Lá se vão quase oito anos desde que escrevi aqui neste espaço pela primeira vez. Lembro de um único comentário não apenas misógino, mas especialmente bobo, de um leitor que postou algo assim como: mulher e carro, juntos, imagine, não vou nem ler.
Pois é, talvez essa pessoa não tenha mesmo lido nenhuma das minhas colunas e tenha conseguido se manter isolado do tema ”carro” escrito ou comentado por mulheres, mas agora ficará ainda mais difícil separar os dois: o grupo RPoint e a Renault inauguraram a primeira concessionária da marca totalmente atendida por mulheres, batizada de Women@RPoint.
Quando digo todas mulheres é isso mesmo: desde a área comercial, entrega de veículos, venda de peças até oficina mecânica para pequenos reparos e serviços rápidos – todas são atendidas exclusivamente por pessoas do sexo feminino, num total de 15 mulheres. A concessionária fica no bairro paulistano da Casa Verde e faz parte do grupo RPoint que tem outras três unidades onde trabalham homens e mulheres — aliás, foi para algumas delas que foram transferidos os homens que estavam na unidade que agora virou feminina, mas que já funcionava no mesmo local há muitos anos — antes era a Grand Brasil até a compra pela RPoint. Ninguém perdeu o emprego para uma mulher, é bom que se diga.
E qual foi o maior problema de se criar uma unidade assim? Milene Sipas, diretora comercial da marca Renault do grupo RPoint não tem dúvidas em apontar: falta de mão de obra. Para driblar essa dificuldade, o grupo capacitou o pessoal no Centro de Treinamento Renault Academy e as mecânicas também fizeram cursos no Senai. Mas, de fato, não é apenas mão de obra qualificada feminina que está em falta, mas mão de obra qualificada em geral, independentemente do gênero, diz Milene. “Temos vagas em aberto para vários tipos de profissionais, e nenhuma é específica para mulher ou homem”.
“É a realização de um sonho”, disse ela, emocionada, no dia do anúncio da primeira concessionária Renault totalmente feminina no Brasil. E contou que vinha trabalhando a ideia desde dezembro de 2021. Há 20 anos a Renault aderiu ao Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) com a implementação de dez princípios que se aplicam a todas as unidades da marca no mundo e em 2015 foi a primeira fábrica de veículos da América Latina a aderir aos Women´s Empowerment Principles (WEPs), os princípios de empoderamento (OK, detesto essa palavra, mas é uma sigla e não quis alterá-la) da ONU.
“A Renault acredita que a diversidade gera mais criatividade e inovação, e isso contribui diretamente para o negócio”, disse Gustavo Ogawa, diretor de Vendas e Rede da Renault no Brasil, “e a unidade Women@RPoint nos mostra que há espaço para aprender e evoluir constantemente”.
Não é apenas a revenda que se mostra interessada em aumentar a participação feminina. A fábrica francesa também tem uma preocupação nesse sentido. “É questão de ‘awarness’ (algo assim como conscientização) para a marca”, afirma Bruno Hohmann, vice-presidente comercial da Renault no Brasil. Segundo ele, hoje a fábrica tem 6% de mulheres operadoras de linha de montagem e pretende chegar aos 10% até 2025. No grupo RPoint, a participação feminina também cresce constantemente. Hoje, 34% dos 120 funcionários são mulheres, diz Ricardo Geraldi, diretor do Grupo.
Segundo Milene, a opção por este modelo totalmente feminino não é uma questão de Marketing e sim “porque é o certo a se fazer”, mas o fato é que os números certamente ajudam a encampar a ideia, embora ainda não haja previsão de abrir novas unidades só com mulheres. O anúncio da Women@RPoint foi feito agora, no início de maio, mas ela já vinha operando há seis meses, sem alarde. Em abril deste ao, a unidade da Casa Verde ficou em segundo lugar em rentabilidade entre as concessionárias da marca em vendas e pós-vendas.
Além dos cursos na academia da fábrica francesa e no Senai, que, na verdade, fazem parte da rotina das concessionárias independentemente de o funcionário ser homem ou mulher, não houve nenhum investimento específico. A iniciativa foi mais uma questão de vontade e de querer fazer acontecer. Milene conta que houve, sim, alguns preconceitos de clientes e entre os funcionários, mas acredita que aos poucos eles acabem.
E quanto às mulheres mecânicas da concessionária? Aguardem a próxima coluna, pois tive uma deliciosa conversa particular com elas que renderá outra coluna com histórias muito interessantes.
Mudando de assunto: mais uma piadinha bem do jeito que eu gosto:
DEPOIS DE 20 MINUTOS GRITANDO COM O MOTORISTA PARA PARAR O CAMINHÃO PORQUE A VACA IA CAIR, ELE ME GRITOU QUE ERA UMA PINTURA….
NG
A coluna “Bisão feminina” é de exclusiva responsabilidade de sua autora.
Nota: Esta coluna é publicada quinzenalmente às quartas-feiras, excepcionalmente o foi nesta quinta-feira