Aproveitei o feriado de carnaval e o final da minha quase interminável faringite para curtir filmes e séries. Vi, finalmente, “Gran Turismo: de jogador a corredor” (já disse que detesto esses subtítulos que sempre colocam nos filmes aqui no Brasil?). Se gostei? Achei um bom passatempo, tipo uma “Sessão da Tarde” fofinha, com boas cenas de corrida e, o mais legal, é que é baseado numa história verdadeira. Pois é, por incrível que pareça, houve um jogador de videogames que passou a piloto de carros de corrida com relativo sucesso – o próprio Jann Mardenborough que, aliás, faz o papel de dublê dele mesmo no filme. Pena que o filme passa meio ao largo dessa parte da história. Acho que se perdeu uma oportunidade de mostrar um pouco mais essa parte da trama que, sem dúvida, era muito interessante.
É claro que atualmente os simuladores são muito mais precisos do que os videogames como o PlayStation que inspirou o filme e suspeito que essa passagem hoje seria mais viável. Mas o que mais senti falta no filme é que ele não mostra que, na vida real, Mardenborough foi para os games porque não tinha como bancar os carros que ele queria realmente pilotar. Ou seja, o videogame acabou sendo o caminho e um treinamento para fazer aquilo que ele sempre quis fazer e não uma consequência (foto de abertura).
Também acho que passa um pouco batido como Jann consegue a vaga para virar piloto. Não dá para tirar o mérito de um rapaz que, aos 19 anos, ficou à frente de 90.000 concorrentes e com isso conseguiu uma oportunidade de ter uma vaga na então recém-criada academia GT, uma iniciativa da Nissan que queria levar jogadores de videogame para pilotar carros de verdade. Acaba parecendo algo meio fortuito e não fruto de treino de muitíssimo tempo, praticamente obsessivo.
Como coisa folclórica do filme, os candidatos finalistas são, entre outros, um alemão, um francês, um espanhol, um coreano, um britânico, um americano, uma mulher e, como único representante latino-americano, um argentino. Também como curiosidade, o ator que faz o papel do piloto argentino é realmente um ator argentino.
O treinador dos candidatos a piloto é o típico sujeito bravo, mas que no fundo é um paizão, que faz de tudo para que seus pupilos brilhem nas pistas, incluindo (alerta de spoiler para quem não viu o filme) apelar para a música favorita do piloto numa hora-chave. Mas, como disse, é uma “Sessão da Tarde” que funciona. Um bom passatempo e com cenas bacanas de corridas e muitos detalhes do interior dos carros, especialmente trocas de marcha e acelerações e freadas, incluindo várias com os dois pés. Fora que é sempre um prazer ver circuitos como Le Mans ou Nürburgring. Não é surpresa que o filme seja empolgante e passe rápido, quase na velocidade dos carros, pois foi dirigido pelo sul-africano Neill Blomkamp, o mesmo do ótimo Distrito 9 – acho até que este é o primeiro filme dele que assisto que não tem uma crítica social, mas confesso que gostei de todos.
Outra curiosidade do filme é que ele se mantém dentro do ambiente automobilístico até indiretamente: quem faz o papel da mãe de Jann (papel do ator britânico Archie Madekwe) é Geri Halliwell Horner, a ex-Spice Girl e atual esposa de Christian Horner, chefe da equipe Red Bull de Fórmula 1.
No final das contas, como autoentusiasta, gostei do filme, mas acho que os fãs de games vão curtir ainda mais do que os fãs de carros. Especialmente os fãs dos games mais antigos — ou vintage, por assim dizer. Ainda assim, vale a pena conferir.
Mudando de assunto: ultimamente tenho reclamado muito da falta de conhecimentos técnicos da torcida mexicana a respeito da Fórmula 1. Mas devo registrar um comentário de uma brasileira que me deixou boquiaberta. A respeito da ida de Lewis Hamilton para a Ferrari ela postou que estava muito feliz pois adorava o britânico e “nunca perdoei a Mercedes por ter matado nosso querido Airton Sena” (sic e sic). Então, tá.
NG
A coluna “Visão feminina” é de exclusiva responsabilidade de sua autora.