Desta vez vou contar outras pequenas histórias, não estórias, em dois capítulos (o primeiro foi na semana passada), ao volante de vários carros, estradas ou cidades. Algumas delas já contei completas aqui (e as menciono para quem quiser conhecer os detalhes), outras falarei do principal.
Estada de Indaiatuba
Próximo ao lançamento de uma nova versão da D-20, com aqueles “baitas” pneus borrachudos (foto de abertura), fui ao Campo de Provas da GM para fazer umas fotos e buscar informações sobre a picape. O dia passou, a noite chegou e acabei voltando para São Paulo lá pelas 22 horas, levando uma D-20, que iria para fotos em estúdio no dia seguinte. Seguindo pela rodovia Santos Dumont (SP-75), ao passar por uma grande árvore à beira da estrada, percebi que um “Opalão” saiu de trás dela e veio atrás de mim.
Eu aumentava a velocidade e seu motorista também. Diminuía e meu perseguidor também. Ainda era uma pista simples e ele aguardava a oportunidade de emparelhar e me fazer parar. Conhecendo bem a pista, sabia que seria em um determinado ponto de uma forte descida.
Quando cheguei no começo dela, apertei o acelerador ao máximo e comecei a descida no maior “embalo”, com eles atrás de mim (deu para ver que eram mais de dois dentro do “Opalão” escuro.
Quando vi que conseguiriam emparelhar, encostei a cabeça no apoio e “taquei” o pé no freio com toda força. Meu raciocínio era: ou eles batem na traseira e se danam, ou perdem a direção e vão parar dentro do mato.
Aconteceu a segunda opção e eu dirigi até São Paulo com os pneus “quadrados” pela freada brusca, como se passasse por um buraco a cada 10 ou 15 centímetros.
No dia seguinte o pessoal do Campo de Provas me contou que uns malucos perderam a direção de um “Opalão” e foram parar no tronco de uma árvore, do outro lado da estrada. Mas ninguém saiu gravemente ferido.
Mas eu saí de lá com uma “baita” tremedeira que durou a viagem inteira.
O dono de posto me expulsou
Estava levando um carro para os colegas do Rio de Janeiro testarem. Era um Diplomata, dourado, nova versão recém-lançada. Descida a Serra das Araras, com suas deliciosas curvas (ainda não tinha sido infestada de radares de 40 km/h), ao chegar na Baixada senti uma sede insuportável. Depois de uns dois ou três quilômetros, avistei um posto com uma “cara boa” e entrei, pensando em comprar uma água. E não é que sai lá de dentro um homem, que parecia ser o dono, gritando desesperado:
— Sai daqui com esse carro, pelo amor de Deus, sai daqui com esse carro. Não quero confusão no meu posto. Corra, vai embora logo.
Nem saí do carro, dei uma ré e me mandei. Ao encontrar meus amigos jornalistas, já no Rio, ouvi a explicação para o desespero do homem do posto: “com esse carro, naquela região, você jamais sairia bem de lá”. Ufa! Escapei de boa.
Ouvindo uma FM gaúcha em plena Dutra
Um dia, voltando de São José dos Campos para São Paulo, e procurando uma rádio para ouvir um pouco de música (sou viciado em rádio e ouço até a “Voz do Brasil,” se não tiver outra coisa para ouvir; é horrível, mas não resisto entrar em um carro sem ouvir rádio). Mexendo no dial do rádio, achei uma boa música, já no seu final.
Quando ela acabou, ouvi o locutor anunciando a rádio (não lembro o nome) de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Quando começou a outra música, não ouvi mais a rádio.
Estranhando o acontecimento e, no dia seguinte, liguei para um amigo que trabalhava na Rádio Eldorado (quanta saudade de ”Um piano ao cair da tarde”, patrocinado pelos 10 melhores restaurantes de São Paulo, entre outros lindos programas) e perguntei a ele se aqui era comum.
Sua resposta foi que havia ocorrido um fenômeno que jamais se repetiria, mesmo que eu ficasse um ano ali, parado, no mesmo ponto em que ouvira a rádio gaúcha. “Nunca mais!” afirmou meu amigo.
O policial só queria conhecer o Monza S/R
Esse episódio eu já contei, aqui nesta “Coluna Histórias & Estórias”, onde um Policial Rodoviário Federal, me parou porque eu estava viajando num Monza S/R, que levava para o Rio. Queria apenas conhecer o carro, que havia sido lançado naquela semana. Ele tinha um Monza Hatch, pelo qual era apaixonado e ficou encantado com o novo modelo.
Mais uma de Audi
Desta vez foi com um A6. Não que o motorista tivesse a mesma impaciência do cara do A3 Turbo, da Imigrantes. Não, esse era ”gente fina” e, claro, nem precisou pedir passagem.
Eu seguia pela Carvalho Pinto num delicioso up! TSI (pena que a VW o tirou de linha, como tordos sabem), com seu motor turbo. Quando vi o Audi vindo lá atrás, dei seta e sai para a direita. Mas resolvi dar uma de moleque. O motorista não vinha tão rápido, mas estava acima da velocidade permitida (120 km/h). Quando ele estava chegando para me ultrapassar, meti uma reduzida e acelerei, como gostava o up! TSI, de 120 km/h pulei para 160 muito rapidamente e o cara do Audi teve que apertar o acelerador para conquistar a posição. E foi embora.
Quilômetros depois, ao parar em um posto, para um café, lá estava o Audi A6 parado e seu dono já saindo. Quando me viu, perguntou: o que tem aí debaixo deste capô?
Disse do que se tratava e ele, para minha surpresa contou que estava para trocar o carro da esposa, que não gostava de carro grande, principalmente suve, mas de carrinhos rápidos. Avisei que o up! era manual e que não oferecia versão com câmbio automático.
— Não tem problema, ela adora carros manuais.
Nunca saberei o que aconteceu, mas foi uma delícia ter feito o cara do Audi A6 ter que afundar o pé direito, para vencer o pequeno up! TSI.
Rodovia que serve Amparo, SP
Essa foi perigosa. Estávamos em cinco dentro do Karmann-Ghia de um amigo. Nenhum baixinho. Só quem não entrou no sorteio dos lugares foi o motorista. Ficamos hospedados na fazenda do pai de um amigo e na noite de sábado fomos até a cidade dar “um rolê” como se fala nos dias de hoje (no meu tempo de jovem era dar uma volta na cidade).
Na volta, pelo sorteio, tive a sorte de sentar no banco ao lado do motorista (na ida, um pernalta com 1,88 m, tinha ido no meio no banco — se é que se pode chamar aquilo de banco). E eu havia levado uma calibre .12, espingarda emprestada por um amigo santista. E lá estava ela, entre as pernas, quietinha, mas carregada.
Foi quando, depois de uma curva, o pneu direito da frente estourou. Foi um barulho seguido batidas na caixa de roda. Quando o dono do carro desceu logo gritou: é assalto! Tinha uma tábua com pregos presa à roda.
E logo apareceram dois sujeitos mal-encarados, cada um com um porrete na mão, perguntando se precisávamos de ajuda. Desci do carro, com a “12” escondida pela porta e falou que eles poderiam ajudar sim, trocando o pneu furado. E, quando eles se aproximaram, rindo, mostrei a arma e a engatilhei. Tinha duas balas que fariam um grande estrago se usadas.
Ao virem aquilo apontado para eles, ameaçaram correr, mas eu logo gritei: por favor, não corram, ajudem a trocar o pneu. Os três que estavam no banco de trás saíram do carro, os dois trocaram o pneu e dissemos que eles deveriam seguir na direção contrária a que nós seguiríamos.
E assim foi feito, sem nenhum tiro disparado.
No centro de São Paulo
Essa é mais uma história que vivi, em razão do meu amor pelo rádio, desde pequeno, quando morava em Ponte Nova, MG e ouvia “Alvarenga e Ranchinho”, “O Direito de Nascer”, “Edifício Balança, Mas não Caí”, “Jerônimo, o Herói do Sertão,” entre outros. Quando morando no Rio, frequentei o auditório da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, programa “César de Alencar”. E também ouvia a Rádio Relógio Federal, que dava as horas a cada minuto (que tinha como “fundo musical”, o tique-taque do relógio) e, no seu saguão de entrada, uma vez vi o faquir Silk, que ficou muito dias sem comer, com um monte de cobrar circulando pelo seu corpo. E ele deitado numa cama de pregos. Isso faz 70 anos.
Trabalhava — de 1980 a 1983 e depois fui para a GM — em O Globo (Sucursal de São Paulo) no Conjunto Zarvos, na esquina da Consolação com a São Luís e saia de lá entre 7 e 8 da noite. Entrava no meu Chevette vinho e ia para casa. Neste horário, só tinha para ouvir “A Voz do Brasil”, mas eu ouvia.
Um dia resolvi experimentar as Ondas Curtas que o rádio oferecia. Era daqueles com botões que se usava para marcar o lugar das suas cinco estações preferidas. Percorrendo o dial em busca de algo para ouvir, ouço uma voz grave anunciando “Rádio Nacional de Praga, na Checoslováquia (a Checoslováquia nasceu da união das nações checa e eslovaca e, em 1993, dividiu-se em dois estados: República Checa e República da Eslováquia) em seu programa de língua portuguesa para o Brasil.
O programa era exatamente no horário da “A Voz do Brasil” e atendia pedidos de música por parte de brasileiros, que moravam fora ou aqui mesmo. Em um dia, o locutor diz que recebeu um pedido (por carta, claro) de um ouvinte do Recife para tocarem uma música de Chico Buarque.
—“Como não temos esta música, vamos tocar “A banda”, grande sucesso deste compositor brasileiro.
O apresentador não era brasileiro (pelo menos, pelo sotaque, não parecia ser) , mas sua dicção beirava à perfeição.
CL
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