A segunda semana com o Fiat Argo 1,3 GSR foi de confirmações. A novidade produzida em Betim rodou a quase totalidade do tempo em cidade — à exceção de míseros 40 km rodoviários — mas, diferentemente da primeira semana onde o vermelhíssimo Fiat se arrastou de um congestionamento a outro, este período foi mais fluido, como comprova a média horária: de medíocres 13,8 km/h na semana passada a melhores 21 km/h nesta.
Falei de confirmações e a maior delas, talvez, seja a referente ao ajuste de suspensões primoroso, aliás um padrão dos demais Fiat destes últimos anos. Na péssima pavimentação paulistana o Argo desliza de modo soberbo, mascarando irregularidades, transmitindo pouco desconforto para a cabine, dando sensação de robustez favorecida pela boa escolha de rodas e pneus, medidas 185/60R15H, um opcional, tendo em vista que a medida padrão é 175/65R14T. Arrisco dizer que mesmo não tendo andado em um Argo equipado com a rodagem padrão, a excelência do acerto de molas, amortecedores e seus parceiros — barra estabilizadora, buchas, coxins, etc… — se manteria.
Não é apenas uma questão de digerir bem piso ruim, mas sim de fazer isso e o restante, ou seja, oferecer sensação de conforto e controle associada à estabilidade. Neste cenário palmas também merece o sistema de direção, leve em manobras e com peso justo na velocidade rodoviária que experimentamos por mínimos quilômetros, mas suficientes para tal afirmação.
Quanto ao motor do Argo, o quatro-em-linha de 1,3 litro batizado de Firefly, também confirmo a suavidade mencionada no primeiro relato e a capacidade de mover o Argo de modo mais do que competente neste vai e vem pela capital paulista. Andando pelas vias expressas razoavelmente livres, a 90 km/h, ou mesmo aos 110-120 km/h no pulinho que dei até a região de Guarulhos pela Via Dutra, a sensação é de plena suficiência. Agora abastecido com gasolina, que fez a cavalaria cair (de acordo com a ficha técnica) de 109 para 101 cv e o torque de 14,2 para 13,7 m·kgf, o motorzinho ainda empurra o Argo com gosto: a 3.500 rpm em 5ª marcha ele está no ápice do torque mas, mesmo a rotações mais baixas, entre 2~2,5 mil rpm, o “punch” do Firefly é mais do que razoável para a 1,2 tonelada do hatch levando condutor e acompanhante, sem bagagem.
É claro que além dos 120 km/h a progressão não tem nada de espetacular e nem poderia ser, mas o termo “manco” não se aplica ao Argo 1,3 nem de longe, porém a checagem da adequação deste Fiat ao uso rodoviário está prevista para a semana que entra, quando uma viagem de mais de mil quilômetros certamente será bem esclarecedora.
Voltando ao uso desta semana, sinceramente não senti grande diferença na passagem do álcool à gasolina em uso urbano. No entanto o consumo evidentemente melhorou e dos 6, 3 km/l em trânsito pesado com o álcool passei a bem mais aceitáveis 11,1 km/l com o derivado de petróleo batizado que no Brasil vendem como sendo gasolina. Relembro que para esta marca colaborou não apenas o curto trecho de rodovia como a boa dose de via expressas.
Agora, a pergunta que não quer calar: e o câmbio automatizado GSR, como foi? Foi… bem! Mais habituado a ele, reafirmo que se trata de um dos melhores — senão o melhor — automatizado que já usei. Aliás, dirigindo com vidros abertos ouve-se a ação dos atuadores, um clec-clec quase que imperceptível, bem diferente do elevado ruído do Audi A1 com o qual convivi anos atrás, equipado com câmbio automatizado de dupla embreagem. Ponto para a FCA.
Sobre as incertezas do câmbio, elas ocorrem raramente em situações padrão, como, por exemplo, chegando com rapidez a um aclive forte, freando intensamente e passando o pé ao acelerador. O Argo precisa de um tempinho para reduzir e “entender” que é a 1ª a marcha adequada. Em defesa ao sistema digo que, na mesma situação em um câmbio manual, o tempo de tal manobra – pé na embreagem enquanto freamos, redução de marcha até 1ª e soltar a embreagem reacelerando – não seria menor do que o GSR é capaz de fazer. O problema é que em um carro automatizado o motorista em vez de estar usando pés e mão na ação, usa apenas o pé direito e terá tempo de sobra para ficar ansiosamente esperando a eletrônico agir, e achar que poderia fazer melhor.
O automático convencional, epicíclico, ou o CVT, fariam melhor? Sim, fariam. Custando mais tanto em termos de custo de produção (certeza) quanto na manutenção (suponho), o GSR é uma boa solução. Mas não é ótima. A Fiat não cobra pouco pelo seu automatizado, algo como 5 mil reais de sobrepreço face ao Argo manual, mas é este “plus” o truque que permite à empresa oferecer o seu hatch forrado de itens que a concorrência equipada com câmbio CVT ou automáticos puros não disponibiliza, ou cobra por eles.
Dizer que sou um fã do câmbio GSR seria errado. Apenas entendo ser ele uma alternativa válida que merece ser explicada (como tento fazer…) e consequentemente compreendida. Com certeza o dado de consumo positivo tem a ver com o GSR: estes 11,1 km/l de consumo com gasolina ou os 6,3 km/l com álcool seriam marcas fora do alcance caso o sistema de câmbio não fosse o automatizado.
O que mais a dizer sobre a semana número dois com o Argo? Que há muita curiosidade por parte do público manifestada no semáforo, no estacionamento ou no posto de combustível. Que também é surpreendente a qualidade do aparato de insonorização pois quase não se ouve motor a não ser quando a rotação sobe demais. Elementos como bancos de boa conformação, volante de ótima empunhadura e a boa visibilidade oferecida pelos grandes espelhos retrovisores laterais (comando de ajuste elétrico) e o conforto da câmera de ré fazem a diferença — para melhor — no uso citadino. Até mesmo o controle do câmbio feito por botões é algo que vem melhorando: ainda preferiria uma alavanca ou que o posicionamento de tais comandos fosse outro mas, já estou quase acostumado. Ah, e ele não raspa facilmente suas partes inferiores nas entradas de garagem. Que bom!
Como dito a previsão agora é botar o Fiat Argo 1,3 GSR para fazer uma viagem longa e verificar suas habilidades rodoviárias. Na semana que vem, mais informação sobre a novidade.
RA
Leia o relatório anterior: 1ª semana
FIAT ARGO DRIVE 1,3 GSR
Dias: 14
Quilometragem total: 713 km
Distância na cidade: 673 km (94%)
Distância na estrada: 40 km (6%)
Consumo médio: 8,8 km/l (33% álcool – 67% gasolina)
Melhor média: 6,3 km/l (álcool)
Pior média: 6,3 km/l (álcool)
Melhor média: 11,1 km/l (gasolina)
Pior média: 11,1 km/l (gasolina)
Média horária: 19,9 km/h
Tempo ao volante: 37h51minutos
FICHA TÉCNICA ARGO DRIVE 1,3 GSR | |
MOTOR | |
Designação | Firefly 1,3-L |
Descrição | 4-cil em linha, bloco e cabeçote de alumínio, monocomando com variador de fase 2 válvulas por cilindro, flex |
Cilindrada (cm³) | 1.332 |
Diâmetro e curso (mm) | 70 x 86,5 |
Taxa de compressão (:1) | 13,2 |
Potência (cv/rpm, G/A) | 101/6.000//109/6.250 |
Torque (m·kgf/rpm, G/A) | 13,7/14,2/3.500 |
Formação de mistura | Injeção no duto Magneti Marelli, ignição integrada ao módulo |
TRANSMISSÃO | |
Tipo | Transeixo com câmbio robotizado de 5 marchas mais ré, tração dianteira |
Relações das marchas (:1) | 1ª 4,273; 2ª 2,316; 3ª 1,444; 4ª 1,029; 5ª 0,795; ré 4,200 |
Relação de diferencial (:1) | 4,200 |
Dianteira | Independente, McPherson, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira eletroassistida, indexada à velocidade |
FREIOS | |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado/257 |
Traseiros (Ø mm) | Tambor/203 |
Controle | ABS (obrigatório) e distrib. eletrônica das forças de frenagem |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Aço, 5,5Jx14 (Opcional: alumínio 6Jx15) |
Pneus | 175/65R14T (Opcional: 185/60R15H) |
Estepe | Igual ás demais rodas |
CARROCERIA | Monobloco em aço, hatchback, quatro portas, cinco lugares |
CAPACIDADES (L) | |
Porta-malas | 300 |
Tanque de combustível | 48 |
PESOS (kg) | |
Em ordem de marcha | 1.148 |
Carga útil | 400 |
Peso rebocável sem freio | 400 |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 3.998 |
Largura sem espelhos | 1.724 |
Altura | 1.500 |
Distância entre eixos | 2.521 |
Bitola dianteira/traseira | 1.465/1.500 |
Distância mínima do solo | 149 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s, G/A) | 11,8/10,8 |
Velocidade máxima (km/h, G/A | 180/184 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBVE | |
Cidade (km/l, G/A) | 12,9/9,2 km/l |
Estrada (km/l, G/A) | 14,4/10 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 5ª (km/h) | 33,1 |
Rotação a 120 km/h, em 5ª (rpm) | 3.620 |
Rotação à vel. máxima em 5ª (rpm) | 5.600 |