Seu sorriso é permanente. E lá se vão 44 anos que ele acompanha Irene Hinckel da Silva, ao volante de ônibus urbanos da Viação Piracicabana, na Baixada Santista. Ela já transportou milhares de passageiros, em todo tipo de ônibus — “até daqueles que tinham uma enorme alavanca de câmbio e uma embreagem e direção muito duras”, diz ela, não em tom de queixa, mas nostálgico, pois como afirma, “a vida é muito boa para a gente ficar se queixando do que ela nos oferece”.
Mas, depois de conduzir por algum tempo um modelo híbrido, de tamanho convencional, hoje Irene “pilota”, das 6 às 13 horas (com uma hora de parada para o lanche, que é sempre um belo pastel de carne, em uma pastelaria no Centro da cidade) um micro BYD (que só foi fabricado, em Campinas, entre 2016 e 2017) 100% elétrico, com capacidade para transportar 22 passageiros sentados e 20 de pé, que pagam R$ 5,25 pela passagem.
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Ela gostou da mudança. Afinal, como justifica, “não tem embreagem, não se troca marcha e o silêncio, junto com o conforto, fazem muito bem para mim e para os passageiros”, lembrando que a maior diferença está no silêncio do motor, já que na empresa existem ônibus automáticos.
Irene gosta de dirigir, como todos os membros da família, todo mundo trabalhando no ramo de transporte. Uma das irmãs, por exemplo, é motorista de carreta e viaja por todo o Brasil, dirigindo de salto alto. Antes de motorista, tentou fazer corte e costura. “Não durou mais de quatro meses e fui tirar minha CNH para ser motorista de ônibus”.
E isso ela faz com prazer. Trata os passageiros como se fossem únicos. Se percebe que um deles tem dificuldade de locomoção, fica atenta ao retrovisor e não dá a partida antes da pessoa sentar.
E essa gentileza toda é retribuída pelos passageiros que a tratam pelo nome, perguntam como vão os filhos. Muitos, passageiros de outras linhas, acenam para Irene, que sempre responde com um gentil sorriso. Maria Cícera da Conceição (foto ao lado), por exemplo, que sempre pega o “20”, foi até o “ponto final” na praça Mauá, para cumprimentar a motorista, pelos seus 44 anos de profissão, sempre da mesma empresa.
Há quem passe por lá pedindo para fazer uma foto com ela e quem reclame que ela mudou de linha e a deixou com muita saudade.
Mas nem tudo foi fácil. Ela conta que no começo da carreira, 40 anos atrás, muitos colegas a olhavam com ar de desconfiança, mas que, com o tempo, foi se impondo pelo seu profissionalismo e gentileza.
Irene conta que são muitas as mulheres motoristas — “não sei quantas”, ressalta — na empresa. Muitas delas eram cobradoras e a empresa deu a elas a oportunidade de tirar a CNH e passarem a dirigir os ônibus.
O que também chama atenção em Irene é a sua elegância. Cabelos bem arrumados, óculos modernos, uniforme impecável, ela adora o que faz, mesmo tendo que acordar às 4 da manhã e sair de sua casa para chegar a tempo na garagem para pegar o seu pequeno ônibus e partir para mais um dia de trabalho.
CL
A coluna “Histórias & Estórias” é de exclusiva responsabilidade do seu autor .