Sim, a clássica viagem ao litoral norte paulista com o Honda Civic Touring aconteceu. Sem rodeios, vou a um ponto que considerei surpreendente neste trajeto que para mim é uma verdadeira pista de teste: o consumo.
No final do trecho de ida, no qual segui rigidamente os limites de velocidade — muitas vezes ridículos de tão baixos — li no confiável computador de bordo do Civic impressionantes 17 km/l de média de consumo, registro este que incluiu a sempre arrastada saída da cidade de São Paulo em uma tarde de trânsito difícil (qual não é?), quase uma hora para percorrer os cerca de 20 km que separam a garagem de casa do início da rodovia Ayrton Senna.
Estes 17 km/l é uma marca que dá ao Civic Touring um surpreendente 2º lugar no ranking do consumo nesta manjada viagem de pouco mais de 200 km, que sempre que possível é incluída no cardápio servido aos carros testados no “30 Dias”. Com ela o Civic Touring perde por pouco para o recordista desta mesma viagem, o híbrido Toyota Prius, que fez 17,5 km/l no percurso planalto paulista-litoral norte.
Na viagem de volta, além de um pé mais pesado e da subida da serra, contribuiu para uma marca pior, 15 km/l (!!!), deixar a tecla “Econ” desligada (ela altera diversos parâmetros — ar-condicionado, resposta do acelerador e outros, visando economia). O Civic perdeu de novo para o Prius, conseguindo a média de 15 km/l enquanto o Toyota obteve 16,9 km/l.
Esta “derrota” é assim mesmo, entre aspas pois me parece injusto comparar um automóvel convencional, que explora unicamente a energia derivada da combustão da gasolina (lembremos que o Civic, assim como o Prius, não aceitam o álcool puro), com um carro que, além do motor convencional, térmico, tem motor elétrico.
A brutal capacidade do Civic Touring de aproveitar cada gota de combustível com exemplar eficiência tem nome: tecnologia, e da melhor! O moderno motor de 4 cilindros em linha de comandos de válvula que variam a abertura e fechamento das 16 válvulas conforme a necessidade, tem apenas 1,5 litro de cilindrada e por conta disso, ser pequeno, oferece “meio caminho andado” no sentido da economia, pois quanto menor a cilindrada, menor o atrito interno. A outra metade do caminho se deve à superalimentação, a excelente colaboração da pequena turbina que se encarrega de movimentar o compressor, que entra em cena nas situações que exigem mais força, e maior mistura ar e combustível nas câmaras de combustão. Ou seja, os 173 cv só saem do estábulo caso haja necessidade. Outro fator de modernidade deste motor é o torque máximo, 22,4 m·kgf, já presente a 1.700 rpm, se esparramar sem declínio até as 5.500 rpm, que aliás é o regime no qual aparece a potência máxima.
Nas vias expressas da cidade, com trânsito normal, o Civic Touring consome pouca gasolina; faixa degradê no para-brisa contribui para a sensação de conforto
O Civic é um carro extremamente suave na tocada branda, mas nas poucas vezes que afundei o pé no acelerador com fé o Civic atendeu à expectativa. Apesar de um levíssimo retardo na resposta, típico dos motores superalimentados, quando preciso o Civic mostra as garras e revela uma potência mais do que o suficiente para progredir rapidamente. Não é um Civic Si mas empolga, mesmo se o câmbio é um CVT, que favorece o conforto mas não exalta o desempenho.
Nas mais de três horas passadas ao volante, o mais caro dos Civic confirmou os excelentes dotes de conforto comentados nos dois relatórios anteriores. As suspensões filtram mesmo tudo sem deixar o carro molenga, o silêncio a bordo é de referência e a ergonomia do posto de condução é exata.
Tanto para ir como para voltar de Ubatuba o Civic teve de encarar chuva, que variou de uma leve garoa à forte tempestade e também muita neblina. Neste clima houve chance de atestar que tanto os limpadores de para-brisa, quanto o sistema de ventilação, climatização são competentes. Ah, e ia esquecendo de dizer: na viagem de ida o ar-condicionado ficou desligado 80% do tempo, deixando assim a tarefa de ventilação do interior à cargo do teto solar, levantado apenas na parte traseira o que provoca uma excelente exaustão. Na viagem de retorno, o ar-condicionado ficou ligado a maior parte do tempo.
Encarar alguns trechos de calçamento muito irregular e uns 700 metros de estrada de terra batida não se constituiu em problema, mesmo se em mais de uma vez senti o controle de tração atuando para valer, praticamente evitando qualquer patinadinha que fosse. Outro bom aspecto foi ver que no acidentado percurso nas proximidades da casa de praia nada raspou no solo, o que indica que as irregularidades por vezes pronunciadas podem ser encaradas sem muita cerimônia.
Na preparação para o passeio rodoviário, a colocação da bagagem no porta-malas amplo exigiu um pequeno cuidado: as dobradiças da tampa, tipo pescoço de ganso, não permitem vacilar, pois elas invadem bem a área interna do compartimento de bagagem.
Uma boa notícia — ótima, aliás — vem do sistema de iluminação: faróis totalmente em LED, tanto no baixo quanto no alto (e também no par de auxiliares de neblina) garantem uma bem-definida área de luz que praticamente dispensou o uso do facho alto na noite chuvosa.
Como regra desta viagem-teste, a subida da rodovia dos Tamoios permite explorar as qualidades dinâmicas do carros no trecho de serra, que alterna curvinhas de 60 km/h com as mais excitantes curvões onde seria possível, lei e especialmente o bom-senso permitindo (!!!) explorar os limites do Civic Touring.
Equipado com controle de estabilidade, o Honda se destaca pela segurança e pelas discretas intervenções do sistema que só apareceram de fato quando, propositalmente, exagerei na dose do acelerador e ação no volante. De um modo geral muito neutro, o Civic reage de modo saudável quando provocado naquela que é a pior malvadeza que se possa fazer com um carro de tração dianteira: entrar forte e, no momento do apoio máximo, tirar o pé do acelerador e fechar o volante, quase que implorando para a traseira passar à frente. O Civic não cai no truque facilmente, não demonstra desequilíbrio e a atuação da eletrônica é ao mesmo tempo exata e quase que imperceptível.
Em apenas uma condição percebi alguma possibilidade de o Civic “perder o pé”: em um trecho de asfalto muito irregular onde era necessário passar do apoio extremo de um lado do carro ao outro. Ao fazer isso acelerando fundo, o que é um ponto positivo do Civic — a direção rápida, 2,2 voltas de batente a batente — pode se tornar um ponto negativo, exigindo do condutor precisão cirúrgica no controle do carro e apontá-lo para onde se quer ir. Porém friso: isso só acontece no exagero máximo, ao qual dificilmente o dono padrão de um Civic Touring irá submetê-lo.
Ainda na semana um bate e volta à Indaiatuba pela excelente rodovia dos Bandeirantes comprovou as habilidades do Touring quando o assunto é viajar — e economizar gasolina. Ida com pressa, 13,9 km/l. Volta calma, 14,7 km/l. Silêncio, conforto e sensação de segurança plena.
Encerro o relato tentando lembrar de algo que não faça você, leitor ou leitora, achar que estou babando o ovo demais em relação a este automóvel. Tento, tento e tento lembrar de algo que não me agrada neste carro — e que não esteja relacionado a gosto pessoal — mas não consigo. Me vem à mente apenas bobagenzinhas como, por exemplo, o fato de que talvez preferisse ter o teto forrado com material claro em vez do preto usado no Touring. Ou talvez que a central multimídia fosse menos enigmática para alguns procedimentos.
Todavia, a uma semana do encerramento do teste, não há mais como não concluir que a Honda fez uma belíssima “lição de casa” ao bolar esta 10ª geração do carro mais vendido de sua história, muito possivelmente o melhor de todos Civic desde sempre.
Para o encerramento do teste, adivinhe? Muito uso urbano e a visita à Suspentécnica, para enfiar o nariz nas partes que este belo e excelente Honda esconde sob o assoalho…
RA
Leia os relatórios anteriores: 1ª semana 2ª semana
Honda Civic Touring
Dias: 21
Quilometragem total: 1.818 km
Distância na cidade: 1.101 km (60,6%)
Distância na estrada: 717 km (39,4%)
Consumo médio: 9,7 km/l
Melhor média: 17,0 km/l
Pior média: 5,8 km/l
Média horária: 25 km/h
Tempo ao volante: 73h49minutos
FICHA TÉCNICA HONDA CIVIC TOURING 2017 | |
MOTOR | Quatro cilindros em linha, bloco e cabeçote de alumínio, transversal, 16 válvulas, duplo comando no cabeçote acionado por corrente, variador de fase admissão e escapamento, turbocompressor com interresfriador, gasolina |
Cilindrada (cm³) | 1.498 |
Diâmetro e curso (mm) | 73 x 89,5 |
Taxa de compressão (:1) | 10,6:1 |
Potência máxima (cv/rpm) | 173/5.500 |
Torque máximo (m·kgf/rpm) | 22,4/1.700~5.500 |
Formação de mistura | Injeção direta |
TRANSMISSÃO | |
Câmbio | Transeixo dianteiro automático CVT |
Relações de transmissão (:1) | 2,645 a 0,405; ré 1,858 a 1,264 |
Espectro das relações (:1) | 6,53 |
Relação de diferencial (:1) | 4,81 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço inferior triangular com buchas hidráulicas, mola helicoidal, amortecedores pressurizados e barra estabilizadora |
Traseira | Independente, multibraço com buchas hidráulicas, mola helicoidal, amortecedor hidráulico e barra estabilizadora |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, eletroassistida com pinhão duplo, relação variável e indexada à velocidade |
Voltas entre batentes | 2,2 |
Diâmetro do aro do volante (mm) | 360 |
Diâmetro mínimo de giro (m) | 11,2 |
FREIOS | |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado/282 |
Traseiros (Ø mm) | Disco/260 |
Controle | ABS (obrigatório), EBD e assistência à frenagem |
RODAS E PNEUS | |
Rodas (pol.) | Alumínio, 7Jx17 |
Pneus | 215/50R17V (Bridgestone Turanza ER33) |
Estepe temporário | T135/80JC16M |
CARROCERIA | Monobloco em aço, sedã 3-volumes subchassi dianteiro, quatro portas, cinco lugares |
CAPACIDADES (L) | |
Porta-malas | 519 |
Tanque de combustível | 56 |
PESOS (kg) | |
Em ordem de marcha | 1.326 |
Capacidade de carga | 409 |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 4.637 |
Largura com espelhos | 2.076 |
Altura | 1.433 |
Distância entre eixos | 2.700 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-96,5 km/h (s) | 6,9 (imprensa especializada dos EUA) |
Velocidade máxima (km/h) | 202,7 (imprensa especializada dos EUA) |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
V/1000 c/ rel. mais longa (km/h) | 62,6 |
Rotação a 120 km/h, idem (rpm) | 1.900 |
MANUTENÇÃO | |
Troca de óleo do motor (km/tempo) | 10.000/1 ano |
Revisões (km/tempo) | 10.000/1 ano |
GARANTIA | |
Termo (tempo/anos) | Três anos |