Consegui colocar o pé na estrada, etapa fundamental quando se trata de avaliar um carro como este Aircross, cujas características o tornam plenamente digno da definição “carro familiar”.
Razoavelmente espaçoso, com um porta-malas bom (403 litros) e “altinho”, como muitos (e principalmente muitas) gostam, este Citroën tem versatilidade para ser o carro único de muitas famílias que não podem ou não querem ter mais de um veículo. E, fora isso, tem o por muitos apreciado visual aventureiro, exaltado pelos adereços off-road e ele, o estepe externo.
Lotar o porta-malas e colocar quatro adultos a bordo foi fácil, assim como determinar que para fins de teste o velho e bom percurso até o litoral norte paulista seria o ideal. Uma viagem que adicionou mais de 600 quilômetros ao hodômetro, feita em caminhos conhecidos e bem variados.
Nas boas rodovias do planalto, o Aircross mostrou a que veio seu novo câmbio de seis marchas, que a 120 km/h faz o motor girar a 3.000 rpm, mais do que o anterior de quatro marchas onde a rotação a esta velocidade era pouco menos de 2.500 rpm.
Soa estranho o câmbio com mais marchas resultar mais “curto”, o que na teoria pode ter como consequência maior consumo. Mas não foi isso o que aferi: no trecho plano e mais fluido da viagem a marca registrada foi de 15,1 km/l de gasolina, excelente considerando o carro estar lotado e o ar-condicionado ligado a pleno. No trecho final da viagem, incluindo a descida da serra e a zona litorânea da rodovia, tortuosa, acidentada e cheia de lombadas, a marca se reduziu a ainda bons 13,1 km/l.
Neste mesmíssimo trajeto realizado com um Aircross com o antigo câmbio AT8 de 4 marchas resultou em uma marca de consumo de 11,5 km/l, o que confirma a vocação para a economia de combustível do câmbio mais fracionado, apesar da rotação maior a 120 km/h.
Acontece que no antigo Aircross qualquer necessidade de desempenho exigia afundar mais o pé no acelerador. Agora, com mais marchas, as retomadas de velocidade acontecem com menor pressão no acelerador pois o câmbio não fica “dormindo” em 4ª, exigindo mais pé no acelerador para buscar a 3ª.
Mal se percebe, mas em velocidade de cruzeiro, entre 100 e 120 km/h, o câmbio joga com 5ª e 6ª sem que seja preciso usar mais do que ¼ do acelerador e isso não só se traduz em menor consumo, como verificado, mas também em mais esperteza do monovolume disfarçado do suve da Citroën.
Foi impossível deixar de lembrar o que assisti pela tevê na última Indy 500, os pilotos alternando entre 6ª e 7ª na mesma volta em função do vento…
É claro que o Aircross ainda está longe de merecer o adjetivo de carro ágil, mas não é absolutamente borocochô como verifiquei na mais do que íngreme chegada à casa de praia (que de fato fica na montanha). A rampona (foto de abertura) meio terra, meio concreto, meio cascalho que de do nível do mar leva a mais de 100 metros de altitude em meros 700 metros de percurso —uma gradiente média de nada menos que 14%! — exigiu, claro, usar a plena potência do 1,6 litro que equipa o Aircross. Em nenhum instante a sensação foi de falta dela: basta apenas acelerar que ele vai.
Outros méritos do Aircross nestas condições de off-road brando vêm das suspensões de curso razoável, da boa altura em relação ao solo e dos ângulos de entrada e saída adequados, que fazem deste carro um modelo nada propenso a raspar suas partes no solo. Ah, e tem também os pneus Pirelli Scorpion ATR, que neste ambiente quase de off-road se mostram em casa…
Passageiros do banco de trás elogiaram a sensação de amplitude oferecida pelo teto alto, todavia o encosto do banco poderia ser levemente mais reclinado ou, ideal, ter dois estágios de inclinação. O ângulo de abertura das portas traseiras também foi objeto de comentário por não ser exatamente generoso. Outro aspecto pouco feliz vem do inevitável contato com a panturrilha que o apêndice plástico aplicado na base das portas proporciona: se o carro estiver sujo, tal contato é inconveniente. Para evitar que a perna roce ali ao sair do carro é preciso dar um pulinho do banco direto ao solo.
Mesmo não tendo controle de tração nem assistente de partida em subida, o Aircross fez bonito no piso íngreme de baixa aderência, conseguindo superar os aclives desnivelados sem perder tração. Outra qualidade nesta condição foi a maciez do sistema de direção, que em baixa velocidade é sempre fator positivo. No entanto, na rodovia em velocidades elevadas, o sistema dotado de assistência elétrica indexada à velocidade poderia ser ajustado de modo a oferecer mais firmeza pois, especialmente nos trechos retos a 120 km/h, a precisão direcional seria beneficiada.
Para a volta a São Paulo, em vez da SP-99 rodovia dos Tamoios (Caraguatatuba-São José dos Campos) optei pela subida da Serra do Mar mais radical, a SP-125 rodovia Oswaldo Cruz (Ubatuba-Taubaté). No íngreme trecho de serra o Aircross se desvencilhou das rampas de modo razoável, mas exigiu uso intenso do câmbio em modo manual, ou seja, antecipando as reduções em vez de deixar a tarefa toda para o câmbio em modo automático. Mesmo assim, levando as rotações às alturas em muitas ocasiões, a média de consumo “porta a porta” (244 km dos quais ao menos 30 urbanos) foi de excelentes 13,3 km/l.
Ao cabo desta viagem de quase quatro horas a “tripulação” estava satisfeita com o padrão de conforto oferecido pelo Aircross assim como o motorista idem com relação ao aspecto dinâmico. Não é certamente um carro ao qual possa ser aplicado um estilo esportivo na tocada, mas a sensação de segurança oferecida é razoável, assim como a resposta de itens como freios e direção. Apesar de alto, não é um carro que se dirige temendo a necessidade de uma rápida mudança de trajetória e a direção “comunica” bem o que acontece entre pneus e o piso.
O Aircross sai desta viagem confirmando bons dotes rodoviários que se somam à boa impressão das semanas anteriores, quase 100% rodadas em trajetos urbanos. Agora o que falta é o clássico “gran finale” de nossos testes de 30 dias, a visita à Suspentécnica para a análise do especialista Alberto Trivellato.
RA
Veja os relatórios anteriores: 1ª semana 2ª semana
Citroën Aircross 1,6 Auto Shine
Dias: 21
Quilometragem total: 1.472 km
Distância na cidade: 822 km (56%)
Distância na estrada: 650 km (44%)
Consumo médio: 9,5 km/l (gasolina)
Melhor média: 17,2 km/l (gasolina)
Pior média: 5,8 km/l (gasolina)
Média horária: 33 km/h
Tempo ao volante: 44h46minutos
FICHA TÉCNICA NOVO CITROËN AIRCROSS 1,6 AUTO SHINE 2018 | |
MOTOR | |
Denominação do motor | 120 VTi Flex Start |
Tpo de motor | Otto, arrefecido a líquido, flex |
Material do bloco/cabeçote | Ferro fundido/alumínio |
Nº de cilindros/disposição/posição | Quatro/em linha/transversal |
Diâmetro x curso (mm) | 78,5 x 82 |
Cilindrada (cm³) | 1.587 |
Taxa de compressão (:1) | 12,5 |
Nº de com. de válvulas/localização | Dois, no cabeçote; fase variável no de admissão |
Acionamento dos comando de válvulas | Correia dentada |
Nº de válvulas por cilindro | Quatro |
Potência máxima (cv/rpm) (G/A) | 115/118/5.750 |
Torque máximo (m·kgf/rpm) (G/A) | 16,1/4.000 // 16,1/4.750 |
Formação de mistura | Injeção no duto |
SISTEMA ELÉTRICO | |
Tensão/alternador (V/A) | 12/55 |
TRANSMISSÃO | |
Tipo | Transeixo dianteiro automático Aisin de 6 marchas + ré, tração dianteira |
Relações das marchas (:1) | 1ª 4,044; 2ª 2,371; 3ª 1,556; 4ª 1,159; 5ª 0,852; 6ª 0,672; ré 2,455 |
Relação do diferencial (:1) | 4,066 |
Relação do par de saída (:1) | 1,104 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular transversal, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora integrada ao eixo |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência elétrica indexada à velocidade |
Diâmetro do volante de direção (mm) | 375 |
Diâmetro mínimo de curva | n.d. |
FREIOS | |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado, 266 |
Traseiros (Ø mm) | Tambor, 229 |
Operação | Servoassistência a vácuo, ABS, EBD e assistência à frenagem de emergência |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio, 6Jx16 |
Pneus | 205/60R16H (Pirelli Scorpion ATR) |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Monobloco em ação, crossover, 4 portas, 5 lugares |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 4.307 |
Largura sem espelhos | 1.767 |
Altura | 1.742 |
Entre-eixos | 2.542 |
CAPACIDADES E PESOS | |
Compartimento de bagagem (L) | 403 (1.500 com banco traseiro rebatido) |
Tanque de combustível (L) | 55 |
Peso em ordem de marcha (kg) | 1.328 |
Carga útil (kg) | 400 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s) | n.d. |
Velocidade máxima (km/h) | n.d. |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBVE | |
Cidade (km/l) (G/A) | n.d. |
Estrada (km/l) (G/A) | n.d. |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 6ª (km/h) | 39,6 |
Rotação a 120 km/h em 6ª (rpm) | 3.000 |
INFORMAÇÕES ADICIONAIS | |
Intervalo de revisões/troca de óleo | 1 ano ou 10.000 km |
Garantia | Três anos |