Na última segunda-feira, 8 de maio, a Anfavea apresentou na coletiva de imprensa os resultados do mês e do quadrimestre. Márcio de Lima Leite, presidente da entidade, esmerou-se em demonstrar como os números indicam melhoras nas vendas, quando na verdade não há essa melhora.
De fato, a praxe da comparação com mesmos mês e quadrimestre do ano passado de nada serve, a base estava ruim, a carência de semicondutores ainda estava em seu auge, coisa que só foi arrefecer depois de julho.
Mostrou também que o varejo nestes primeiros quatro meses segue patinando, financiamentos representam menos de 30% das vendas, crédito é escasso e inadimplência, elevada. Surpreendeu ao engrossar o coro do governo e da sua base fanática de apoio quando se queixou da Selic e BC, que impede os juros para financiamento baixarem e dar novo fôlego ao mercado. Ameaças veladas de riscos de cortes de postos de trabalho no ar.
É normal haver controvérsia quanto as taxas de juros, em vários países que vêm enfrentando picos inflacionários pós pandemia, seus BCs estão atuando de forma parecida e aqui a gritaria aumentou principalmente depois que a inflação mostrou sinais de recuo. Os gritos irracionais de seguidores de seita ecoam nas redes sociais e o BC tem sabido manter a frieza e calma necessárias. Evidente que todos querem redução dos juros e mercado de volta, mas pior seria um repique inflacionário.
Márcio de Lima Leite foi enfático ao afirmar que os financiamentos não voltarão a subir enquanto a Selic não baixar. Ok, mercado segue andando de lado e com ajuda das locadoras para segurar volumes.
Abril foi marcado também por nove paralisações na produção dos fabricantes, que se ajustavam à nova realidade da demanda e por grande queda de emplacamentos de pesados, isso por conta das novas leis de emissões de gases Euro 6, que entraram em vigor janeiro último. Como os estoques de Euro 5 (fabricados até dezembro do ano passado) se esgotaram quase totalmente, o preço mais elevado dos caminhões e ônibus Euro 6 impactou bastante o segmento pesado.
Na apresentação teceram comparações com a passagem de Euro 3 para Euro 5, de 2011 a 2012. Ocorre que naqueles anos, houve forte antecipação de compra, o recorde de emplacamentos de todos os tempos pertence a 2011 e a queda total de vendas em 2012 foi da ordem de 40%. No ano passado a escassez de microchips e também a desaceleração da economia (nota deste colunista) impediram que houvesse esse antecipação de compras, portanto não se espera outros 40% de queda nas vendas; eu mesmo acredito que por várias semanas ela deve ficar em torno de -30% e fechar o ano com pouco menos que isso.
Ao todo, em abril, venderam-se 160.730 autoveículos, uma queda de 19% com relação a março, porém com 22% de dias úteis a menos, portanto o ritmo de emplacamentos diários ficou bastante próximo. Foram 118.177 automóveis e 33.320 comerciais leves e 8.963 comerciais pesados. Somando doze meses, voltamos aos dois milhões de leves, quase 50% do que foi em 2013.
Comparando com o ruim abril de 2022, houve uma melhora de 8% na venda de automóveis e 26% na de comerciais leves, este último fortemente influenciado pelo lançamento da nova picape compacta da GM, a Montana, que estreou em março deste ano. Curiosamente o varejo de abril ficou pior que o de 2022, -5% (79.419 vs. 83.470) o que confirma que não fosse a disposição das locadoras, o mês teria ficado ainda mais comprometido.
O gráfico acima ilustra pouco melhor a situação, 64.497 automóveis e 11.728 comerciais leves faturados nas lojas (as vendas diretas não costumam passar pela rede de concessionários).
Quando olhamos somente os totais de licenciamentos de leves, em que o quadrimestre fechou com vendas 15% maiores que ano passado, podemos crer está havendo uma reação, que na verdade não está ocorrendo, como bem ilustrou o presidente da Anfavea em sua apresentação.
A tabela acima nos mostra que varejo total de leves avançou 2% e as vendas diretas 35%, com as altas mais significativas na Gm, 97%, VW, 283%, Honda, 252% e Nissan, 94%.
As conversas entre fabricantes e governo para reabilitar o setor ganharam novas agendas e manchetes, por enquanto mais especulação e não medidas concretas.
Coincidentemente após meu artigo sobre eletrificação de duas semanas atrás, o presidente da Anfavea fez convite para evento que irá tratar de … isso mesmo, como andam os passos para a mobilidade eletrificada, será no 14 de junho, boa oportunidade para quem acompanha o mercado verificar a sua agenda.
Ranking do mês e do quadrimestre
Fiat mantém-se à frente de forma confortável, foram 33.413 licenciamentos, depois Chevrolet, com 24.376, VW, 21.507, Toyota em 4º, com 14.278, Hyundai, Jeep, Renault. Nos quatro meses a marca italiana teve 130.056 unidades vendidas, Chevrolet 95.635, VW 81.222, depois a Toyota, Hyundai, Jeep, na mesma ordem. A tabela mais abaixo mostra comparações com respectivos mês e períodos do ano passado, quem mais ganhou, quem mais perdeu participação.
Nos automóveis Onix (foto de aberta) liderou novamente, com 7.376 unidades licenciadas, HB20 em 2º, bem próximo, com 7.143, Polo repaginado em 3º, Argo, Onix Plus, suves ainda são 4 dos dez mais vendidos. No quadrimestre Onix e Onix Plus em 1º e 2º, HB20 em 3º, depois Argo, Compass.
Nos comerciais leves, Strada segue forte em primeiro, novamente liderando o mercado total, com 8.051 unidades, seguida da Toro, com 3.812, Hilux, com 3.199, Saveiro, Montana, S10. No quadrimestre a Strada também lidera as vendas totais, com 31.823 unidades, depois Toro, Hilux, Saveiro, mesma ordem.
Semestre agitado e de menos lançamentos, o próximo será a nova Ranger, totalmente repaginada, geração nova e que oferecerá um V-6 alemão em seu pacote, aguardem novidades.
Até mês que vem!
MAS