Volto hoje a um assunto que me é muito querido, mas sobre o qual não tenho escrito muito ultimamente: trânsito e, especialmente, soluções para melhorá-lo.
Ao dar uma espiada nas redes sociais com foco em notícias, deparei-me (a ênclise do dia) com uma solução simples e muito eficiente para melhorar os congestionamentos em volta das escolas, especialmente nos horários de entrada e saída de alunos, porém, não apenas nesses períodos.(foto de abertura))
Uma cidade do Canadá está implementando um sistema de sinal chamado de “semáforo de redução de velocidade educativo”, numa tradução livre de “feu de ralentissement éducatif”, ou apenas Fred, para os amigos. O sinal fica sempre no vermelho e mudará para verde a cada vez que um carro se aproximar dele a 30 km/h ou abaixo disso.
O sistema está sendo testado na cidade de Brossard, em Québec. Segundo li em algumas entrevistas, a prefeita da cidade, Doreen Assaad “a beleza do Fred é que ele é um prêmio ao bom comportamento, e imediato. Não grava nenhuma informação privada, apenas detecta o veículo que se aproxima e mede sua velocidade.”
Os testes devem durar 90 dias e estão sendo feitos desde o início de maio numa rua que abriga uma escola, a Académie Marie-Laurier, que tem alunos de pré-escola, primeiro e segundo grau. No Canadá, o sistema foi instalado pela empresa Signalisation Kalitec.
“Como prefeita, cidadã e mãe, espero sempre poder melhorar a segurança de nossas crianças e de nossos cidadãos” (na verdade, ela disse “de nossas cidadãs e nossos cidadãos”, mas eu eliminei esse pleonasmo pseudomoderno e pseudoprogressista). “É uma preocupação de Brossard garantir a segurança de nossas ruas, assim como na maioria das ruas de Québec” Viram por quê eliminei o “cidadãs e cidadãos e usei apenas ‘cidadãos’? Se não, por coerência e para não deixar de ser inclusiva, a prefeita deveria ter usado nessa frase ‘garantir a segurança de nossas ruas, avenidas, alamedas, servidões, estradas, vielas…não?
Bem, voltemos à boa ideia inicial. Como ela funciona? Simples: a velocidade do veículo é detectada em tempo real pelo Fred. A frequência de retorno da onda que reflete sobre o carro em movimento determina a velocidade dele com grande precisão. O Fred mantém o sinal de trânsito sempre no vermelho e muda para verde quando o motorista trafega dentro da velocidade regulamentar.
No caso do projeto de Brossard, o veículo é detectado a cerca de 30 metros de distância e se a velocidade estiver dentro do previsto, o sinal muda para verde. Acima dessa velocidade, permanece vermelha — segundo a empresa Kalitec, para provocar uma reflexão no motorista.
Não encontrei informações sobre quando o motorista parado no sinal será liberado — imagino que somente quando outro veículo passar a 30 km/h ou menos. Para ter uma ideia do tamanho da crueldade e de quanto tempo o condutor teria para refletir, fui pesquisar o tamanho de Brossard: apenas 89.000 habitantes, pois é considerada um subúrbio de Longueil, a sudeste de Montréal. Nesse caso, o motorista pode ter que esperar um certo tempinho e minha dúvida é saber se ele vai usá-lo para refletir ou apenas para passar com o sinal fechado. Mas, vamos acreditar na humanidade e, especialmente, nos canadenses porque afinal eles são canadenses…
O sistema não requer instalações especiais, pois as placas são acrescentadas a sinais já existentes e são alimentadas por energia solar. Por princípio, a Kalitec diz que podem ser implementadas em vias de circulação de dois sentidos de direção ou em áreas em que o limite de velocidade seja de 50 km/h ou menos.
Dependerá dos resultados do projeto sua implementação definitiva ou não. No Canadá, Brossard é a primeira cidade a testar o sistema que poderá ser expandido a outras cidades. O interessante é que o sinal não está num cruzamento e que durante o teste não haverá multa para os infratores.
Os custos, no entanto, não são baixos. Cada aparelho custará 15.000 dólares canadenses (US$ 11.335,9) e o valor arrecadado com eventuais multas será repassado ao Ministério dos Transportes e da Mobilidade para integrar o sistema em outras localidades.
Em alguns países da Europa, como a França, já foram implementados sistemas como o de Brossard.
O que me atraiu na ideia é que ela premia o bom comportamento e não apenas pune o mau comportamento. Também mostra que nem sempre quem anda mais rápido chega antes. Lembra um pouco o sistema de “onda verde” usado em Buenos Aires e sobre o qual já falei por duas vezes neste espaço. Espero que por lá a ideia dê melhores resultados do que por estas paragens.
Mudando de assunto: Final de semana, mais uma vez, de muito brilho para Max Verstappen. Nem sei mais como elogiar a condução dele. Bem, se é para elogiar também tem a coragem e a confiança na equipe, porque parar a duas voltas do final para trocar pneus só para fazer a volta mais rápida quando tinha a vitória assegurada foi de uma coragem e confiança na equipe inacreditáveis. Acho que para o pessoal da Red Bull não haveria maior elogio do que fazer isso. O sujeito arriscou 25 pontos certos para fechar com 26 confiando em que o time vai fazer tudo certo. Autoconfiança é uma coisa, mas confiar tanto assim nos outros… Suei frio essas últimas voltas. Desta vez até a sprint race foi superemocionante. Ouço com frequência gente que diz que a F-1 está chata porque só um ganha. Bobagem. Já tivemos outros anos de domínio de outros pilotos ou mesmo de outras escuderias e essas mesmas pessoas não achavam ruim quando seu piloto de estimação ganhava —então, por que agora? Digo sempre a mesma coisa: se fosse apenas pelo resultado, não veria nem F-1 nem nenhum outro esporte. É como uma viagem: não se trata apenas do destino final, mas da jornada toda. E pilotos como Hulkenberg, Ocon e outros com menos brilho tem feito corridas extremamente emocionantes — sem falar nos Alonsos da vida.
NG
A coluna “Visão feminina” é de exclusiva responsabilidade de sua autora.