Alemanha: celeiro de preparadores de motores
Que a Alemanha é um celeiro de preparadores de motores, nenhum autoentusiasta pode contestar. Foi lá, inclusive, que a atividade se popularizou na década de 1950. E um dos pioneiros preparadores foi Gerhard Oettinger (1920-1997), que em 1951 fundou a empresa Okrasa (acrônimo de Oetingers Kraftfahrttechnische Spezial Anstalt) e na época se especializou em modificar e “vitaminar” o Fusca e seu motor pouco potente.
Como curiosidade, ao definir o nome de sua empresa, Oettinger se baseou deliberadamente na marca Okasa, uma pílula para fortalecer a virilidade e que é popular na Alemanha desde a década de 1920 até hoje. Antes mesmo de criar a Okrasa, ele havia desenvolvido aprimoramentos em componentes para aumentar a potência do motor VW de 1.131 cm³, de apenas 25 cv, com alterações na carburação, no comando de válvulas e cabeçote.
Considerado o “Pai de todos os Preparadores”, Gerhard Oettinger fez escola e é reverenciado por uma legião de especialistas. Na Alemanha, atualmente, além das empresas tradicionais de preparação, como a própria Oettinger (não usa mais a marca Okrasa), Alpina (especializada na linha BMW), Brabus (especializada em modelos Mercedes-Benz), também existe uma série de empresas menores, mas como muito talento e tecnologia.
BMW M3 E30 com motor seis em linha turbo
Estas empresas desenvolvem projetos tanto para modelos atuais e também para os que já saíram de linha. Como é o caso da Manhart Performance, de Wuppertal, que fez uma releitura que pode ser definida como “restomod” do icônico BMW M3 E30, que fez muito sucesso nas décadas de 1980 e 1990, não só comercial, mas também nas pistas conquistando mais de mil vitórias e cerca de 60 títulos em diversos campeonatos.
Para começar, a Manhart trocou o motor original de quatro cilindros, 2,3 litros, aspiração atmosférica de alta rotação, com potência de 200 cv, por um seis em linha, 3,5 litros, turbocarregado, do “tunado” Alpina B7 S Turbo, originalmente com potência de 330 cv e torque de 51 m·kgf. A Manhart faz questão de ressaltar que também se trata de um motor de época, original do Série 5 E12, para procurar acalmar os puristas fãs do primeiro M3.
A Manhart, inclusive, também se defende afirmando que já fazia este tipo de modificação, na época, nos M3 E30, utilizando motores M de seis cilindros do E28 M5 (M88) ou E34 M5 (S38) fabricados na ocasião. A mudança de motor é acompanhada por um novo turbocarregador KKK, novo interresfriador, além de escapamento desenvolvido pela própria Manhart. A modificação aumentou a potência para 405 cv e o torque, para 66,3 m·kgf.
A potência do motor é transmitida às rodas motrizes traseiras por meio de câmbio manual de cinco marchas e diferencial Drexler, com freio multidisco de 25%, e arrefecimento adicional. A suspensão monotubo H&R, de mola e amortecedor concêntricos, típica de competição, proporciona aderência e dirigibilidade. Rodas de liga de alumínio Manhart Concave One com o desenho clássico de raios duplos são de 19 polegadas montadas com pneus 215/35R19, na dianteira e 245/30R19, na traseira.
O visual da carroceria foi mantido basicamente original. Pintado em verde fosco, com detalhes nos para-choques em vermelho, o modelo também ganhou um defletor na dianteira e outro na tampa do porta-malas, ambos confeccionados em compósito de fibra de carbono, e que procuram fazer referência aos componentes que foram utilizados na última versão do M3 E30 denominada Sport Evolution.
O interior revestido em couro vermelho cardeal contrasta com o painel e o console em preto. O volante esportivo Momo de três raios, típico da época, com diâmetro de 350 mm, e a alavanca de câmbio com pomo de madeira, tem o logotipo Manhart. A preparadora não divulgou preço, nem os dados de desempenho do modelo, mas destacou que o Alpina B7 S Turbo, com 330 cv, era o sedã mais veloz em sua época alcançando 260 km/h.
VW Golf com motor VR6
A HGP Turbo, empresa estabelecida em Ohmden, na região de Stuttgart, é especializada em transformar modelos VW Golf em “leões das Autobahnen” e na conversão extrema o motor original de quatro cilindros é substituído pelo VR6 R36 que, com os ajustes da preparadora, podem chegar até 780 cv. Na conversão especial para o motor de 3,6 litros, com a adição de dois turbocarregadores, a potência é de 740 cv e o torque, de 94,4 m·kgf. Mas também é oferecida a “versão +” com 780 cv.
O motor novo, além dos dois turbocarregadores HGP R28 também tem redução da taxa de compressão com placa intermediária de aço e retrabalho nas câmaras de combustão e nos pistões. O tubo de admissão de alumínio fundido de grande volume tem bicos injetores adicionais, e além do interresfriador a unidade de controle do motor foi modificada.
O modelo, entretanto, não tem opção de câmbio manual e vem com o robotizado dupla-embreagem de sete marchas (DQ500) do Audi RS 3, além do software modificado. Freios, discos dianteiros de Ø 400 mm com pinça de seis pistões mm e traseiros de Ø 355 mm com pinças de dois pistões. A suspensão é modificada com componentes da KW Suspension e as rodas OZ Ultraleves de 19 polegadas são, montadas com pneus Pirelli P-Zero.
Conforme divulgado pela preparadora, na versão mais potente o Golf acelera de 0 a 100 km/h em 2,8 s, chega a 200 km/h em 7,8 s e a 300 km/h em 18,1s. A velocidade máxima divulgada é apenas “acima de 300 km/h”, algo excepcional para um Golf, mas o preço é bem salgado: 96.000 euros (R$ 520 mil), incluindo instalação.
Porsche 911 GTS ainda mais potente
Para a Porsche a sigla GTS significa maior esportividade e tentar superar a competência da engenharia da fábrica de Stuttgart pode parecer soberba. Mas a Techart Tuner, empresa também localizada na região de Stuttgart, em Leonberg, parece que tem essa pretensão, apesar de seu lema básico ser uma busca de individualização e refinamento de qualquer modelo Porsche.
Desde 1987, a Techart tem se esforçado neste objetivo e além de diversos componentes, de anexos aerodinâmicos para a carroceria em compósito de fibra de carbono e rodas de até 23 polegadas, a empresa também desenvolveu sistema de gerenciamento do motor denominado Techtronic, que aumenta a potência sem afetar o gerenciamento normal.
A operação dos gerencialmento Techtronic é intuitiva. Enquanto o modo de condução estiver Normal, o sistema fica inativo e o veículo opera com sua potência normal e suas características de direção de séria. Para ativar o aumento de potência, o motorista simplesmente muda do modo Normal para Sport ou Sport plus usando o botão no console central ou no volante.
E os ganhos são significativos. Com o Powerkit TA092/T2.1, a atualização de maior potência da Techart, aumenta em 60 cv a potência do 911 Turbo S, para 710 cv. Mas a preparadora também desenvolve componentes redimensionados, como os turbocarregadores. A Techart garante potência de até 810 cv e torque 98,9 m·kgf do motor turbo Porsche. Algo que, entretanto, pode superar a soma de 50 mil euros (270 reais);
RM