O intervalo de três semanas entre os Grandes Prêmios da Austrália (2/4, foto de abertura/Red Bull) e do Azerbaijão (30/4) criou um problema maior para o atual estágio de popularidade da Fórmula 1: sem corridas e sem treinos livres — estes proibidos há décadas — o espaço midiático que a categoria exibe desde que passou a ser gerenciada pela Liberty Media em setembro de 2016,, virou refém de notícias e análises, cenário no qual se encaixa a tradicional silly season expressão britânica que descreve um período em que nada de muito importante acontece, geralmente no verão (do hemisfério norte).
O tradicional espaço de algumas semanas no meio da temporada, quando começam a circular rumores sobre o futuro dos pilotos, foi antecipado para abril e a Ferrari aproveitou a ocasião para emitir sinais de que a punição imposta ao espanhol Carlos Sainz no GP da Austrália ainda não foi digerida pela Scuderia (ver adiante)
O inglês Lewis Hamilton é o principal nome de uma lista de pilotos ainda sem contrato para 2024. Se até algum tempo atrás sua idade (38 anos completados dia 7 de janeiro) equivalia a um sinal de aposentadoria, o espanhol Fernando Alonso, que fará 42 anos dia 29 de julho, mostrou que isso está longe de ser motivo para se aposentar. De uma forma ou de outra, Hamilton vive um processo de restauração: afastado da luta por um oitavo título devido ao ineficiente carro que a Mercedes lhe ofereceu em 2022, este ano a situação parece melhorar: ele foi segundo no conturbado GP da Austrália, em Melbourne.
O dinamarquês Kevin Magnussen e o alemão Nico Hulkenberg são outros veteranos sem lugar garantido nos grids de 2024. A permanência de ambos na equipe Haas está condicionada a uma temporada que transferir o time americano do fundo do pelotão até o grupo de equipes que disputa o quinto ou sexto lugar entre os Construtores. Posto que a Haas consolidou a imagem de decisões pouco usuais com relação aos seus pilotos, o futuro de Magnussen e, principalmente, o de Hulkenberg estão longe de ser considerados seguros.
Da nova safra de pilotos o nome em evidência é o do japonês Yuki Tsunoda, que faz sua terceira temporada na categoria. Após uma estreia promissora no GP do Barhein em 2021, quando marcou dois pontos ao terminar em nono lugar, o piloto nascido em Sagamihara e pupilo da Honda envolveu-se em vários acidentes e percorreu um caminho acidentado. Apesar de tudo ele continua apoiado por Franz Tost, o líder da equipe AlphaTauri.
Situação mais delicada envolve o chinês Zhou Guanyu, o holandês Nick de Vries e o americano Logan Sargeant. Guanyu tem a seu favor o fato de ser chinês, mercado importante e no qual a F-1 está para se consolidar como evento popular. O fato de a Audi ter comprado 50% das ações da equipe Sauber, onde o chinês faz dupla com o finlandês Valtteri Bottas, desenvolver um projeto que estreará em 2026 com força total certamente irá interferir no seu futuro.
Após uma estreia marcante no GP da Itália de 2022, quando foi chamado pela equipe para substituir Alex Albon acometido de apendicite, Nick de Vries novamente foi lembrado pela sorte no processo iniciado com a mudança de Fernando Alonso da Alpine para a Aston Martin: ele acabou ocupando a vaga de Pierre Gasly na equipe AlphaTauri. A atuação que lhe rendeu o nono lugar em Monza ainda não se repetiu e ele tem andado atrás de Yuki Tsunoda e é o último colocado na tabela de pontos.
Tal qual Guanyu Zhou, o estadunidense Logan Sargeant também tem em sua nacionalidade um fator importante para permanecer na categoria. Sem resultados impactantes na sua passagem pelas fórmulas de promoção, Sargeant tem seus fracos resultados desde ano creditados mais à pouca eficiência da equipe Williams, que vive um cenário oposto à pujança técnica e competitiva de outros tempos.
O brasileiro Felipe Drugovich, campeão da F-2 em 2022 e terceiro piloto da equipe Aston Martin, acompanha com atenção o futuro desses pilotos sem contrato definido para 2024. Uma vaga nas equipes menores é sua maior chance de ser confirmado como piloto titular na F-1.
Já a Ferrari voltou a alfinetar a FIA com relação à multa imposta à Red Bull, equipe que excedeu o teto de gastos durante a temporada de 2022. A atitude é uma clara manobra política para tentar recuperar o quarto lugar de Carlos Sainz no GP da Austrália. Nessa prova o espanhol foi punido com cinco segundos em seu tempo total de prova por ter sido considerado pelos comissários desportivos o causador do acidente que provocou a terceira bandeira vermelha dessa corrida.
WG
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