Os números de venda de março último, aliado a um certo clima de que a recuperação econômica segue seu curso e começou a chegar ao setor automobilístico, deixaram no ar uma expectativa que o ritmo prosseguiria em abril. Os feriados em duas sextas-feiras consecutivas o deixariam novamente com cinco dias úteis a menos que março e tantos quanto fevereiro, mês do Carnaval. No fim, graças à balbúrdia instalada por sindicalistas na sexta-feira 28, quando manifestantes insatisfeitos com a votação do fim da obrigatoriedade da contribuição sindical avançando nas duas casas do Congresso, estrategicamente atingiram o transporte coletivo nas grandes cidades, deram um nome falso à mobilização de que lutavam contra as mudanças nas regras da aposentadoria e da reforma trabalhista e deixaram abril com apenas 17 dias úteis.
Na coletiva mensal de imprensa promovida pela Anfavea, na última sexta-feira (5/5), Antônio Megale, presidente da entidade, reiterou sua confiança de que a retomada começou, que o setor industrial também conta com a aprovação dessas duas reformas, trabalhista e previdenciária, na pauta do Congresso para que o país consiga vencer a maior crise econômica dos últimos 100 anos.
Em abril, venderam-se um total de 156.894 veículos, sendo 152.637 automóveis e comerciais leves, 3.369 caminhões e 787 ônibus e chassis. Se tais números não sugerem comemoração, tampouco representam um desastre completo, o ritmo de emplacamentos diários, contando somente 17 dias úteis, chegou a 8.979.
O primeiro quadrimestre de 2017 fechou com licenciamentos de veículos novos 2,4% inferiores ao mesmo período de 2016, sendo que automóveis e comerciais leves registraram redução de 1,6%. Após o fechamento de março deste ano, a comparação de trimestres com ’16 mostrava queda menor, respectivamente 1,9% e 1,1%, o que pode sugerir uma nova retração se ampliando, mas a explicação de dias úteis a menos de abril e paralisação deixam tudo igual e mesma preocupação no horizonte, de que se as vendas apenas pouco a pouco vem recuperando ritmo.
Assisti a uma entrevista do presidente da Fenabrave, entidade que representa os concessionários de veículos, Alarico Assumpção, onde o executivo procurava justificar o desempenho do setor apontando também a turbulência política como um dos principais fatores que afugentam compradores das lojas. Particularmente discordo da opinião de Alarico, para este colunista seguem sendo três os fatores que mantém ou afastam consumidores do carro zero km: emprego, estabilidade econômica e condições favoráveis de financiamento. Já reencontramos uma frágil estabilidade na economia, no entanto faltam os outros dois, mais postos de trabalho seguem sendo fechados do que abertos e a aprovação de crédito para aquisição de automóveis permanece restrita. O brasileiro segue desinteressado por política, daí a turma de desqualificados que comanda o congresso e segue mandando nos rumos do país.
Cabe destacar que a Anfavea teve reunião com o governo federal e seus ministros da Fazenda (Meirelles) e MDIC (Marcos Pereira), em pauta a “Agenda Automotiva Brasil” e discussões sobre o setor, bastante combalido em sua competitividade pela crise que enfrenta há mais de três anos. Espera-se mais trabalho desses representantes da indústria para promover mudanças que acelerem a recuperação das empresas que fazem parte da cadeia produtiva.
RANKING DO MÊS E DO QUADRIMESTRE
Em abril, emplacaram-se 17% veículos a menos do que em março, pelos motivos já apontados acima, portanto nosso ranking mensal não oferece registros de crescimento de nenhuma marca.
Contudo, houve alterações importantes no ranking. Após vários anos em 3º, a VW ultrapassou a Fiat, esta que vem sofrendo com fracas vendas de seus compactos de entrada, segmento que a notabilizou no mundo desde o pós-Segunda Guerra Mundial. No ranking de somente automóveis, a marca italiana da FCA figurou em 6º, atrás também da Hyundai, Ford e Toyota. Seu novo compacto, cujo nome é Argo, será mais que bem-vindo; esperado para lançamento ainda este mês, deve representar uma reação nas vendas.
O quadrimestre nos apresenta uma expansão de 47% da marca Jeep, 39% da Nissan, 8% da Ford e 7% da Chevrolet, que amplia a sua liderança no mercado brasileiro. Na outra ponta da tabela, temos a Citroën, com -17%, Fiat com -14%, Peugeot, com -10% e VW, com -8%.
O Jeep Compass (foto de abertura) foi o suve mais vendido do Brasil e figura na 8ª posição entre os automóveis, com 3.940 emplacamentos no mês de abril, um fenômeno, mais ainda se considerarmos seu preço começa em 100 mil reais. Porém, segue roubando compradores do Renegade, seu irmão de marca, plataforma e fábrica, que caiu para 16º (4º no ranking de suves), com 2.745 unidades vendidas. HR-V segue sendo o 2º suve mais vendido, com 3.576, seguido do Creta, com 3.056. Na sequência de suves temos EcoSport, com 2.206, Duster, com 1.900, WR-V, com 1.853 em seu primeiro mês cheio de vendas, Peugeot 2008, com estáveis 805 unidades e Captur com 793, que ainda não emplacou, a despeito de ser um produto superior a seu irmão Duster em vários parâmetros comparativos.
Onix liderou os emplacamentos com 12.689 unidades e segue ampliando a sua liderança. Neste quadrimestre registrou aumento de vendas de 16% quando comparado a mesmo período de 2016. Em seguida vem o HB20, com 7.934, Ka, com 6.650, Sandero com 6.110, Gol com 5.515, Corolla novamente em 6º lugar. Mobi em 9º, aparece pela primeira vez dentre os dez mais vendidos.
O segmento de compactos de entrada, que abrange um total de vinte modelos, manteve seus volumes praticamente inalterados neste ano, foram 247.257 emplacamentos ante 246.187 em 2016. Sandero foi o que mais cresceu, com 35%, seguido do Ka, com 23%, Etios hatchback, com 18%, enquanto no outro extremo, Uno caiu 25%, Fox 28% e Palio 51%. Uma simples olhada nos números não nos permite tirar conclusões do por que da migração de compradores de uma marca para outra. Teríamos de entender também as regiões onde essas variações ocorreram. Fato é que o compacto GM é o preferido do consumidor brasileiro e deve seguir assim por bons anos, ou até a concorrência apresentar novas fichas e produtos.
Os sedãs derivados desses compactos tiveram sorte diferente, segmento com vendas 14% inferiores no quadrimestre e um total de 77.367 unidades emplacadas. O VW Voyage destacou-se com crescimento de 42%, Etios sedã, com 17%, Logan manteve-se estável com 1%, enquanto os demais registraram quedas importantes, Prisma 12%, Versa 15%, Siena 35% e HB20S, 36%. Aparentemente a fábrica da Hyundai opera próxima a seu limite de capacidade e privilegiou as vendas do Creta em detrimento do seu sedã compacto, mas por que será somente a VW e Toyota, com, respectivamente, Voyage e Etios Sedã, tiraram proveito disso?
Cabe registro também que os 50 modelos mais vendidos tiveram uma expansão de 5% sobre o quadrimestre de ’16, 488.191 unidades ante 463.678.
Nos comerciais leves, o ranking manteve-se praticamente inalterado, Strada liderou com 4.570 unidades comercializadas, Toro em seguida, com 4.400, Saveiro, com 3.590, Hilux, com 2.827, S10, com 2.034. No quadrimestre, a Hilux apresentou queda de 12%, enquanto a S10, que em abril apresentou versão flex com caixa automática de 6 marchas, cresceu 29% no período e deve se expandir mais. Chevrolet Montana também apresentou desempenho surpreendente, uma vez não tem mudanças de produto faz alguns anos e cresceu 71%.
O Brasil tornou-se um mercado de dois milhões de unidades anuais, pouco mais da metade do que foi em 2012/13. Alguns projetos de renovação de produtos vem sendo cancelados pela simples ausência de compradores para eles, que justifiquem novos investimentos e lhes deem payback. Corremos o risco de ver nosso parque envelhecer, com profusão de face-lifts e sem renovação de produtos, o que seria uma pena.
Por enquanto, alguns lançamentos já aguardados para este ano seguiram inalterados. A ver como ficam os que estavam planejados para 2019 em diante.
Até mês que vem.
MAS