Impossível não se espantar com a ideia de identificar um suve de 4.713 mm de comprimento e 2.278 kg como um Mustang. Tal reação começa a se dissipar logo na primeira acelerada desse bimotor de potência combinada de 487 cv e torque de 87.7 m·kgf. Superadas as primeiras curvas, a distribuição de peso na base do meio a meio e as enormes rodas de aro 20 com pneus 245/45R20 reforçam a sensação de desempenho que seu ancestral evoca desde 17 de abril de 1964, quando surgiu o primeiro esportivo com esse nome.
Verdade que desde então alguns modelos do Mustang ameaçaram essa imagem de alto desempenho. No entanto, Carroll Shelby, Steve McQueen e, mais recentemente a Nascar, cuidaram para que tal constrangimento esvaísse discreta e definitivamente. Mesmo assim, ainda há quem sofra calafrios pelo fato a Ford emular a atitude da Toyota e da Mitsubishi em lançar versões suve de seus Corolla e Eclipse.
O antídoto para tamanha heresia é acelerar o Mustang Mach-E GT Performance fabricado em Cuautitlán, no México. Em casos graves, sugiro confirmar a coerência do emprego do nome unbridle, do idioma inglês que remete à expressão “sem bridão! (freio dos equinos na boca)” usada para descrever aqueles fogosos e, neste caso, pilotar com emoção. Tentar um 0 a 100 km/h nesse modo é sensação digna de um autoentusiasta que se preza. Nessa situação, os motores elétricos entregam 100% de torque até o carro alcançar 60 km/h, momento em que o torque vai diminuindo para preservar a carga da bateria e cai para 70% e 30% da potência gerada pelos motores traseiro e dianteiro, respectivamente.
O comportamento dinâmico nessa condição também é impactado pelas aberturas localizadas na parte inferior do para-choque dianteiro: quando os motores elétricos são mais exigidos, elas são abertas para aumentar o arrefecimento dos acumuladores de energia.
Se a primeira curva chegar rápido, acione os freios da marca Brembo (na dianteira apenas, na traseira, de fornecedor genérico), marca que reforça a condição de alto desempenho do modelo e contribui para dissipar a já combalida ideia de suve ser sem graça. A Ford posiciona corretamente o seu novo suve, disponível por R$ 486.000 em versão única, como concorrente do Audi e-Tron GT (R$ 769,990, 530 cv e 65,2 m·kgf), Porsche Taycan (R$ 617.950, 530 cv e 640 65,2 m·kgf) e BMW i4 (R$ 617.950, 544 cv e 81 m·kgf). Nenhum deles acelera mais que o mexicano em destaque neste texto: o Mustang faz de 0 a 100 km/h em 3,7 s, contra 4,1 s do e-Tron GT, 4,2 s do Taycan e 3,9 s, do i4 elétrico. Sua velocidade máxima é limitada em 200 km/h.
Em termos de alcance, igualmente vantagem para o americano: 379 km contra 308 km do Audi, 241 km do Porsche e 335 km do BMW, sempre segundo o Inmetro.
O Gerson Borini já fez uma completa e excelente descrição técnica do carro neste texto de apresentação explicando até detalhes que permitem obter um Cx de 0,292, como a substituição das ortodoxas maçanetas por botões e-Jet. Um simples toque e as portas são abertas. Tecnicamente cabe destacar algumas soluções de engenharia usadas para diminuir o peso total do Mustang Mach-E GT. Segundo Ariane Campos, supervisora de Engenharia da Ford Brasil, o alívio de peso do carro, 431 kg mais leve que o Mustang Mach 1, é um bom exemplo:
“O capô dianteiro é fabricado em alumínio, a porta de carga em polipropileno e as barras transversais do teto foram suprimidas. As quatro portas são de aço. O teto solar, o mais amplo do segmento, é construído com uma proteção contra raios ultravioleta e infravermelhos que impedem a temperatura externa de chegar ao interior e otimizam o efeito do ar-condicionado de duas zonas e controle digital.”
Mesmo pesando 2.278 kg a relação peso-potência deste Mustang é de apenas 4,7 kg/cv.
Nota: acesse a matéria do Gerson Borini para ler a ficha técnica e a lista de conteúdo do Mach-E.
WG