Oito e meia da manhã. O céu está claro e o sol forte, de brigadeiro, como dizem, mas não vamos voar hoje, não pelos céus. Após me aprontar, desço à garagem com as chaves em mãos, ao abrir a porta vejo meu carro adormecido em sua vaga, me esperando. Ele não é o mais potente, nem o mais bonito ou confortável. Também está longe de ser o mais tecnológico, pois suas inovações têm praticamente a minha idade.
O que o torna especial transcende a razão, pois ele é especial pelo que vivemos juntos e pelo que ele significa para mim. Abro a porta e sinto seu cheiro característico, que não é de novo. Fecho a porta, prendo o cinto e giro a chave. No momento em que ele desperta, uma sensação de alívio que só quem já teve que trocar um motor pode sentir. A vibração da marcha-lenta está normal como de costume, donos como eu conseguem distinguir as menores alterações na mecânica de seus companheiros, dado o amor e carinho que possuem com estes objetos.
Após sair da garagem, deixo os vidros abertos para que o ar frio da manhã entre no carro e parto rumo à estrada mais próxima, um lugar onde ele pode “esticar as pernas” e eu posso curtir essa ligação entre o homem e a máquina. O som, acessório indispensável ao volante, dá o tom da guiada, que hoje contempla estilos propícios para o passeio sem pressa com o companheiro.
O prazer de guiar sem pressa e sem destino definido dá a sensação de liberdade que muitos nunca experimentaram, mas que para nós amantes de carros, beira o indescritível. Essa conexão chega a ser boba para muitas pessoas, mas para os “gearheads” é algo bastante natural.
É difícil descrever a sensação de dirigir, mas enquanto escuto o motor subindo de giro, sinto as vibrações do carro sobre o asfalto, a direção direta e leve, tenho certeza de que sempre sentirei esta paixão que me acompanha por toda a vida.
Durante o passeio, eu poderia usar o tempo para pensar na vida, mas por mais difícil que seja de explicar eu não faço isso, pois aquele momento deve ser saboreado e serve como válvula de escape do estresse do dia a dia. Além do mais, por mais que eu quisesse usá-lo para isso, a vontade de aproveitar o passeio é maior e dita o ritmo de como será a condução dos próximos quilômetros.
A sensação de calma e tranquilidade é acentuada pelas paisagens que nunca notei antes, mas que naquele momento completam muito bem o cenário propício para aumentar ainda mais o vínculo homem-máquina.
Você reparou que não falei o modelo do meu carro, o local do passeio ou as músicas da minha experiência? É que para isso acontecer basta que você goste do seu carro, tenha músicas que lhe emocionem e tenha à disposição uma paisagem bacana. Essa é a beleza de gostar de algo, ele é especial para cada um e por mais que eu gaste horas comentando do meu, ele não será igual ao seu, pois o amor não precisa ser explicado ou justificado, ele apenas acontece, e você deve ser feliz por sentir algo assim, pois o ser humano é vazio quando não sente amor por algo ou alguém.
Conrado Pimenta
Belo Horizonte – MG