E você pode dizer, “como, e eu com isso”? Explico. É que em vez de pegar o 181, peguei o 118, o que significou uma volta de pelo menos uns 55 minutos maior que a do Circular certo. Valeu porque eu lembrei de uma coluna anterior, que falava do desafio aos pilotos da F-1 em pilotar micro-ônibus (foto de abertura) nos morros de Santos.
Bem, mas parece que o motorista “ouviu” minhas lembranças e “resolveu ser solidário” aos bombeiros, mesmo depois de ter vencido, sem um único erro, as mais de 70 curvas nos morros e errar também, não entrando, em determinado ponto do trajeto, à direita, na rua Saturnino de Brito. Não se ouviu uma gritaria, mas todos os passageiros falaram: “errou, motorista!” Daí, os palpites se seguiram: “entra na próxima, e de ré”.
Imediatamente um passageiro levantou-se e ajudou o motorista, falando que ele podia dar ré. E isso foi feito, até que chegou ao lugar que permitiu acertar o trajeto. E eu cheguei no meu ponto tranquilamente.
Os bombeiros também erravam!
Pois é, quando os passageiros falaram “errou”, logo me veio à mente a imagem do bonde 37, onde eu estava e que deveria seguir pelo Canal 1 (avenida Pinheiro Machado, em Santos), entrou pelo Canal 2 (avenida Bernardino de Campos), os passageiros gritavam: errou bombeiro, errou!
Bombeiro?
Sim, quando os motorneiros (como era chamado o profissional que conduzia os bondes) e condutores (nome dado aos cobradores) faziam greve, o Corpo de Bombeiros (sempre eles protegendo a gente) colocava alguns de seus sempre bravos soldados para evitar que a população ficasse sem o transporte público, como aconteceu com os paulistanos na semana passada, pela segunda vez neste ano. Só que os bombeiros não poderiam socorrer a população da Capital, porque o funcionamento do metrô é algo muito complexo para quem não tem especialização no assunto.
Mas em Santo, o bonde era simples de conduzir (lembro que, quando moleque, eu e amigos “roubamos” um bonde), basta controlar a manivela que determina velocidade (a maior, a 8 pontos, deveria ser uns 40 km/h) e a que freava o bonde, a ar. E, no tempo dos bombeiros, como explica Marcos Rogério Nascimento, responsável pelos bondes em Santos, era um sistema que incluía uma corrente que acionava as sapatas de freio que agiam diretamente nas rodas.
Bem, voltando ao erro do bombeiro. É que haviam algumas bifurcações e o motorneiro tinha que parar o bonde e, usando uma alavanca, chaveava o trilho, determinava a direção a seguir. No caso, deveria seguir em direção ao Marapé e o bombeiro não parou para chavear a linha que estava virada para o Canal 2 e não para o Canal 1. E, como não havia como voltar, todo mundo descia e esperava pelo outro bonde, que era o 17, que deveria ir para o Canal 2. E, então, eles trocavam, o bonde 17 seguia para o Marapé, fazendo o trajeto que deveria ser do 37. E este seguia para o Campo Grande.
Uma curiosidade é que muitos passageiros faziam questão de pagar a passagem, mesmo que não fossem obrigados, porque nesses dias era o que hoje chamamos de “catraca livre”. Era uma forma de agradecer aos bombeiros que não os deixavam na mão.
CL
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