Um grave acidente aconteceu no dia 20 último, em que uma carreta descontrolada descendo a serra da BR-116, em Guaratuba, PR, atingiu um van (foto) que transportava nove jovens gaúchos de uma equipe de remo. Todos faleceram, inclusive o motorista do van. No seu depoimento ao delegado encarregado do inquérito, o motorista disse não conseguia engatar as marchas.
Ele certamente sabia da importância do freio-motor, que no caso dos motores Diesel, de forma mais simples, precisa ser feito por um mecanismo no cabeçote que feche as válvulas de escapamento. Isso porque esse tipo de motor não tem a borboleta de aceleração dos motores de ciclo Otto (a gasolina ou a álcool), em que estando a borboleta de aceleração fechada esse motor de ciclo Otto ofereça alta resistência para o virabrequim girar. Essa resistência se chama freio-moto.
Numa comparação simplória, é como aspirar por uma só narina, faz-se uma certa força para isso, o que não acontece estando as duas narinas livres.
O freio-motor, no caso dos veículos pesados, os mantêm em velocidade controlada numa descida de serra, o que não acontece com os freios normais que, por funcionarem à base de atrito, se aqueceram rapidamente, o que levado ao perigoso efeito do fading, ou desvanecimento gradual, até que não haja mais atrito e o veículo fique literalmente sem freio.
O motorista da carreta deve ter tentado controlar o veículo pelo freio quando viu que não conseguiria efetuar as reduções de marcha, o que certamente teria ocasionado o fading.
O fading também pode ocorrer nos veículos leves, mas as consequências raramente são catastróficas. Nesses veículos é recomendável usar freio-motor nas descidas de serra mais para preservar os freios normais do que para evitar acidentes, embora estes possam eventualmente acontecer.
Por isso existe a velha regra de ouro de usar na descida a mesma marcha que se usaria para a subida.
Retardadores
Uma vez que os freios normais aquecem-se muito em uso prolongado, os veículos pesados, em especial os de grande capacidade de carga, 40 ou 50 toneladas, utilizam um equipamento chamado retardador, normalmente um potente freio hidráulico ou elétrico acoplado ao câmbio que o motorista aciona se desejar.
Há sistemas combinados de fechamento de válvulas de escapamento e retardadores.
“Freio-motor” nos carros elétricos
Carroe elétricos também têm freio-motor. Escrevi acima a expressão entra aspas porque o efeito não é proporcionado por motor no sentido estrito, mas quando esta muda função para gerador, no que se chama frenagem regenerativa — que não ocorre apenas quando se freia, mas quando se levanta o pé do acelerador.
No caso, o freio-motor decorre do esforço para gerar energia elétrica que será usada para recarregar a bateria de tração nas duas situações acima descritas. Inclusive, essa regeneração pode ser regulada pelo motorista, no sentido de quanto mais gerar energia, maior será o efeito frenante..
CL
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