Estava passeando pelo local da “festa” quando, de forma “ingênua”, olhei por uma janela e logo abaixo vi mais um carro que parecia ser uma Land Rover Defender, mas estava claramente diferente, cocei os olhos e, então, a verdade se descortinou: eu estava vendo – ainda um pouco de longe – o recém-chegado (e não anunciado) primeiro Ineos Grenadier que havia desembarcado no Brasil há bem pouco tempo.
E o “engraçado” é que num grupo de amigos no WhatsApp havia circulado a informação de que havia sido emplacado um Grenadier no Brasil, quando ainda comentei que gostaria muito de encontrá-lo para vê-lo ao vivo. E, claro, assim que entendi que eu, involuntariamente, havia conseguido chegar perto desse carro, foi para lá que corri para vê-o de perto.
E, por uma dessas coincidências da “vida” e não planejadas, fui a um evento de entusiastas de Land Rover e, mais especificamente, do Defender clássico. E foi quando um dos participantes “desvendou” que havia importado de forma “independente” o Grenadier, que ainda não tem concessionárias ou importação oficial no Brasil.
Mas, enfim, do que estamos falando exatamente, caso você ainda não saiba exatamente o que é o INEOS Grenadier?
Um pouco de história e contexto
O Land Rover Defender é, certamente, o grande ícone da Land Rover. Ainda mais quando na sua versão clássica. E, justamente, foi esse o carro que a Land Rover descontinuou no início de 2016 (falei sobre isso aqui) deixando uma legião de fãs órfãos (nos quais me incluo).
Mas o empresário britânico Jim Ratcliffe, proprietário do conglomerado INEOS que inclui empresas do setor químico e petrolífero, também um desses “órfãos”, se propôs a dar uma “sobrevida” ao Defender clássico com a ideia de manter suas linhas “clássicas”, mas o tornando moderno e adequado para os novos tempos — o que a Land Rover mesmo optou por não fazer, lançando em 2020 um New Defender totalmente remodelado e, para os entusiastas dos “clássicos”, perdendo a essência de robustez e rusticidade.
Jim Ratcliffe até mesmo tentou negociar o projeto e ferramental de produção com a JLR, mas, infelizmente, não obteve sucesso. Então, do alto de sua capacidade financeira e vontade, resolveu criar a INEOS Automotive e desenvolver o seu próprio 4×4, inspirado no “Defender clássico”, que ganhou o nome de Grenadier (o mesmo nome de seu pub inglês preferido e onde, segundo reza a lenda, houve algumas negociações com as pessoas envolvidas no projeto). A JLR até mesmo moveu um processo jurídico contra a INEOS, contestando seu projeto e produção, mas foi derrotada e, assim, a INEOS seguiu adiante e lançou o veículo e começou sua produção em julho de 2022.
Depois dos passos de desenvolvimento do projeto, adquiriu uma fábrica da Mercedes Benz) onde o Smart era produzido, localizada em Hambach, na França, onde então, o Grenadier é atualmente produzido. E, também, uma picape derivada do mesmo arcabouço, o QuarterMaster
Nesse vídeo de 5 minutos toda essa história e trajetória é contada de forma resumida:
Sobre o INEOS Grenadier
Com o lema de “Built on Purpose” (em tradução livre, “construído pelo propósito”, a ideia do Grenadier é ser um “verdadeiro” veículo com capacidade off-road, inspirado nas atividades fora-de-estrada com condições difíceis e situações duras e inóspitas, exatamente o tipo de utilização que fez a fama do Land Rover Defender clássico.
Assim, seu projeto manteve características que são muito desejadas pelos fãs (e agora órfãos) do Defender, entre elas:
– Construção de carroceria sobre chassi;
– Eixos rígidos que permitem mais robustez;
– suspensões clássicas (molas metálicas do tipo helicoidais) com grande articulação;
– Pontos “reais” de ancoragem para recuperação do veículo;
– capacidades “reais” de tração 4×4 com bloqueios de diferenciais central, traseiro e dianteiro (não disponível em todas as versões atuais);
– carroceria desenvolvida para proporcionar espaço, versatilidade de uso e montagens.
E, então, assim foi desenvolvido e feito seguindo uma orientação de seu fundador, descrito numa frase:
“A 4X4 NO-ONE’S BUILDING ANYMORE. THAT’S OUR BLUEPRINT FOR THE GRENADIER: A SERIOUSLY CAPABLE OFF-ROAD VEHICLE ENGINEERED TO FILL THE GAP.”
Em tradução livre: “Ser um 4×4 que ninguém mais faz. Esse é o nosso plano para o Grenadier: um veículo off-road altamente capaz projetado para preencher essa lacuna”)
Em termos de especificações técnicas, o INEOS Grenadier tem como principais itens:
Motores: fornecidos pela BMW (B58), sempre de 3 L de cilindrada e 6 cilindros em linha, com opções de Diesel (turbocarregado com 252 cv de potência e 56,1 m·kgf de torque) e gasolina (aspiração atmosférica) de 290 cv de potência e 45,9 m·kgf de torque, ambos podendo alcançar a velocidade máxima (limitada) de 159 km/h e acelerar de 0 a 96,5 km/h em 8,8 segundos (gasolina e diesel);
Câmbio: automático epicíclico de 8 marchas ZF 8HP com trocas manuais sequenciais pela alavanca seletor;
Caixa de transferência: 4×4 permanente com opção de bloqueio do diferencial central e reduzida real de relação 2,5:1, projetada pela INEOS e fabricada pela Tremec;
Suspensões dianteira e traseira: eixo rígido com molas helicoidais e 6 braços de localização (que podem ter bloqueios nos diferenciais traseiro e dianteiro, conforme a versão), fornecidos pela Carraro;
:Freios: a disco nas quatro todas, sendo os dianteiros ventilados;
Direção: com assistência hidráulica;
Tanque de combustível: 90 litros;
Consumo de combustível médio: gasolina 7,1 km/l, diesel 9,5 km/l;
Peso em ordem de marcha: aproximadamente 2.750 kg;
Dimensões (mm): comprimento 4.896, largura 1.930 mm, altura 2.036 e entre-eixos, 2.920
Diâmetro mínimo de curva: 13,5 m
Capacidade do porta-malas: 1.152~1.255 litros, 2.035 litros com banco traseiro rebatido;
Capacidade de carga (kg): gasolina 907, diesel 832
Preços no Reino Unido: ambas versões £ 70.420 (R$ 540.000 na conversão direta).
Station Wagon, comparação com Land Rover Defender 110 e Picape QuaterMaster)
Dimensões / Modelo | Grenadier Station Wagon
(o modelo que eu conheci) |
Land Rover Defender 110 Clássico (referência ano 2005) | Diferença Grenadier (-) Defender 110 | Picape QuarterMaster |
Comprimento (mm) | 4.895 | 4.599 | +296 | 5.440 |
Altura (mm) | 2.050 | 2.060 | -10 | 2.019 |
Largura (mm – sem espelhos) | 1.930 | 1.790 | +140 | 1.943 |
Entre-eixos (mm) | 2.922 | 2.794 | +128 | 3.227 |
Bitola (mm) | 1.645 | 1.486 | +159 | 1.645 |
Peso (kg – em ordem de marcha) | Aprox. 2.750 kg (varia conforme a versão) | 2.028 | +722 | Aprox. 2.700k g (varia conforme a versão) |
Capacidade máxima de carga (kg) | Aprox. 750 kg (varia conforme a versão) | 920 | -170 | Aprox. 800 kg (varia conforme a versão) |
Capacidade máxima de reboque (kg – com freios) | 3.500 | 3.500 | IGUAL | 3.500 |
Ângulo de Entrada (°) | 35,5 | 51 | -15,5 | 35,5 |
Ângulo de Saída (°) | 36,1 | 34 | +2,1 | 22,6 |
Ângulo Central (°) | 28,2 | 28 | +0,2 | 26,2 |
Vão livre ao solo (mm) | 264 | 215 | +49 | 264 |
Imersão em alagados (mm) | 800 | 500 | +300 | 800 |
Opinião e primeiras impressões (sem dirigi-lo)
Infelizmente não pude experimentar o Grenadier. Ah, que pena! Mas ainda assim foi possível ter algumas opiniões e impressões sobre esse novo veículo 4×4, do qual venho acompanhando a história e os passos há bastante tempo, desde que começaram a circular as notícias de que ele seria um “substituto” do Clássico Defender.
A versão importada para o Brasil é a FieldMaster, o topo de gama. Ffora as versões especiais, as de linha são: básica, TrailMaster e a FieldMaster) e conta, ainda, com alguns pacotes de acessórios, o que faz desse carro uma unidade muito bem equipada e bonita.
O chassi é pintado de vermelho, um opcional se você pode escolher ao configurar o veículo. E, ao combinar com a cor verde (Sela Green) e itens em preto, criou um carro com contrastes interessantes e bacanas.
O interior é construído para ser robusto e durável, repleto de botões físicos para acionar vários dispositivos e controles, incluindo comandos no teto do carro (que, nessa versão, também possui dois pequenos tetos de vidro que podem ser abertos ou removidos), além de conter uma tela de infotenimento de 12,3” e conectividade Android Auto e Apple Car Play, onde também se obtém as informações típicas do painel de instrumentos, já que não há um quadro à frente do volante, onde apenas há luzes-espia de advertência e alerta.
Os bancos (fornecidos pela Recaro) são confortáveis e parecem dar um bom apoio lombar, tão importantes em condição de uso off-road. O volante de direção tem ajuste de altura e a posição de dirigir, que tem o conceito de ser alta e em configuração “mais sentado” do que “esticado”.
Os materiais me pareceram adequados para o propósito do veículo e passam a sensação de durabilidade que, no entanto, claro, precisará ser confirmado ao longo do tempo.
O interior do Grenadier se mostra confortável e interessante, repleto de botões físicos para controlar de tudo um pouco e ótimos bancos da Recaro( Fotos: autor)
Na versão que conheci, as rodas são de liga de alumínio de 18” e com sistema de travamento do talão (sobrearo que permite rodar com baixa pressão nos pneus, típico do uso fora-de-estrada) com pneus BF Goodrich All-Terrain KO2 255/70 R18 (inclui estepe na mesma medida), famosos e bastante adequados para uso off-road. Mas outras versões podem vir dotadas de rodas de 17”, inclusive com opção de rodas de aço, mais rústicas.
Ainda para uso em trilhas, o Grenadier é dotado de pontos de ancoragem adequados, protetores inferiores e pode vir equipado com bloqueios dos diferenciais traseiro e dianteiro. Ainda pensando na utilização como veículo de “Overland” (viagens terrestres para exploração e, por vezes, em lugares remotos) ele pode possuir (conforme a versão) itens interessantes, como pontos de energia externos, acessórios do tipo escada e bagageiro, pontos de amarração no teto, snorkel (captação elevada do ar de admissão), estribos do tipo “rock-slider” e muitos outros acessórios para performance e/ou fixação de itens. Bastante interessante. Assim como a abertura do porta-malas em duas partes (70:30).
Conforme o pacote escolhido, ele ainda possui sistemas avançados de auxílio ao motorista, assistente de estacionamento e outros “mimos” que, em regra, nem sempre agradam aos mais “aventureiros”. Mas, a versão TrailMaster é, justamente, focada no uso mais intenso no off-road.
Nessa primeira análise, pareceu-me que o Grenadier seguiu um caminho interessante, já que suas variações e versões permitem desde ter um veículo off-road do tipo “mais rústico” (voltado para trilhas mais pesadas e uso para trabalho mais pesado) até um 4×4 mais equipado e confortável.
Conclusão
Desde o início dessa história, sempre torci para que o projeto fosse em frente — o que aconteceu. Finalmente, conhecer o Grenadier foi uma grata surpresa e ao conhecê-lo ao vivo, até tive algumas expectativas superadas. Faltou dirigi-lo — especialmente, numa bela trilha. Mas foi um ótimo encontro que eu desejava há bastante tempo. Agora a torcida é que ele desembarque oficialmente no Brasil e que, então e bastante em breve, possamos ter a chance de levá-lo por aí para passear e conhecer sua real capacidade e como ele se comporta para o que foi concebido e proposto: ser um “verdadeiro” veículo off-road.
Por fim, parece mesmo que a INEOS propôs um Defender do século 21, aos moldes do que era o clássico e que atende normas e legislações atuais – certamente, o que os fãs do antigo Defender desejavam que a JLR tivesse feito para manter a tradição de sempre do ícone maior da Land Rover.
LFC