Testei a mais recente versão da Toyota Hilux, mas antes havia um desafio a superar.
À minha frente um painel em contagem regressiva. Luzes vermelhas indicando que ainda não era o momento. Tenso, olhava ao meu redor disfarçando o (sempre presente) nervosismo daquela largada. Sentado num posto que há muitos anos não ocupava, estava ainda, mentalmente, “repassando” as técnicas que eu deveria usar dali para frente. O clima ameno e o ar-condicionado ligado, certamente, disfarçavam um possível suor causado pela situação. E, rapidamente, a contagem regrediu — 5, 4, 3, 2, 1 — e, finalmente, a luz verde acendeu indicando que estava começando o nosso desafio, eu como “navegador” na primeira etapa do Hilux Expedition 2017, uma prova de regularidade que a Toyota organiza para seus clientes. Foi o meu desafio.
Nessa primeira etapa de 2017, realizada em outubro, a Toyota convidou alguns meios de comunicação para irem até Ribeirão Preto (SP) conhecer o evento e, principalmente, a nova versão SR Challenge de sua consagrada picape, da qual falarei adiante. E lá fui eu representando AUTOentusiastas participar da prova, conhecer e testar o lançamento para 2018, que está sendo vendido por R$ 161.990.
Dada a largada, era hora de manter a concentração e passar, da melhor forma possível, as instruções para o Flávio Verna, do site 4x4Brasil, que me acompanhou nesse desafio e aventura. Voltado para iniciantes, a planilha bem-feita era boa de navegar, o que me tranquilizou, já que fazia muitos anos (muitos mesmo!) que eu não ocupava o banco da direita no papel de navegador. Embora eu não possa negar que tenho um bom conhecimento sobre o assunto pelos muitos (muitos mesmo) anos em que participei e trabalhei com ralis de regularidade, algo que eventualmente ainda faço, fazia muitos anos que eu não navegava.
Ainda assim, minha experiência maior sempre foi navegar com a utilização de equipamentos de navegação, algo que no evento da Toyota não era permitido. Então, digamos, naveguei “à moda antiga”, apenas com a planilha e cronômetro, que nos dizia se estávamos adiantados ou atrasados, já que o intuito de uma prova de regularidade é andar da forma mais precisa seguindo as velocidades médias indicadas pela organização, sempre através da planilha.
E, assim, fomos seguindo pela prova. A trilha era bem tranquila, ainda mais para uma picape com a capacidade da Hilux, embora na nova versão SR Challenge ela não disponha de controle de tração e controle de estabilidade, mas venha equipada com o bloqueio do diferencial traseiro, que sempre ajuda bastante em situações off-road mais críticas, fazendo com que ambas as rodas traseiras tenham tração total todo o tempo quando o dispositivo está acionado. Equipada com controle eletrônico de descida e com reduzida à disposição através de comando eletrônico, a “bruta” encarou sem nenhuma dificuldade tudo o que viu pela frente. Um ponto forte que foi perceptível nessa nova geração é o grande curso da suspensão traseira, nada menos que 520 mm, o que ajuda a manter as rodas em contato com o solo.
Como o Hilux Expedition, cuja inscrição é apenas a doação de 20 kg de alimentos não perecíveis (como tem sido em todos os eventos desse tipo desde 2004), pretende ser um evento onde os clientes podem conhecer melhor e se divertir com seus carros 4×4, no caminho ainda tivemos uma prova especial (de lançamento de dardos, embora houvesse outras duas que poderíamos participar, mas como eram opcionais, escolhemos participar apenas de uma), uma pequena pista de obstáculos off-road para testar um pouco mais as habilidades de pilotos e veículos e uma parada (neutralizado) num belo mirante, na cidade de São Simão, nos arredores de Ribeirão Preto.
Depois de 3h15 de prova chegamos ao final do trajeto, retornando ao mesmo local da largada, uma bela fazenda preparada para receber eventos na cidade de Cravinhos, vizinha de Ribeirão Preto, onde fomos recebidos com festa e um belo almoço. Nada mau. Aos poucos todos os outros competidores iam chegando e, como sempre acontece em ralis, cada um contando suas aventuras, pontos onde se perdeu, onde não conseguiu manter a velocidade média, e assim por diante.
Logo depois do almoço, a sempre tensa divulgação de resultados. Essa divulgação começa com cada um recebendo a sua pontuação, sem ainda saber as dos demais participantes. Ao receber nosso “extrato”, até achei que fomos bem. A comparação com nossos colegas também mostrava isso.
Mas a surpresa mesmo veio com a divulgação final, quando fomos chamados ao lugar mais alto do pódio, tanto da categoria “Imprensa” quanto quando comparado com a pontuação geral. Nada mau. Aliás, muito bom: depois de tantos anos é gratificante navegar e levar um belo troféu para casa.
A Hilux SR Challenge
A nova versão Challenge é baseada na atual geração da Hilux, que já é amplamente conhecida dos leitores do AE, pois foi apresentada em 2015 como nova geração e ano-modelo 2016. O editor Arnaldo Keller fez uma matéria “no uso” com a versão SRX (topo de gama) e o editor-geral Paulo Keller fez uma matéria completa quando do lançamento da nova geração, onde fala das novidades e melhorias que foram implementadas e, claro, permanecem nessa nova versão. Por isso, vou tentar passar o básico e o que é específico dessa nova versão.
Ela mantém a mesma configuração mecânica das outras versões movidas a diesel das picapes Hilux, com motor 1GD d 2,8 litros (2.755 cm³), quatro cilindros em linha, 16 válvulas DOHC (sigla, em inglês, de duplo comando de válvulas no cabeçote) com distribuição por corrente, superalimentado por turbocompressor de geometria variável (VGT) com interresfriador e linha de combustível do tipo common rail (galeria de distribuição de combustível única), e injeção direta. Entrega potência máxima de 177 cv a 3.4o0 rpm e gera torque máximo de 45,9 m·kgf entre 1.600 e 2.400 rpm.
A transmissão é formada por um câmbio automático de 6 marchas, com alavanca seletora em forma de “trilho”, com opção de modo Sport e opção manual e sequencial na própria alavanca, sem que haja borboletas no volante. Existe a possibilidade de opção dos modos de condução “Power” e “ECO”, onde se pode escolher entre uma condução com maior desempenho ou que privilegia maior economia de combustível, respectivamente. Basicamente, a alteração é percebida na resposta do acelerador e no regime de troca de marchas. No modo “ECO” um indicador no painel avisa quando você está, efetivamente, dirigindo de forma mais econômica, orientando e ajudando o condutor a se manter atento e orientado a consumir menos combustível e, consequentemente, emitir menos poluentes.
Completa a transmissão a caixa de transferência com modos 4×2, 4x4H (alta) e 4x4L (reduzida) com acionamento eletrônico no painel central e configuração “optativa” (part-time), ou seja, sem diferencial central e para utilização apenas quando há falta de aderência (se quiser conhecer um pouco mais sobre modos de tração 4×4, leia essa matéria). Para maior capacidade off-road, o eixo traseiro é equipado com bloqueio eletrônico do diferencial, o que permite que ambas as rodas tenham tração total quando o dispositivo é acionado. O acionamento é feito através de botão no painel central.
De forma geral, bastante eficiente na utilização on-road em rodovias e trechos urbanos e também no off-road, onde sempre se espera que esse tipo de veículo sobressaia. Chama a atenção o baixo giro do motor em velocidade de cruzeiro nas rodovias. Para ilustrar, a 120 km/h reais o motor está a 1.900 rpm. O comportamento dinâmico é firme sem ser cansativo, a traseira está bem calibrada e isso é especialmente possível de perceber quando andamos na “terra”, em que os solavancos são mais nítidos. Esse é um fator importante numa picape, e por vezes decisivo, já que o sistema precisa ser dimensionado para carga elevada (até 1.000 kg) e também para rodar “vazia”, como muitas e muitas vezes elas são utilizadas (inclusive, foi assim que a testamos, sem carga).
A nova versão, disponível nas cores vermelha e branca, foi dotada de novo grafismo na caçamba contendo a inscrição 4×4, elementos escurecidos (faróis, lanternas traseiras, estribos, maçanetas das portas, grade dianteira, bordas de para-lamas, para-choque traseiro e rodas) e é apresentada como uma opção “mais aventureira” para utilização off-road do que as outras versões (inclusive, a tradução do nome para o português é “desafio”, que casa bem com a prática do Off-Road), tal como outras marcas ultimamente também lançaram. Complementa o “pacote” o protetor do tipo “Santo Antônio” também na cor preta e a inscrição “Challenge” em recorte na chapa e pintura destacada em vermelho (veja a foto com esse elemento em destaque).
Pneus 265/65R17 Bridgestone Dueler A/T do tipo misto, montados em rodas de 17″ pintadas de preto, compõem o visual da nova versão SR Challenge.
Equipa a SR Challenge um sistema de entretenimento multimídia com tela tátil de 7″. O sistema é montado em sistema “flutuante”, contendo telefonia viva-voz e áudio com conexão Bluetooth, além de USB, entrada auxiliar, GPS nativo, rádio AM/FM, leitor de DVD e TV Digital, com câmera de ré integrado ao sistema. O som é distribuído através de 6 alto-falantes (2 tweeters) e a recepção de FM se dá através de antena no teto. O leitor de discos (CD/DVD) é integrado e fica logo acima da tela.
O sistema de direção é bastante adequado e conta com assistência hidráulica indexada à velocidade. Certamente, a assistência elétrica seria muito bem-vinda e traria maior conforto em manobras e, muito provavelmente, um acerto ainda melhor para rodovias. O volante, encapado em couro com costuras vermelhas, possui alguns poucos comandos, não possuindo a mesma quantidade disponível nas versões mais caras.
Na parte de segurança a SR Challenge tem disponível apenas o par de bolsas infláveis frontais obrigatórias e de joelhos para o motorista. Outras versões são dotadas de maior quantidade de bolsas infláveis; há engates Isofix para dois bancos infantis. Os freios, a disco ventilado na dianteira e a tambor na traseira, têm o também obrigatório sistema antitravamento (ABS), complementado pela distribuição eletrônica das forças de frenagem (EBD) e pelo auxílio à frenagem (BAS). Controle de estabilidade e tração não são disponíveis nessa versão, como já dito.
Depois da vitória no Hilux Expedition, confesso que voltar para São Paulo dirigindo a nova versão Challenge foi ainda mais agradável! Costumo dizer que se percebe a qualidade dinâmica e conforto de um veículo quando, num momento em que você está apenas “conduzindo”, com a cabeça a pensar em momentos felizes e alegres, ele não lhe “faz lembrar” o tempo todo que você está “dirigindo”, exigindo correções de volante, excessivas trocas de marcha (no caso de um carro manual, evidentemente), te traz a sensação de “arrastar-se” pela rodovia e traz um cansaço prematuro e sensível.
Então, voltando de Ribeirão Preto, dirigindo pelos mais de 350 quilômetros que nos separavam de São Bernardo do Campo (onde eu devolveria a picape), pude curtir tranquilamente aquela gostosa sensação que uma boa vitória num rali nos traz. Mérito das qualidades dessa nova geração da Hilux.
Veja o breve vídeo:
Abraços 4×4 e um ótimo 2018 a todos, com muito autoentusiasmo nos próximos 365 dias que se aproximam.
LFC
P.S.: Minhas desculpas aos leitores pelo longo tempo sem publicar novas matérias e à direção do AUTOentusiastas pela demora na compilação desta. O ano de 2017 foi — ainda bem —, muito corrido no nosso trabalho na Trailway com eventos e o tempo se mostrou exíguo demais. Agradeço a compreensão.
FICHA TÉCNICA TOYOTA HILUX SR CHALLENGE 2018 | |
MOTOR | |
Designação/instalação | 1GD/dianteiro, longitudinal |
Material do bloco/cabeçote | Ferro fundido / alumínio |
Configuração / n° de cilindros | Em linha / 4 |
Diâmetro x curso (mm) | 92 x 103,6 |
Cilindrada (cm³( | 2.755 |
Taxa de compressão (:1) | 15 |
Potência máxima (cv/rpm) | 177/3.400 |
Torque máximo (m·kgf/rpm) | 45,9/1.600 a 2.400 |
N° de válvulas por cilindro | Quatro |
N° de comandos de válvulas | Dois, corrente |
Combustível | Diesel |
Formação de mistura | Injeção eletrônica direta por common rail |
Aspiração | Forçada por turbocompressor de turbina de geometria variável com interresfriador |
TRANSMISSÃO | |
Tração/câmbio | 4×2, 4×4 e 4×4 reduzida com acionamento eletrônico, com bloqueio do diferencial traseiro, controle ativo de tração e controle de estabilidade/automático epicíclico com trocas manuais pela alavanca seletora |
Número de marchas | 6 |
Relações de transmissão (:1) | 1ª 3,600; 2ª 2,090; 3ª 1,488; 4ª 1,000; 5ª 0,687; 6ª 0,580; Ré 3,732 |
Relação de diferencial (:1) | 3,909 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, triângulos superpostos, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
Traseira | Eixo rígido, molas semielípticas de duplo estágio e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência hidráulica indexada à velocidade |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 12,8 |
Relação de direção | n.d |
N° de voltas entre batentes | 3,43 |
FREIOS | |
De serviço | Duplo-circuito em paralelo, servoassistido |
Dianteiros | Discos ventilados com ABS (obrigatório), EBD (distribuição eletrônica das forças de frenagem) e BAS (auxílio à frenagem) |
Traseiros | Tambor com válvula proporcionadora sensível à carga e com ABS, EBD e BAS |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio, 7,5Jx17 |
Pneus | 265/65R17 |
PESOS (kg) | |
Em ordem de marcha | 2.065 |
Carga máxima | 1.000 |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Carroceria em aço sobre chassis, 4 portas, 5 lugares |
DIMENSÕES EXTERNAS (mm) | |
Comprimento | 5.330 |
Largura | 1.855 |
Altura | 1.815 |
Distância entre eixos | 3.085 |
DADOS OFF-ROAD | |
Distância mínima do solo (mm) | 286 |
Ângulo de ataque (º) | 31 |
Ângulo de saída (º) | 26 |
CAPACIDADES (L) | |
Caçamba | 1.240 (aprox.) |
Tanque de combustível | 80 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h | n.d |
Velocidade máxima | n.d |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBVE | |
Cidade (km/l) | 9 |
Estrada (km/l) | 10,5 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 6ª (km/h) | 62,7 |
rpm em 6ª a 120 km/h | 1.900 |
rpm em velocidade máxima | n.d |