Recentemente, ao participar de Track Day em Interlagos com meu Corsa GSi 1,6-l 16v 1995 notei que o motor começou a superaquecer e mesmo reduzindo o regime de rotação e mantendo o carro rodando, a temperatura demorava a baixar, indicação clara de que havia alguma coisa errada com o sistema de arrefecimento. O carro tem 90 mil km com manutenção em dia. O líquido no reservatório de expansão estava limpo, portanto o primeiro diagnóstico era que a bomba d’água poderia estar com baixa vazão, uma falha frequente nos motores GM família 1.
Ao desmontar o sistema foi identificado que o problema era no radiador. Os tubos por onde circula a água estavam semientupidos, dificultando esse fluxo, e não fazendo seu papel de trocar calor com o ar externo. Solução foi substituir o radiador, e para aproveitar já foi uma bomba nova, válvula termostática e mangueiras, evitando surpresas futuras.
Em conversa com meu amigo Chico Lelis (fomos colegas na GM) colunista do AE e que coassina esta matéria, ele contou que teve um problema similar com um Fiat 147 nos anos 1980. Ao trafegar pela rodovia Rio-Santos, no trecho de Bertioga, antes do asfaltamento definitivo e sob chuva, ocorreu o entupimento da colmeia do radiador, dificultando a passagem de ar, e prejudicando o arrefecimento.
Mas no seu caso o problema só apareceu no dia seguinte, pois ao deixar o carro parado ocorreu condensação de umidade no distribuidor, impedindo a partida pela manhã — falha comum no Fiat 147 devido ao distribuidor ficar muito exposto. Ao chamar auxílio, o mecânico viu que o radiador estava com a colmeia em grande parte fechada com lama endurecida, e se tivesse funcionado o carro e subido a serra, provavelmente teria um superaquecimento e até maiores danos.
Em nosso bate-papo começamos a pensar na importância do radiador e sua longevidade, pois é um dispositivo para efetuar troca de calor entre dois meios, podendo ser água/ar como no caso dos radiadores de arrefecimento de motor, mas podem ser aquecedor ar-água no sistema de calefação interna de carros, residências e até indústrias. Lembramos que há muito tempo esse princípio de troca de calor é utilizado para aquecimento de ambientes em locais de clima frio.
Os veículos de alto desempenho utilizam radiadores para resfriar o óleo do motor, do câmbio e até do combustível já foi visto por aí. Os modernos motores turbocarregados usam o mesmo princípio no interresfriador para resfriar o ar já comprimido — o ar aquece sob compressão, princípio da ignição nos motores Diesel —, para ganho de eficiência volumétrica por ficar mais denso. O mais tradicional é sistema ar-ar, onde o fluxo de ar externo resfria o ar comprimido no seu interior, mas há também o sistema ar-água, em que o próprio líquido de arrefecimento resfria o ar comprimido.
E lembrar que até motores arrefecidos a ar precisam de radiador de óleo na maior parte dos casos. Os motores boxer dos Fuscas e derivados são bom exemplo.
Não, você está enganado
Talvez você, que não seja um especialista em radiador, possa dizer, “ah, mas tem um produto que não precisa radiador, o carro elétrico!” Pois é, você está enganado, o carro elétrico também depende do radiador para seguir rodando. Como é que uma tecnologia tão avançada, tão “badalada” pode depender de algo que parece tão arcaico, que equipa o Ford modelo T, o trator mais antigo, o Corvette, o Renault 4CV “Rabo Quente”, e até o Lada. Como pode?
Pois é! Os carros elétricos não dispensam um radiador. A bateria de íons de lítio precisa trabalhar na faixa de 25 ºC a 28 ºC para sua maior eficiência, portanto precisam ser aquecidas ou arrefecidas, a depender da utilização e do ambiente em que está. Por exemplo, no Alasca precisam ser aquecidas, enquanto nos países tropicais precisam ser arrefecidas.
Outra curiosidade é que esse tipo de bateria ganha temperatura ao ser carregada e o mesmo acontece ao ser descarregada, e quanto mais rápido acontece um evento ou outro, maior é o nível de ganho de temperatura. Vem daí a necessidade de utilizar o velho e bom radiador para manter a temperatura em níveis adequados tanto para que sua química da bateria seja mais eficiente, quanto para prolongar sua a vida.
Vida longa aos radiadores e, principalmente, aos reparadores de radiadores, Quem nunca precisou de um, que atire a primeira pedra.
CL/GB