Caso o leitor ou leitora tenha lido o teste “no uso” que há um ano fiz do Nissan Kicks com câmbio CVT, possivelmente terá notado que, apesar de achá-lo bom, não me despertou lá muito entusiasmo. Porém agora, testando-o com câmbio manual, a coisa mudou, pois o que era um bom meio de transporte se tornou um objeto do qual também se extrai prazer. E adianto, é um prazer que custa pouco, já que é de impressionar o quão econômico é esse motor 1,6-litro de 114 cv, mesma potência com gasolina ou álcool.
Também impressiona o quanto rendem esses divulgados 114 cv a 5.600 rpm. Não é de hoje que os motores da Nissan parecem mais potentes do que divulgam. Lembro que, anos atrás, ao testar o Nissan Tiida e a minivan Livina, achava estranho que aquele motor de 1,8 litro entregasse só 126 cv, parecia bem mais, no mínimo uns 140 cv. Não é uma contestação, não é uma dúvida; as potências são essas mesmas, óbvio, e o que fica são elogios a como seus motores entregam sua potência.
O segredo deste 1,6-l de 4 válvulas por cilindro está no sistema de variação contínua da fase de abertura das válvulas. Já a 3.500 rpm o motor dá sinais de encorpar, e pouco acima de 4.000 rpm sua pegada já vem com tudo, e assim vai rápido, bem forte, a 6.500 rpm, quando vem o corte limpo. Delicioso. E o legal disso é que não temos peso na consciência por “desperdiçar” combustível, já que não me lembro de testar outro carro onde o modo de guiar influísse tão pouco no consumo. Ou seja, pode andar rápido que ele vai continuar gastando pouco, mas pouco mesmo.
Com gasolina, na cidade fez acima de 10 km/l e na estrada sempre acima de 14 km/l. Num trecho de 30 km relativamente plano da rodovia Ayrton Senna fez 16,1 km/l rodando a 120 km/h reais, em que o giro em 5ª e última marcha é 3.650 rpm. Isso para um carro desse porte e aerodinâmica é adequado. Para a cidade, onde o que interessa é o peso, ele tem a vantagem de ser leve: só 1.109 kg em ordem de marcha. Na estrada, onde o que interessa é o arrasto aerodinâmico, ele tem bom Cx para um suve: 0,34. E um belo motor. Parecia até que estava usando gasolina de verdade e não a nossa mistura com 27% de álcool. Seu tanque de combustível, mesmo diante do baixo consumo, poderia ser maior. Pega só 41 litros.
O que se passa aqui, esse aumento de simpatia pelo modelo, também se passou quando testei o Honda Fit com câmbio manual logo após testar o City de mesma mecânica com câmbio CVT: fiquei também impressionado com a radicalidade da mudança, pois aí, sim, tive condições de sentir o comportamento desse motor Honda e me encantar com ele. Isso acontece porque, dependendo do CVT, ele amortece, mascara o motor, pois com ele não importa muito “como” o motor disponibiliza sua potência. Você acelera a fundo, o giro sobe direto lá para cima, fica lá, e o carro vai embalando como pode. Não se nota as diferentes repostas que o motor dá ao longo de sua faixa de giro. Um carro com motor elétrico não é muito diferente disso.
Enfim, avaliar o motor de um carro cujo câmbio é CVT, é similar a um enólogo provar um vinho tendo que sorver o copo numa só talagada. Da experiência ele não terá muito que falar. Já o câmbio manual é o que melhor permite apurar as nuances de um motor. Quanto à diferença de consumo entre CVT e manual, não obtive diferenças palpáveis. Deu na mesma. O Inmetro só divulga o consumo com CVT: 9,6/8,1 km/l na cidade e 13,7/11,4 km/l na estrada.
O trambulador do câmbio, de comando a cabo, está entre os melhores. De movimentos curtos e engates leves e precisos, só merece elogios. O escalonamento de marchas está correto, sem buracos entre elas, e mais uma vez se confirma a desnecessidade de mais que cinco marchas quando se tem um motor potente e elástico levando um veículo leve.
Seus 114 cv vêm a 5.600 rpm e o torque máximo de 15,5 m·kgf, a 4.000 rpm. A taxa de compressão de 10,7:1 é que é baixa para tempos de gasolina (com álcool) de boa octanagem, 95 RON. A suspensão é simples e eficaz, McPherson na frente e eixo de torção atrás; sua altura livre do solo é de 200 mm. Os freios são a disco ventilado na dianteira e a tambor, na traseira. Há controle de tração e estabilidade, desligável. A direção é eletroassistida e bem indexada à velocidade, bem leve na cidade e firme na estrada.
O porta-malas é de 432 litros e vem um acessório muito prático para quem pratica esportes náuticos: um plástico duro com bordas altas, onde se pode jogar roupas de surfe sem o perigo de molhar e/ou sujar a forração.
Agrada particularmente seu comportamento em curva, mais a direção razoavelmente rápida e precisa. Suspensão mais para firme que macia, porém não ríspida. Veio com pneus Continental ContiPowerContact 205/60R16H, silenciosos e bons de chuva.
A posição dirigir é ótima, confortável e com boa ergonomia para o motorista. Os instrumento são de fácil e rápida leitura, muito parecidos com os dos VW. Os comandos são todos simples e intuitivos, uma característica da marca, a descomplicação. Os pedais são bem posicionados, é fácil fazer o punta-tacco. O Kicks é mesmo um bom estradeiro. Nela quatro adultos viajam com conforto e espaço de sobra.
Falta um pouco de isolamento acústico, notando-se ruído do motor e da suspensão trabalhando, porém não é nada dramático.
Desde o começo do anos o Kicks é fabricado em Resende, RJ, e o preço desta versão de entrada é R$ 71.990.
Um bom, espaçoso e econômico suve compacto, gostoso de dirigir e que encanta os de espírito jovem, não só pelo desenho, mas também pela função. Sua versão mais cara custa R$ 98.390, ou seja, o equivalente a esta de entrada mais uma inesquecível viagem de meses pelas paradisíacas Ilhas dos Mares do Sul.
AK
(Atualizado em 30/10/17 às 23h30. inclusão de vídeo)
Veja o vídeo:
FICHA TÉCNICA NISSAN KICKS 1,6 S 2018 | |
MOTOR | |
Designação | HR16DE 1,6 |
Tipo | Dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, bloco e cabeçote de alumínio, 16 válvulas, duplo comando de válvulas, corrente, variador de fase na admissão e escapamento, atuação de válvulas direta por tuchos-copo, flex |
Cilindrada (cm³) | 1.598 |
Diâmetro x curso (mm) | 78 x 83,6 |
Potência (cv/rpm, G/A) | 114/5.600 |
Torque (m·kgf, G/A) | 15,5/4.000) |
Corte de rotação (rpm) | 6.500 |
Taxa de compressão (:1) | 10,7:1 |
Formação de mistura | Injeção no duto |
TRANSMISSÃO | |
Tipo | Transeixo manual de 5 marchas à frente e uma à ré |
Relações das marchas (:1) | 1ª 3,727; 2ª 1,957; 3ª 1,233; 4ª 0,903; 5ª 0,738 |
Relação do diferencial (:1) | 4,929 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira eletroassistida indexada à velocidade |
Voltas entre batentes | 3,1 |
Relação da direção (:1) | 16,8 |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 10,2 |
FREIOS | |
De serviço | Hidráulico servoassistido a vácuo, duplo circuito em diagonal |
Dianteiros | A disco ventilado |
Traseiros | A tambor |
Controle | ABS de 4 canais e 4 sensores com EBD e auxílio à frenagem |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Aço, 16” |
Pneus | 205/60R16H |
Marca e modelo | Continental ContiPowerContact |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 4.295 |
Largura | 1.760 |
Altura | 1.590 |
Distância entre eixos | 2.610 |
Bitola dianteira/traseira | 1.520/1.535 |
Distância mínima do solo | 200 |
Profundidade de vau | 450 |
Ângulo de entrada (º) | 20 |
Ângulo de saída (º) | 28 |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente aerodinâmico (Cx) | 0,345 |
Área frontal calculada (m²) | 2,25 |
Área frontal corrigida (m²) | 0,776 |
PESOS E CAPACIDADES | |
Peso em ordem de marcha (kg) | 1.109 |
Carga útil (kg) | 427 |
Distribuição do peso D/T (%) | 62/38 |
Peso rebocável sem freio (kg) | 350 kg |
Porta-malas (L, VDA) | 432 |
Tanque de combustível (L) | 41 |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Monobloco em aço, suve, 4 portas, 5 lugares, subchassi dianteiro |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s) | 11 (estimada) |
Velocidade máxima (km/h) | 180 (estimada) |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBVE (com câmbio CVT, manual n.d.) | |
Cidade (km/l, G/A) | 11,4/8,1 |
Estrada (km/l, G/A) | 13,7/9,6 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 5ª (km/h) | 32,8 |
Rotação a 120 km/h (5ª) | 3.650 |
Alcance nas marchas a 6.500 rpm (km/h) | 1ª 42; 2ª 80; 3ª 128; 4ª 174 |
INFORMAÇÕES ADICIONAIS | |
Intervalos de revisão/óleo | 10 mil km ou 1 ano |
Garantia | 3 anos |