolvem detalhes que poucos conhecem, mas que muitos gostam de conhecer.
Sou eclética e curto livros de biografias também. Minha mãe deu de presente para meu marido o do Senna e do Ingo Hoffmann, ambos por sugestão minha, assim como a do Elon Musk, mas esse não por causa da Tesla, que na época da edição do livro ainda não era o que é hoje e estava em grandes dificuldades, e sim pelas inovações na área de tecnologia e pelo sujeito em si. Sim, caros leitores, confesso que foram presentes dados com segundas intenções, mas como todos sabem, minha cara-metade é tão autoentusiasta quanto eu, logo, minha barra está limpa.
Mas a biografia do Chico Landi escrita pelo Paulo Scali eu mesma comprei sem dar desculpa alguma… O mesmo aconteceu com o livro de Jacques Villeneuve. Fui na loja assim que foi lançado, pois estava viajando pelo Canadá. Ainda vou procurar e comprar algum sobre o pai dele que era muito mais meu ídolo do que o filho, de quem gostava, mas nunca fui apaixonada como era pelo Gilles.
E continuo sendo, mas desde que não tenha fotos sobre o acidente que lhe custou a vida porque como já disse aqui também, é uma imagem que não gosto de ver. Na verdade, a de nenhuma morte no automobilismo. Batidas e acidentes, tudo bem, mesmo aqueles horrorosos como o de Romain Grosjean no Bahrein em 2020 ou Gerhard Berger em San Marino em 1989. Aguento ver desde que o piloto tenha sobrevivido e tenho menos dificuldades se ele saiu sem machucados. O acidente do Piquet em Indianápolis, que praticamente lhe custou um pé, requer um pouco de esforço, mas consigo. O do Senna ou o do Villeneuve não consigo nem gosto de rever.
Tenho também aqueles livros de consulta, que comprei em livraria, mesmo. Como os que tem todos os resultados da Fórmula 1 ou de algum circuito, ou sobre a participação do Brasil na na modalidade. A vantagem deles é que, ao contrário das revistas, tenho tudo compilado, com menos volume de papel. Não, ainda não aderi ao Kindle, mas já estou analisando, mas por enquanto volume de livros não é problema em casa. Sou capaz de abrir mão dos meus sapatos ou das minhas bolsas (OK, talvez uma pequena parte deles), mas ainda não consegui me desfazer de nenhum dos meus livros. Na verdade, nem tentei, pois só de pensar já me ocorrem duas dúzias de motivos para não fazer isso.
Mudando de assunto: para não perder o hábito das minhas piadas autoentusiastas, porém infames:
NG