Vamos a la playa, ho ho ho ho ho…
Viajar para o litoral é sempre um prazer, rodar até lá idem, mas a etapa que precede a viagem… é exigente! Separar bagagem, acomodá-la no porta-malas e, em alguns casos, até dentro da cabine. Tudo toma tempo, exige energia. Mas, para esta missão, o Kardian se mostrou um bom parceiro.
Os 358 litros anunciados estão todos ali, e as paredes do compartimento de bagagem são regulares, sem protuberâncias que acabariam por complicar o posicionamento da carga. Meu método: quando viajamos em três, bolsas tipo mochilas vão no chão entre banco do motorista e passageiro, e no porta-malas vão malas/caixas e a geladeira térmica. Coube tudo, e sem usar a superfície da tampa do compartimento, o que não gosto de fazer por questão de segurança e da visibilidade, mas que às vezes se torna necessário.

Um olhar mais atento para o compartimento de carga revela pontos positivos como o fato de ser todo forrado, mas também que o material usado, especialmente no piso/cobertura do estepe, um Pirelli Cinturato P1 medida 185/65 R15, diferente dos pneus de rodagem (205/55 R17), poderia ser algo mais robusto, embora seja preferível aos estepes estreidos de 135 mm de seção transversal. A tampa basculante não é ruim, assim como são razoáveis os puxadores plásticos incrustados na tampa do porta-malas.
No trajeto de três horas e meia o Kardian exibe qualidades: é confortável para quem ocupa os bancos dianteiros, generosamente dotados de apoios laterais e conformação correta. Atrás… bem, atrás é atrás! A jovem passageira reclamou da ausência de um apoio de braço central (mal acostumada, a mocinha…) e das duas portas USB serem do tipo C, diferente da que precisaria para alimentar o celular. Salvou-a o providencial adaptador comprado no camelô, espetado na tomada de força no console frontal. De resto, não reclamou de mais nada. Um bom sinal.
O Kardian na rodovia é agradável de se conduzir. Como disse semana passada, é um carro “quieto”. A rotação a 120 km/h é 2.600l rpm, giro baixo portanto. Um smartphone conectado ao sistema multimídia via Bluetooth garantiu acesso a playlists e fez ver que, mesmo sem contar com um sistema de áudio “assinado”, o que se ouve não é ruim, e basta fuçar no sistema para achar onde se ajustam os parâmetros graves, agudos, balanço. Tudo simplinho, funcional e com som de razoável qualidade; e ao mesmo tempo, ocupando toda a tela, o mapa do Waze, me avisando de radares, trânsito à frente, limites, e horá estimada de chegada.
Como na viagem da semana passada, o sistema de ar-condicionado se mostrou competente. Não há saída para o banco de trás, uma economia chatinha, mas de fato cabine não é tão grande assim e, no fim das contas, o ambiente ficou agradável para todos num dia particularmente quente. E, falando em quente, em uma saída de pedágio desliguei o ar, apertei o botão que altera o caráter do motor passando para Sport e atolei o pé. O Kardian mostra saúde. A saída tem aquele atraso de praxe, e não há como desligar o controle de tração, mas o motor enche com gosto e faz ver que os 120 cv estão todos ali. Mesmo em alta rotação o interior da cabine não é invadido por ruído excessivo e tampouco vibrações.

Repito a operação no pedágio seguinte, desta vez em vez de Sport seleciono Eco e… querem saber? Não há grande diferença. Idem no modo Normal, que é o padrão quando o carro é ligado. Se há diferença no cronômetro, deve ser mínima. No último dos muitos pedágios mantenho pressionada uma das borboletas atrás do volante e o câmbio entra em modo manual. Me divirto espetando marchas a um mero toque, e faço o caminho inverso, reduzindo. Esse câmbio de duas embreagens, Magna-Getrag DW23, é espertíssimo.
Pedindo desculpas antecipadas às passageiras, aviso que farei duas ou três freadas fortes. Elas detestam, mas sabem que o dever obriga. A potência da frenagem impressiona e o 120 a 60 km/h se desenvolve sem que haja qualquer mínima impressão de perda do prumo, desvio. A traseira levanta, mas não parece querer passar à frente. Gostei!

Outra coisa para se gostar é o controle de cruzeiro e a frenagem autônoma: mesmo em descidas o Kardian mantém razoavelmente bem a velocidade selecionada, e nas situações de rodovia movimentada, respeita de modo preciso a distância do veículo à frente, acelerando quando o caminho fica livre. Chegando ao destino o consumo se revela coerente, 15 km/l de gasolina, cifra justa, mas não excepcional. Considerando o ritmo da viagem, carga e os malvados 20 km de congestionamento na marginal até alcançar rodovia, não é ruim.
No dia a dia praiano, a chance de testar as travessas para levar a pranchinha de tomar banho foi irresistível. Bem bolado o sistema da Renault, e com uma chave torx que mora no porta-luvas, em menos de cinco minutos as travessas longitudinais passam a ser transversais. Todos os carros dotados destes trilhos no teto deveriam proporcionar tal facilidade.

A suspensão firme do Kardian mostra os dois lados de sua face: se por um lado diminui a chance de contatos com o solo na superação de irregularidades (tendo como cúmplice nisso a boa distância mínima em relação ao solo, declarada em 209 mm), por outro sacode os ocupantes de modo intenso ao transpor buracos ou rodar pelo concreto estriado nos 600 metros da estradinha que da praia leva à casa no alto da montanha. Querem saber? Prefiro que seja assim, durinha…
Se o Kardian joga um bolão neste cenário de vias mal pavimentadas ou não pavimentadas, me deixou intrigado a impossibilidade de desligar o controle de tração. Tal dispositivo se mostra utilíssimo na maioria das situações, mas às vezes precisa ser desligado. Como assim? Para deixar os pneus patinarem loucamente e, assim (e talvez…) superar um gramado molhado, uma laminha no chão duro ou da lamona transamazônica. Com controle de tração sempre em modo ON, por mais que se acelere em condições de baixíssima aderência, a transmissão de força às rodas será capada, e isso é bem ruim em certos casos. Solução possível? Esvaziar os pneus, solução que “veste um santo para despir outro”.
Na viagem de volta, noturna, bati palmas para o sistema de iluminação: os faróis de LED, dotados de facho alto automático — que passam ao facho baixo ao alto quando não detectam veículo em sentido contrário ou no mesmo sentido — são excelentes. Ah, e o Kardian também traz regulagem de altura do facho e faróis de neblina, mas não a luz traseira de neblina.
No destino constato que o consumo foi quase igual ao da ida, mesmo tendo que vencer os cerca de 700 metros da Serra do Mar. A marca de 14,9 km/l aconteceu a uma média de velocidade superior, 63,6 km/h, contra os 49,9 km/h da ida. A explicação é múltipla: viajei a noite, com temperatura menor, e a volta percorre um trecho de rodovia diferente, a nova Tamoios, caracterizada por um suave aclive cheio de túneis, onde o acelerador fica constantemente cravado no limite da via, 80 km/h. Na descida, no trecho de serra da rodovia antiga, pontilhado por curvas, é preciso frear, reacelerar, frear… e isso prejudica a economia de combustível.
Dentro da garagem de casa, com as acompanhantes em sono profundo, medito que o Kardian nos tratou bem. Foi razoavelmente econômico, seguro, competente e adequado para a nossa corriqueira viagem. E ainda por cima me fez tirar a poeira da pranchinha para testar os racks. Poderia, sim, se candidatar ao posto de carro da família… apesar do teto preto!
Semana que vem, o encerramento com visita a Supentécnica, a estreia do álcool no tanque e, quem sabe, mais alguns quilômetros de rodovia.
RA
Renault Kardian Iconic
Dias: 21
Quilometragem total: 985,4 km
Distância na cidade: 505,4 km (51%)
Distância na estrada: 480 km (49%)
Consumo médio (gasolina): 9,7 km/l
Melhor média (gasolina): 15,5 km/l
Pior média (gasolina): 5,3 km/l
Leia os relatos anteriores: 1ª semana 2ª semana
| FICHA TÉCNICA RENAULT KARDIAN ICONIC 2026 | |
| MOTOR | |
| Designação | Turbo TCe |
| Descrição | 3 cilindros, dianteiro, transversal, bloco e cabeçote de alumínio, duplo comando de válvulas no cabeçote, corrente, variação de fase na admissão e escapamento, 4 válvulas por cilindro, atuação indireta por alavancas-dedo roletadas apoiadas em fulcros hidáulicos, injeção direta sob pressão de 200 bar, turbocarregador com interresfriador ar-ar, pressão de admissão 1,5 bar relativa, válvula de alívio elétrica, volante de duas massas, flex |
| Cilindrada (cm³) | 999 |
| Diâmetro dos cilindros e curso dos pistões )mm) | 72,2 x 81,3 |
| Potência máxima (cv/rpm, G/A) | 120/125 / 5.000 |
| Torque máximo (m·kgf/rpm, G/A) | 20,4 / 2.000 // 22,4 / 2.250 |
| comprimento da biela / relação r/l | n.d. |
| Taxa de compressão (:1) | 11,0 |
| Densidade de potência (cv/L, G/A)) | 120,1 / 125,1 |
| Densidade de torque (m·kgf/L, G/A) | 20,4 / 22,4 |
| CÂMBIO | |
| Fabricante/modelo | Magna-Getrag DW23 |
| Tipo | Transeixo com câmbio robotizado automático de 2 embreagens imersas em óleo, 6 marchas com trocas também manuais sequenciais por borboletas no volante, e ré |
| Relações das marchas (:1) | 1ª 3,891; 2ª 2,647; 3ª 1,792; 4ª 1,219; 5ª 0,825; 6ª 0,561; ré 3,718 |
| Relação do diferencial (:1) | 4,647 |
| SUSPENSÃO | |
| Dianteira | Independente McPherson, braço de controle triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
| Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem integrada ao eixo. |
| DIREÇÃO | |
| Tipo | Pinhão e cremalheira eletroassistida indexada à velocidade |
| Relação de direção (:1) | n.d |
| Voltas entre batentes | 3,2 |
| Diâmetro mínimo de curva (m) | 10,9 |
| Diâmetro do volante de direção (mm) | 365 |
| FREIOS | |
| Atuação | Hidráulica com dois circuitos em diagonal, ABS |
| Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado / 258, pinça flutuante de um pistão |
| Traseiros (Ø mm) | Tambor aletado / 203 |
| De estacionamento | Eletromecânico |
| RODAS E PNEUS | |
| Rodas | Liga de alumínio 17″ |
| Pneus | 205/55 R17V |
| CONSTRUÇÃO | Monobloco em aço, suve, 4 portas, 5 lugares, subchassi dianteiro |
| DIMENSÕES EXTERNAS (mm) | |
| Comprimento | 4.119 |
| Largura sem/com retrovisores | 1.747 / 2.025 |
| Altura sem/com barras no teto | 1.544 / 1.596 |
| Entre-eixos | 2.604 |
| Bitola dianteira/traseira | 1.517 / 1.509 |
| Distância mínima do solo | 209 |
| Balanço dianteiro/traseiro | 828 / 687 |
| AERODINÂMICA | |
| Coeficiente de arrasto (Cx) | 0,38 |
| Área frontal (m²) | 2,26 |
| Área frontal corrigida (m²) | 0,85 |
| ÂNGULOS (º) | |
| Entrada | 20 |
| Saída | 36 |
| Transposição de rampa | 12 |
| PESOS E CAPACIDADES | |
| Peso em ordem de marcha (kg) | 1.186 |
| Capacidade de carga (kg) | 443 |
| Porta-malas (L, VDA) | 358 (1.304 com banco traseiro rebatido) |
| Tanque de combustível (L) | 50 |
| CONSUMO DE COMBUSTÍVEL (km/L, Inmetro) | |
| Urbano (G/A) | 13,1 / 9,0 |
| Rodoviário (G/A) | 13,9 / 9,7 |
| DESEMPENHO | |
| Aceleração 0-100 km/h (s, G/A) | 10,7 / 9,9 |
| Velocidade máxima (km/h, G/A) | 180 (limitada) |
| CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
| V/1000 em 6ª, pneu 205/55 R17 (km/h) | 46,1 |
| Rotação a 120 km/h em 6ª (rpm) | 2.600 |
| Vel. máx. em cada marcha a 5.500 rpm (km/h) | 1ª 37; 2ª 54; 3ª 80; 4ª 117; 5ª 180 (a 5.770 rpm) |
| MANUTENÇÃO | |
| Revisões (km/tempo) | 10.000/ 1 ano |
| Troca do óleo do motor (km/tempo) | 10.000/ 1 ano |
| Troca de óleo do câmbio (km/tempo) | 90.000 / 6 anos |
| Troca do fluido das embreagens | Não troca, vida-toda |





