O Nissan Kicks chega à linha 2026 com mudanças que vão muito além do desenho renovado. A evolução mais perceptível não está apenas na aparência mais robusta e com maior presença estética, mas sobretudo na maneira como o suve se comporta. Avaliei durante uma semana a versão topo de linha Platinum com o novo motor 1,0 turbo de injeção direta associado a câmbio robotizado automático de 6 marchas de dupla embreagem, banhada a óleo. É um conjunto que finalmente alinha o Kicks ao nível tecnológico e dinâmico esperado para o segmento.

O exemplar testado, na chamativa combinação vermelho Malbec com teto preto, realça o novo repertório visual do modelo. Linhas mais altas nas caixas de roda, frente com assinatura luminosa marcante em LED e proporções mais sólidas o colocam num patamar de presença visual superior à qual o Kicks de primeira geração sugeria.

O novo 1,0 turbo e por que ele muda tudo
A transformação mais evidente do Kicks está no conjunto motriz. O novo 1,0 litro turbo GDI de três cilindros entrega 120/125 cv de potência máxima a 5.000 rpm e torque máximo de 20,4/22,4 m·kgf a 2.000 rpm, alterando por completo a relação do carro com o acelerador comparado com a geração anterior.
Seu gerenciamento privilegia respostas rápidas nas transições típicas de tráfego urbano, onde pequenas correções de pedal são suficientes para alterar o ritmo de rodagem sem a hesitação que marcava o antigo 4 cilindros 1,6-l de aspiração atmosférica com câmbio CVT.

Esse ganho não surge apenas do turbo, mas da integração com o câmbio de dupla embreagem banhada a óleo, que executa trocas com mínima interrupção de torque. Em acelerações e retomadas, o Kicks agora progride com convicção, mantendo rotações mais baixas em velocidade de cruzeiro e favorecendo consumo. No percurso rodoviário entre São Paulo e Campinas, abastecido com gasolina, o consumo foi de 16 km/l, número alinhado às expectativas de um conjunto eficiente e bem programado.

O câmbio DCT e a lógica de progressão
Se há um elemento responsável por elevar a qualidade dinâmica do Kicks, é a calibração do câmbio. As duas embreagenss em banho de óleo evitam o comportamento típico das embreagens de dupla embreagem a seco, que em alguns casos alternam entre trancos e hesitação em situações de manobra, rampas e conversões lentas. O Kicks, ao contrário, apresenta progressão de acoplamento suave e tem o mesmo e cômodo avanço lento (creeping) dos câmbios automáticos com conversor de torque (epicíclicos e CVT) sem renunciar à eficiência mecânica da dupla embreagem.

A atuação das marchas é coerente com a entrega de torque do motor, permitindo que o carro se mantenha em regimes intermediários, onde a resposta do turbo é mais direta. As borboletas no volante, quando utilizadas para trocas de marchas em modo manual, reforçam a sensação de controle e em descidas longas a lógica de retenção de marchas do câmbio evita o indesejado aumento de velocidade, dispensando intervenções de freio mais prolongadas.

Suspensão, NVH e a surpresa dos 19”
Ao observar as rodas de 19 polegadas com pneus 225/45 R19 desta versão Platinum, é natural supor que a suspensão sofra com impactos mais secos e ruídos de rodagem. O que se percebe, no entanto, é um acerto progressivo, que preserva o conforto mesmo sobre superfícies irregulares. O controle dos movimentos longitudinais e laterais da carroceria é eficiente, e os movimentos da carroceria se dissipam sem oscilações residuais. Trata-se de um resultado que combina o trabalho estrutural do arcabouço CMF-B High Spec com uma calibração de amortecimento que favorece conforto sem comprometer estabilidade.

Além da absorção competente, a filtragem de NVH (ruído, vibração e aspereza) evoluiu. Ruídos estruturais e de baixa frequência são bem isolados, e mesmo em piso mais abrasivo a cabine permanece bem silenciosa. A direção eletroassistida complementa a percepção de refinamento ao oferecer variação natural de esforço: leve nas manobras, firme e centrada em velocidades mais altas.

Vida a bordo: telas, bancos e novas soluções
Por dentro, o Kicks adota um ambiente que a Nissan chama de monolito tecnológico: duas telas de 12,3 polegadas, unidas em um mesmo plano visual, reorganizam a interação do motorista com informações e entretenimento. A ergonomia evoluiu, os comandos têm distribuição coerente, e materiais de toque frequente apresentam qualidade superior ao padrão anterior.

Os bancos com tecnologia Zero Gravity (utilizado em todos os carros da Nissan), são inspirados em estudos de sustentação corporal, e distribuem pressões de forma homogênea, minimizando a fadiga lombar em viagens mais longas. No banco traseiro, o entre-eixos de 2.656 mm garante bom espaço longitudinal para dois adultos, ainda que a largura limite o terceiro ocupante, como é típico do segmento.
Quando a eletrônica trabalha a favor
O pacote de assistências ao motorista é um dos elementos mais sofisticados do novo Kicks. O ProPILOT, operando em nível de autonomia SAE 2, mantém o veículo centralizado na faixa com correções discretas e atua sobre frenagem, direção e aceleração de maneira esperada. Em uso real, não transmite intrusão, e sim um apoio para que o motorista aceite o sistema e o utilize com confiança.

O conjunto inclui controle de cruzeiro adaptativo com função de parada e retomada, monitoramento de pontos cegos com intervenção, alerta de tráfego transversal traseiro e conjunto de câmeras de 360° com boa definição que tornam manobras em pouco espaço menos estressantes.
Conclusão
Ao final da semana de avaliação, o Kicks 2026 Platinum se apresenta como um produto que finalmente traduz em experiência a expectativa criada pela marca. O trem de força supera com folga a impressão dinâmica da geração anterior, o trabalho de suspensão demonstra maturidade, e a evolução em conectividade e assistência ao motorista é evidente.
O resultado é um modelo que não apenas subiu de nível, como entra no núcleo competitivo da categoria, onde Volkswagen Nivus/T-Cross, Honda HR-V, Hyundai Creta e Chevrolet Tracker atuam com propostas distintas, mas igualmente avançadas.

O novo Kicks entrega não apenas números, mas uma sensação clara de que há engenharia bem aplicada por trás. É esse tipo de evolução que faz um modelo deixar de ser uma escolha racional para se tornar uma decisão consciente, técnica e emocional.
Preço: R$ 199.000
GB
Ficha técnica resumida — NISSAN KICKS PLATINUM 2026
| MOTOR | 1,0 12V Turbo GDI, 3 cil., injeção direta, flex |
| POTÊNCIA | 120 cv (G)/125 cv (A) a 5.000 rpm |
| TORQUE | 20,4 m·kgf (G)/22,4 m·kgf (A) a 2.000 rpm |
| CÂMBIO | Automático robotizado, dupla embreagem banhada a óleo, 6 marchas, trocas manuais sequenciais por borboletas |
| TRAÇÃO | Dianteira |
| DIREÇÃO | Pinhão e cremalheira eletroassistida |
| SUSPENSÃO | McPherson (dianteira) / eixo de torção (traseira) |
| FREIOS | Discos ventilados (dianteira) / discos (traseira) |
| RODAS E PNEUS | 19″ — pneus 225/45 R19 |
| COMPRIMENTO | 4.366 mm |
| ENTRE-EIXOS | 2.656 mm |
| LARGURA | 1.815 mm |
| ALTURA | 1.633 mm |
| PESO | 1.366 kg |
| PORTA-MALAS | 470 litros |
| TANQUE | 45 litros |
| 0-100 km/h | 12,4 s |
| CONSUMO | 16 km/l (rodoviário, gasolina) |
| PRODUÇÃO | Resende, RJ, Brasil |




