Minha primeira ida à Volkswagen deu-se quando eu estava na sucursal de O Globo, ali no conjunto Zarvos, na esquina da av. Consolação com a av. São Luís, que abrigava no térreo a Agrodora, uma precursora das pet shops de hoje, vendendo produtos para animais. E lá estavam, todos os dias, dois enormes patos que ficavam passeando pela calçada defronte da loja.
Faltavam 40 anos para a fábrica completar 70 anos de Brasil, o que se deu em 2023. Quando entrei, pela primeira vez, na fábrica da Volkswagen. Mauro Forjaz era o chefe da Imprensa, que tinha grandes personalidades do setor, como Lionel Dias e Zenon Garrote Sierra. Todos comandados pelo diretor da área, Walter Nori. Havia também uma secretária, a gentil Felícia e a competente tradutora, Ingrid. Mas ninguém lembra dos seus sobrenomes.
Mauro era um jornalista veterano, com passagens por grandes jornais brasileiros, como o Jornal do Brasil (codinome JB); Zenon era seu braço direito, sempre com seu cabelo caindo nos olhos. E Linoel era o príncipe do departamento, que tratava a Imprensa como nunca se vira antes ou depois. Saudades!
Acima de todos eles estava Wolfgang Sauer, o presidente que nada perdia em simpatia para o seu pessoal de Imprensa. Adorava charutos — cubanos, naturalmente — e vivia lembrando sua “brigas” com Joseph Sanchez, então presidente da GM que, todo ano, anunciava que sua marca iria ultrapassar a VW, mesmo sabendo que naquela época isso seria impossível, pela falta de capacidade de produção da fábrica de São Caetano do Sul.
Sauer tinha o hábito de dormir durante suas idas e vidas de carro, entre São Bernardo do Campo e São Paulo, ou mesmo dentro da enorme área da fábrica. Ele chegou fazer um curso em que conseguia dormir, mesmo se a “viagem” não chegasse aos 20 minutos.
Mas a porteira era mal-humorada
Mas nem tudo era sorriso na VW. Lá existia uma verdadeira “sargento da Gestapo” que não sabia o que era bom humor. Com uniforme ela praticamente “rosnava” para as pessoas. E tinha um agravante, todos deveriam ser fotografados para adentrarem à fábrica. Era uma “engenhoca” que fazia fotos que seriam reveladas posteriormente para os arquivos. E, ai de quem ousasse brincar na hora do clic, como eu e meu amigo Josias Silveira (já contei essa história aqui no site) fizemos uma ou duas vezes. Fomos ameaçados de sermos proibidos de entrar na VW. E o Mauro Forjaz disse que isso podia acontecer, porque ela tinha esse poder.
Mas ela não conseguiu impedir que jornalistas, como eu e muitos outros, da Folha, Estadão, Gazeta Mercantil, Diário Popular e o pessoal das rádios entrássemos para participar de uma assembleia que foi realizada no pátio da fabrica nos anos 80, quando o movimento sindical imperava no ABC e Lula dava início à sua carreira de sindicalista/político. Com macacão emprestado pelos “peões” e caminhando abaixado pois, minha altura, 1.88 m, poderia me denunciar, assisti à assembleia.
Voltei muitas outras vezes à VW, que foi ficando cada dia mais velha, como eu, e tendo mudanças na sua área de Comunicação. Depois, quando fui para a GM, certa vez pedi ao diretor da área, o jornalista Miguel Jorge, ex-Estadão, que me emprestasse um Santana, o modelo luxo da VW. Gentil, ele me emprestou o carro. Quando cheguei na fábrica em São Caetano. André Beer, meu querido e ex-vice-presidente da GM, vendo o carro do “inimigo” na vaga, quis saber quem estava com ele. Sabendo que era eu, me chamou à sua sala e perguntou, indignado, o que eu estava fazendo com “aquilo”.
— André — respondi— se eu não andar, como é que vou poder falar mal do “inimigo”?
Depois, quando no Diário do Comércio, o falecido jornal da Associação Comercial de São Paulo, onde fiz bons amigos, fui várias vezes à VW em São Bernardo, sempre recebido com a gentileza pela equipe da Imprensa época da Imprensa. E, aí, a “sargento da Gestapo” não mais fazia parte do pessoal da portaria e o tratamento era educado.
CL
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