Aeeee, estou de volta. Aviso caso não tenham notado que estive fora do AE por algumas semanas. Senti falta dos meus caríssimos leitores — mas o lado bom é que conheci muitos lugares, ganhei novas experiências, voltei com vários assuntos para meus textos e descansei — bem, nem tanto, quem conhece “Noratur” sabe que as viagens são algo muito parecido com o Ironman. Mas foi muito, muito bom.
Meu roteiro foi meio exótico e aparentemente desmiolado, mas garanto que faz sentido e que valeu a pena. Resumindo, estive nos Emirados Árabes, na Austrália e na Nova Zelândia. Sim, banho de Primeiro Mundo, devo dizer. Lugares muito diferentes não apenas entre si, mas em relação ao Brasil. E é aí que várias coisas me chamaram a atenção. Nos primeiros dois países andamos de avião, barco, táxi, de tudo, mas não dirigimos. Na Nova Zelândia, ao contrário, fizemos as duas ilhas, de ponta a ponta, em ziguezague, tudo de carro, além de andar em outros meios de transporte. E valeu muitíssimo a pena. Paisagens deslumbrantes a cada curva, país lindo, pessoas fantásticas. Em fim, os três foram excelentes escolhas.
Como é muito assunto vou dividir minha viagem em três textos, um por semana e um por país, OK?
Mas vamos ao que interessa neste espaço. Sempre que viajo ao exterior presto muita atenção em tudo, mas trânsito e direção em geral me fascinam. E já vou avisando: leio muita besteira no Brasil, principalmente de pessoas que não tem um único carimbo no passaporte e repassam informações recebidas pelas mídias sociais, devidamente filtradas e dirigidas. Lá fora não é bem assim. Por exemplo, em dois dos sete Emirados Árabes Unidos, Dubai e Abu Dhabi, não tem isso de redução de velocidade para 30 km/h — nem perto disso. Na avenida/estrada Sheikh Zayed Road que corta Dubai (foto de abertura) a velocidade máxima é de 120 km/h a maior parte do tempo e nos trechos mais urbanos, 100 km/h. Em raríssimos baixa para 80 km/h — tão poucos que nem consegui fotografar. Tem várias faixas (4 ou 5 na maior parte do tempo, em cada sentido mas em vários trechos são 7 faixas) e recebem trânsito de vias laterais
Em 2015 houve no país 5,99 mortes no trânsito por 100.000 habitantes. Sempre faço a observação que esse índice, embora usado internacionalmente, deve ser visto com atenção, pois é em relação à população total e não ao número de carros — mas é o dado usado no mundo todo pelas Nações Unidas. E apenas para efeitos de comparação, no Brasil o índice de mortes no trânsito naquele ano foi de 23,4 por 100.000. Os Emirados tem quase 10 milhões de habitantes, a sexta maior reserva de petróleo e um PIB per capita de 54 607 dólares, de fazer inveja a muito país. Ou seja, não faltam recursos e há muitos, muitos “carrões”. Ninguém pensa uma fração de segundo sequer para comprar um carro superpossante ou sair por aí dirigindo – aliás, é claro que o combustível é muito barato, somente R$ 1,50 o litro. E no Brasil o PIB per capita foi de US$ 9.300 em 2016 e a gasolina comum custa R$ 3,20.
O bom é que eles separam o tipo de acidente e, vejam só, velocidade é somente a oitava causa de acidentes, a sétima de mortes e a nona em feridos (incluí por minha conta a rubrica “diversos”, nos dois casos para que sejam considerados todos os fatores). Veja:
Na estrada entre Dubai e Abu Dhabi a velocidade máxima para veículos leves chega a 140 km/h e a 80 km/h para os pesados. Novamente, estrada impecável, que parece um tapete, com quatro faixas em cada sentido, acostamento, sinalização perfeita. Nela há restrições ao trânsito de caminhões e ônibus, que devem andar somente pela pista da direita. São 120 quilômetros entre as duas cidades e os percorremos duas vezes. Praticamente o tempo todo a norma era respeitada. No máximo, eles ultrapassam e retornam à faixa da direita. E enquanto nosso ônibus (na ida) andava a 80 km/h não éramos ultrapassados por veículos pesados. Na volta, de carro, todos voavam. Chegamos rapidíssimo.
Devo dizer que os motoristas não são exatamente germânicos ao dirigir, mas nada que uma seguradora se recuse a cobrir. Ou seja, mesmo com pessoas que dirigem de uma forma mais “brasileira”, a velocidade não é vista como vilã – e nem é, como mostram as estatísticas.
Mas não é apenas nas estradas entre os dois principais emirados que isso acontece. Fomos passear no deserto, rodamos para longe dos grandes centros, e mesmo em estradas de pista simples a velocidade máxima é alta.
Também gostei de ver viadutos limpos, sem pichação nem graffiti. Questão de gosto, é claro. Na ilha de Jumeirah, em Dubai, ainda fizeram algo diferente sob o viaduto Zabeel Saray: os pilares simulam árvores e folhas verdes cobrem os baixos do viaduto. Muito legal, mesmo.
Outra observação: vi vários carros com filme nos vidros, mas ainda assim menos do que em São Paulo. E olha que lá as temperaturas facilmente ultrapassam os 40 graus. E, claro, não chove. E nenhum com filme no para-brisa como por estas paragens, algo que deveria ser punido com prisão perpétua na minha opinião. Faz tanto calor por lá que os pontos de ônibus são fechados com portas automáticas e um fantástico ar-condicionado. Maravilha!
E por falar em velocidade, bati meu recorde em montanha russa, algo que simplesmente adoro e que felizmente conto com a cumplicidade do meu marido, também apaixonado por isso. Claro que fomos ao parque da Ferrari em Abu Dhabi e andamos nos brinquedos mais radicais. Na montanha russa Formula Rossa se vai de 0 a 240 km/h em 4,9 segundos. Sim, 240 km/h. Fomos duas vezes, na primeira fileira numa delas. Bárbaro, mas não comprei nenhuma das fotos porque simplesmente saí com uma cara horrorosa. Me fizeram deixar tudo antes de embarcar, incluindo minha fivela e colocar uns óculos transparentes para evitar insetos e outros inconvenientes. Imagina o cabelo esvoaçante, nessa velocidade, com óculos tipo formiga atômica e o rosto repuxado como numa plástica malfeita? Era eu. E além da velocidade tem o chacoalhar e virar de um lado para o outro a até 52 metros de altura e com uma força G de 4,8. Para atingir essa velocidade, o sistema usa propulsão tipo catapulta de porta-aviões. E foi exatamente assim que me senti nos 2,2 quilômetros do percurso. Engraçadíssimo ver que na volta eles resfriam os freios dos carrinhos, como na Fórmula 1.
Achei hilário o vídeo que pode ser visto na fila de espera, com o Fernando Alonso e o Kimi Räikkönen andando na Formula Rossa. Enquanto o espanhol fazia caretas e se divertia, o finlandês parecia que andava de bonde a 30 km/h pelo jardim botânico. Impávido. Gosto muito dele e adoro esse jeitinho blasé dele, ainda que saiba que faz gênero também.
A Flying Aces simula um voo de avião e tem o looping mais alto do mundo. Atinge 63 metros de altura com 51 graus de inclinação a 120 km/h. Também não apta para cardíacos. Fomos duas vezes, uma também na primeira fila. Mas a pegadinha maior está para quem senta nas extremidades, pois o assento fica pendurado e a força G é brutal. Tanto que na segunda vez troquei de lugar com meu marido, pois ele tinha ficado com o pescoço doendo — mas não deixou de ir. Tive de fazer realmente muita força para não ficar parecendo a Linda Blair em “O Exorcista”.
E a terceira atração radical (a quarta montanha russa era mais convencional) a Turbo Track também é para amantes da velocidade e gente que não precise de Dramin. O carrinho sai a milhão (eu estava de costas), faz um looping e volta em queda que simula gravidade zero. Só isso…
Mudando de assunto: domingo de GP de Mônaco e 500 Milhas! Fórmula 1 meio chatinha, só vale pelo charme do circuito. E ainda passei raiva com o favorecimento da Ferrari ao Vettel. Ele não precisaria disso – ou não deveria precisar. O Kimi só se deu bem na entrega dos prêmios — foi o único que recebeu o troféu das mãos da linda princesa e ganhou beijinho dela. Mas nem assim dá para esquecer a manobra escusa que jogou o finlandês no meio do trânsito na hora errada apenas para favorecer o alemão. Já na Indy sobrou emoção. Será que o Alonso gritou “GP2, GP2”? Adorei ver o Sato ganhar a corrida. Desde a F-1 acho ele o mais talentoso dos japoneses e lembro de algumas manobras realmente boas dele naquela época. E o Scott Dixon? Nasceu de novo. Mas depois de passar tanto tempo na Nova Zelândia achei até natural a entrevista dele, como se não tivesse acontecido nada. Também, é no país dele que se inventou o bungee jump como ele existe hoje, o barco a propulsão shotover (e é lá que eles dirigem aquilo a milhão num cânion, passando a um metro dos paredões) e onde vi a maior quantidade de lugares para pular de paraquedas ou qualquer outra coisa bem emocionante. Está no DNA deles, acho.
NG
(Atualizado em 31/05/17 às 19h45, inclusão de tabela com estatísticas da autoridade de trânsito do Emirados Árabes Unidos)