No último 6 de março, tivemos a reunião mensal e virtual da Anfavea com os principais cadernos econômicos e imprensa especializada, Márcio de Lima Leite, o atual presidente, procurou novamente deixar um certo tom de otimismo, apontando que os ritmo diário de emplacamentos foi superior ao mês de janeiro — e foi mesmo — porém, ainda sem apontar reação que mereça nota. A primeira quinzena de março apresenta nova melhora, na casa dos 9%, sobre a qual devo falar no mês que vem.
O carnaval tirou dois dias úteis de fevereiro , que já um mês curto, e as restrições de crédito para financiamento de autos tiraram mais as vendas de compactos do que das categorias superiores de preço, diga-se suves, e sedãs médios.
Mas pudemos perceber algo nas entrelinhas e também na apresentação, quando Márcio Leite disse que o “desempenho no primeiro bimestre reforça a necessidade de promover o reaquecimento de mercado”. Disse também haver conversas com o MDIC (Ministério da Indústria e Comércio) quanto à renovação do programa Rota2030, originalmente previsto para expirar em novembro deste ano, o que deve atrair nova rodada de investimentos em modernização de produtos e dos processos de manufatura.
Conhecendo bem o nosso Brasil, é possível especular que essas entrelinhas contenham mais recados, às fábricas que estão parando de novo, desta vez mais para acomodar os ritmos de produção a um mercado que encolheu, num contexto de governo que acaba de assumir o poder e quer mostrar serviço e a economia desandando ser o principal desafio.
O último trimestre de 2022 veio acompanhado de desaceleração da atividade econômica, setores como a indústria de construção civil viram retrações de 30% na venda de imóveis, o de automóveis vocês já vêm acompanhando aqui, setor de serviços também encolheu, enfim a Anfavea manifestou-se de forma diferente depois das eleições, sobre um importante segmento que já vinha enfrentando problemas há mais de um ano.
Não cabe aqui debater méritos, tampouco tecer juízos, o crédito ao consumidor já vinha encolhendo e os números de inadimplência aumentando. Sem soluções simples para problemas complexos, assistir o mercado patinar por outro ano e nada fazer tampouco é uma opção. A ver quais medidas serão discutidas e aprovadas, se houver.
Fevereiro teve quatro dias úteis a menos que janeiro, portanto o cálculo de vendas diárias ganha ainda mais importância para se analisar o mercado e tecer comparações adequadas. Foram 129.949 autoveículos licenciados, sendo 119.906 leves e 10.043 pesados.
Por dia foram 6.661 automóveis e comerciais leves emplacados, 12% superior a janeiro, ainda assim historicamente baixos, estamos no nível de 2006. É sempre bom lembrar que o país acolheu investimentos para capacidade produtiva de 5 milhões de veículos por ano e hoje estamos com 2,1 M, se não houver busca para ocupar essa capacidade, corre-se o risco de desinvestimento e redução do parque instalado, com efeitos diretos no emprego.
O gráfico de vendas diárias abaixo mostra cinco anos de histórico e a previsão da Anfavea é de uma média de cerca de 8 mil emplacamentos por dia, número próximo ao do ano passado e inferior ao período pre-pandemia.
Os dois primeiros meses do ano tiveram vendas 4% superiores ao mesmo bimestre de 2022, porém hoje quase não faltam chips e no ano passado eles fizeram parar todos os fabricantes por diversas vezes. Nota-se na tabela que houve uma mudança importante nas vendas diretas, GM e VW cresceram mais de 100% nesse modal, Renault e Hyundai perderam espaço em 2023.
As vendas no varejo seguem no patamar de 60.000 mensais para automóveis e 10.000 para comerciais leves, antes da pandemia giravam em torno de 85.000 e 16.000 respectivamente, sempre na comparação do bimestre.
Ranking de fevereiro e do primeiro bimestre
Fiat mantém-se isolada e distante na liderança, com 26.607 licenciamentos, seguida pela GM e VW, com respectivamente 18.583 e 16.279. Neste mês de março começaram pra valer as vendas da nova picape Montana, o que deve distanciar a GM da VW. Jeep chegou ao 5º posto no ranking, parece haver nova política de comercialização da Hyundai em curso, com a redução de participação nas vendas diretas. No acumulado dos dois primeiros meses, o mercado cresceu 4% e vemos crescimentos maiores com Fiat (+11%), GM (+35%), VW (+48%), Toyota (+6%) e Nissan (+33%).
Nos automóveis, a GM deu o troco e colocou Onix em 1º e Onix Plus em 2º e Tracker em 9º, Onix também lidera no bimestre, HB20, o líder até o ano passado ficou em 14º no mês e em 9º no bimestre. Como já mencionei, parece haver novo posicionamento da marca sul-coreana, e também as locadoras que puxaram o freio de mão impactaram mais aqueles que tinham políticas de comercialização mais dependentes das vendas diretas.
Nos comerciais leves a Strada (foto de abertura) segue liderando, com 6.837, o que a posiciona também em 1º na classificação geral, Toro em 2º, Hilux em 3º, Saveiro, S10. A tabela do ranking aponta para a Ram em 10º, porém são quatro modelos somados. Este ano GM e Ford passam a trazer os concorrentes diretos da Ram para o Brasil, estranho porém como planejam competir com quem traz Ram do México com zero imposto de importação, enquanto eles têm de recolher 35%.
Até mês que vem!
MAS