A marca britânica Bond foi criada por Lawrence “Lawrie” Bond (1907-1974), um enigmático e criativo engenheiro mecânico e estilista, nascido na Inglaterra.
Seus minicarros foram feitos em vários modelos, e uma das coisas interessantes era o fato de serem de três rodas. Eu tenho uma certa e exagerada curiosidade sobre carros de três rodas, talvez pelo meu primeiro veiculo ter sido um tico-tico, como se dizia décadas atras, e depois, como projeto de formatura na faculdade, meu grupo desenvolveu um veiculo de entregas rápidas de três rodas, mas apenas nas definições gerais, não um carro de verdade.
A necessidade e mãe da invenção, diz o dito popular, e os anos 1950 trouxeram a frase “Post war austerity” (austeridade do pós-guerra) que se usa para explicar coisas simples e baratas que foram sendo criadas quando o mundo ainda se recuperava da pior de todas as guerras. O primeiro modelo Bond se originou na empresa chamada Sharp’s Commercials, fundada em 1922 por Paul Sharp, e que teve Lawrie Bond inicialmente como empregado.
Os carros de Lawrence Bond se encaixavam claramente na categoria de transporte simples e austero, sendo que o primeiro deles era chamado apenas de Bond Minicar e tinha motor de 122 cm³ de moto, três rodas e quatro lugares, sendo o espaço traseiro para crianças apenas. Foi presentado em 1948 e fabricado ate 1966, num total de 26.500 unidades.

Os de três rodas eram populares no Reino Unido por serem considerados motocicletas e por isso terem vantagens fiscais. Mas isso acabou.
Esse sucesso do modelo fez a Sharp’s mudar o nome para Bond Cars em 1963, mesmo ano em que o Equipe iniciou as vendas. Foi uma forte publicidade passar de carro supersimples de três rodas para um pequeno esportivo de quatro. Havia uma parceira técnica e comercial com a Triumph, já que o chassi era do Herald e motor/câmbio do esportivo Spitfire.
Em 1968 a marca passou do controle de um grupo financeiro para a Reliant, aquela mesma que ficou famosíssima pelo Robin, seu modelo de três rodas.
O Bond Bug foi a volta novamente para as três rodas em 1970. Era um novo carro, aparência futurista e fez o nome da marca ser conhecido em outras partes do mundo, ate mesmo nos EUA, como prova essa minha foto num evento em Michigan.

Voltando ao primeiro carro de quatro rodas da Bond, este foi batizado de Equipe GT, lançado em maio de 1963. O caminho mais simples foi vestir com uma carroceria de compósito de fibra de vidro de desenho diferente num chassis do Triumph Herald (originalmente um carro nada belo ou elegante diga-se) mas com motor do Spitfire de 1.147 cm³, para mais potência. Num bom exemplo de economia, as portas eram do Herald, bem como a parede corta-fogo e o quadro do para-brisa.
Mr. Bond desenhou um fastback, que não pode ser chamado de perfeito, mas atraía olhares, e tinha preço bem baixo. Tendo vários componentes da Triumph, era também comercializado nas concessionarias dessa marca.

Logo no ano seguinte, 1964, veio uma versão mais desenvolvida batizada de GT-4S, com faróis duplos e tampa do porta-malas liftback (abre com o vidro traseiro unto). Omotor era o mesmo quatro-cilindros, de 64 cv, conhecido como Standard SC.
Mas o tempo passa, e o motor cresceu para 1.296 cm³, agora de 76 cv, o mesmo do Triumph Spitfire, montado no mesmo GT4S agora trazendo 1300 no nome de modelo, lançado em abril de 1967. Tinha freios a disco na dianteira desde o inicio, mas no 1300 foram aumentados para casar com a maior potência.
A dianteira dessa evolução prova que nem tudo que pode ser chamado de progresso traz algo melhor. Como inúmeros facelifts que vemos ainda hoje, o visual fica pior do que antes,

O comportamento dinâmico era bastante bom para o período, ajudado pelo baixo peso, menos de 900 kg. Decidiu-se então fazer uma versão ainda melhor, 2 litros de seis cilindros em linha, batizado de 2-Litre GT, com melhorias de estilo, mais harmônico e suave, com uma dianteira muito melhor do que antes. Era outubro de 1967 e o modelo usava o chassi do Triumph Vitesse, com seu motor de 1.998 cm³ e 96 cv. Como esse era um modelo de topo da gama, apostou-se em um conversível para fazer par com o cupê. Chegava a 160 km/h.

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As quantidades fabricadas de cada um são respeitáveis para um fabricante pequeno:
- Bond Equipe GT 2+2: abril 1963 – outubro 1964: 451
- Bond Equipe GT 4S: setembro 1964 – janeiro 1967: 1.934
- Bond Equipe GT 4S 1300: fevereiro 1967 – agosto 1970: 571
- Bond Equipe 2-Litre Mark I: agosto 1967 – setembro 1968: 591
- Bond Equipe 2-Litre Mark II Cupê e Conversível: setembro 1968 – outubro 1970: 841
Produção total de 4.389 carros.
Parou de ser fabricado em julho de 1970, quando a Reliant, que havia comprado a Bond em fevereiro do ano anterior, assumiu de vez e encerrou a marca. A Reliant ja era bastante conhecida por ser a fabricante do Robin, certamente o mais conhecido 3-rodas do mundo, talvez ate mais que o Morgan, principalmente nos tempos atuais, depois que Jeremy Clarkson capotou um deles por diversas vezes numa das mais hilárias matérias do programa Top Gear de todos os tempos.
Mesmo assim, alguns carros vendidos foram terminados ate outubro do mesmo ano. Um cupê 2 litros foi o ultimo produzido, chassis V/10/5341.
Contando com os modelos de três rodas, a Bond durou vinte e seis anos e fabricou 34.582 veiculos.
JJ