Coluna 2814 9.julho.2014 rnasser@autoentusiastas.com.br
O Brasil iniciará outro degrau industrial na produção de veículos. Por história, começou sem incentivos em 1918, como negócios por si só. Depois, pós-II Guerra, por atração às regras do Geia, para implantar a indústria da mobilidade, atraindo por prática de dólares oficiais — o paralelo era quatro vezes mais — e mercado fechado. Em 1998, novo ritmo, com novas produtoras. Agora, conseqüência do projeto de limitar o país ao comércio exterior, apenas dispensando de impostos dos aderentes a novos projetos ou negócios com Argentina, Uruguai, México, atrai novos investidores, tateando o ambiente.
Os projetos se enquadram no primeiro passo da industrialização — importação de peças e componentes, agregação de itens locais por mão de obra nacional. Poucas terão estamparia, fundição e usinagem de motores e transmissões.
Promessas de nada menos que 10, de procedências diversas, todas as alemãs, italiana, japonesa, chinesas, indiana. O Brasil terá o maior mix de marcas.
Quem vem
Tentativa ordem, chinesa Chery em Jacareí, a 70 km de São Paulo, será a primeira a ter produtos desta nova fase. Fábrica pronta, início da corrida inaugural — a primeira operação para ajustar processos e máquinas. Fará o Celer 1,5, sedã pequeno, e o subcompacto QQ. Primeiro protótipo montado, vendas em novembro, capacidade máxima de 150 mil unidades/ano.
Roger Peng, presidente da Chery, e o primeiro Celer made in Jacareí (foto divulgação)
BMW, alemã, instala-se em Araquari, SC. Inauguração prevista para 30 de setembro. Produtos vários, de introdução seriada em montagem: BMWs Série 3, utilitário esportivo X1, Série 1, utilitário esportivo X3 e Mini Country. Produção buscada, 25 mil unidades/ano.
Igualmente teutônica Audi faz obras na moderna fábrica da dona Volkswagen em São José dos Pinhais, PR, para dividir linha de produção com novo Golf, de plataforma comum, e dela retirar Audis A3 e o utilitário esportivo Q3, ainda neste exercício.
FCA, leia-se Fiat Chrysler Automobiles, citará como sua a grande operação implantada pela Fiat em Goiana, PE. De lá, com capacidade plena de 250 mil veículos/ano, de várias marcas pertencentes ao grupo. Inauguração final do ano, em breve início da estreante corrida industrial, com Jeep Renegade — espécie de visão Willys-Overland sobre a plataforma do Fiat 500L — que de 500 nada tem.
Honda constrói em Itirapina, SP, nova fábrica para expandir a capacidade de produção do Fit e seus derivados, o sedã City e o utilitário esportivo no exterior chamado Vezel — aqui, outro nome. Início de operação em 2015, pico da produção em 150 mil veículos anuais. Hoje o Honda mais vendido é o Civic. Quer inverter, passando a liderança à família menor, e capacidade para fazer complementação com produção argentina destes veículos.
Aos 12 de agosto Mercedes lança pedra fundamental de sua nova fábrica de automóveis em Iracemápolis, SP. Produção de sedã Classe C — o novo, a ser apresentado à mesma data — e pequeno utilitário esportivo GLA. Volume, 20 mil unidades/ano.
Gaúcha Agrale implanta galpões em São Mateus, porto espiritossantense. Quer fazer completa linha de produtos para transporte, iniciando por chassis e complementos. Instalação faz-se para reduzir os custos de logística, anulando o transporte feito desde Caxias do Sul, no interior riograndense, e para alimentar seu principal cliente, a conterrânea Marcopolo, que no mesmo estado implantou fábrica dos pequenos ônibus Volare, e inicia fazê-los ainda este ano, trazendo os componentes da origem sulina. O Estado do Espírito Santo já tentou algumas vezes abrigar fábrica de automóveis — até a Lada prometeu ir para lá — mas refresca seu sonho com ônibus.
Jaguar Land Rover ex-inglesa agora controlada pela fabricante indiana Tata Motors, assinou protocolo para instalação em Itatiaia, RJ. Nome composto mas produtos apenas Land Rover. Investimento anunciado em R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão, para unidade fabril apta a montar 24 mil unidades anuais. De acordo com o comunicado de imprensa, primeiros veículos serão liberados em 2016. Até o momento nada há a declarar, e o sítio da Prefeitura de Itatiaia sequer tem registros quando se demanda fábrica Land Rover.
Por que Itatiaia, RJ, sempre lembrada pelo Parque Nacional e seu pico, antes considerado o mais elevado do país? Fica lindeira a Resende e Porto Real, municípios cortados pela Via Dutra, ligando Rio a São Paulo, onde Volkswagen/MAN, Peugeot/Citroën, e recentemente Nissan, se instalaram, criando cultura, mão de obra e atraindo fornecedores.
Chinesa JAC sofreou obras nas proximidades de Camaçari, BA. Contém para compatibilizar a queda nas vendas domésticas de automóveis Citroën e JAC, fonte de recursos pelo grupo SHC, empreendedor do negócio.
Operação deverá ser dividida: matriz assumirá 66% da sócia SHC na parte industrial. Parte comercial e distribuição ficará 100 % com a empresa brasileira. Previsão do novo desenho societário, até o final do ano. Implantação da fábrica, com projeto pronto, 12 meses.
Como registro, a Amsia Motors muito se movimentou e prometeu fazer fábrica em Barra dos Coqueiros, em Sergipe. Seria consolo para o estado, sofrendo encolher industrial. O projeto foi visto como industrialmente inconsistente pelo governo federal, e não andou no estadual. Promessa de início tem mais de ano.
Nem Ferrari, Bentley, Mercedes AMG. Mais potente é Dodge, o Hellcat
Para marcar seus 100 anos, a Dodge anunciou novo motor, V-8, 6,2 litros, com compressor, o Hellcat Hemi. Equipará o novo Challenger, com temporal registro na história como o mais potente do mundo entre carros em produção seriada. Faz 717 cv e 89,8 m·kgf de torque, coisa de caminhão grande. Projeto à altura, dimensionamento de componentes: virabrequim e pistões forjados, bielas sinterizadas, dois radiadores de óleo do motor, caixas automáticas de seis marchas Tremec — como antes utilizada no esportivo Viper — ou oito marchas ZF.
A marca negaceou expectativas de potência, vazando informações de máximos 650 cv, para apresentar os números finais nas comemorações do centenário. Não divulgou dados de desempenho, como aceleração e velocidade final.
Há contraposições aos resultados. Por exemplo, o elevado preço do seguro, calculado com variáveis incluindo desde a idade dos motoristas até as possibilidades de acidentes. Em outro extremo, preparadores crêem fácil diferenciá-los em desempenho conquistando potência para números acima de 1.000 cv, e reduzido o peso do carro, hoje aproximados 2.000 kg.
Por charme ou cautela — ou legal efeito demonstração de cuidados no projeto para caracterizar responsabilidade do condutor — o automóvel possui duas chaves. Uma, preta, sofreia a potência em 500 cv. A outra, vermelha, é para assuntos full gas, quando São Cristóvão se despede, e o motorista solta as rédeas e faz funcionar o chicote.
RODA-A-RODA
Crescer – Porsche olhou mapas de produção, vendas e lucros, e decidiu manter o projeto de expansão iniciado em 2010. Dos 12.800 colaboradores, acresceu 8.400 em quatro anos, e quer mais 5.000 até 2.019 — mais de 100% em 10 anos. Neste, quer vender 200 mil unidades, incluindo o utilitário esportivo Macan, 5º. produto da linha.
Leque – A maioria dos 5.000 agora anunciados será fora da Alemanha, para áreas de pesquisa e desenvolvimento, em geográfica expansão industrial. A Porsche é a mais lucrativa das empresas VW.
Situação – Crê-se, funcionários da PSA Peugeot Citroën olhem diariamente anúncios de contratação. A empresa cortará 11.200 empregos na Europa.
Lançamento – 11 de agosto Mercedes exibirá o novo Classe C. Tremenda barata, parece o Classe S em escala — o S é hoje referência mundial em tecnologia eletrônica prática. Deve realinhar preços e conteúdo do CLA.
Otimismo – Anfavea, associação dos fabricantes de veículos contabiliza retração de 16,8 % na produção do 1º. semestre, mas acredita em crescimento, superadas questões como menos dias úteis, acerto com a Argentina, manutenção do IPI até o final do ano.
Resultado – Estudo deste grêmio indica, a cada ponto percentual elevado em impostos, há retração de 2,6% nas vendas.
Gasolina – Antecipou o sítio www.autoentusiastas.com.br, novidades em gasolinas. Shell aumentará carga de aditivos anti-atrito à V-Power, e chama-la-á V-Power Nitro+. Petrobrás trocará nome da aditivada Supra para Grid.
Instrução – Shell lança curso para mecânicos para explicar diferença entre gasolinas, octanagem, produto mais adequado ao carro do cliente. Parceria com jornal e sítio Oficina Brasil. Oportuno.
Jogo – Produtores de álcool pressionam Governo Federal obrigar mistura de 27,5% de álcool anidro à gasolina para formar o gasálcool. A Anfavea, grêmio dos fabricantes de veículos, informou ser 26% o máximo admissível – na prática, acima do limite do desperdício, pois não são aproveitados pelos motores.
Ocasião – Ao consumidor problema é a época, quando o governo fica sensível a atrativos capazes de auxiliar a campanha de reeleição. Mostra da fraqueza foi retirar o general Jorge Fraxe, colocado para botar ordem no DNIT, um dos focos de continuada corrupção no Ministério dos Transportes, para voltar a ocupante por indicação partidária.
Lama – Justiça paulistana arrestou 19 imóveis adquiridos a Ivo Lodo, ex-controlador do fechado Banco BVA, por Carlos Alberto de Oliveira Andrade, que no tema da Coluna monta Hyundais em Anápolis, GO, e distribui a marca. Há dúvidas sobre a compra, escriturada após a intervenção no BVA — que o Dr. Caoa tentou assumir mas não teve crédito pelos credores. O congelamento visa preservar o patrimônio do banco para indenizar credores.
Data – Comemorações do 4 de Julho, data de independência e formação dos EUA, incluem reverência aos heróis da pátria, aos militares e empresas que auxiliam preservar independência, liberdade e democracia.
Segmentação – Carros Ford, liderados por picape F-150 e utilitário Escape, são os preferidos pelas famílias dos militares. Escolha passa pela proximidade e apoio da empresa aos veteranos. Deles, hoje a Ford emprega 5.900.
Negócio – A fim de importado? Banco Volkswagen fomenta vendas de Jetta e SpaceFox com entrada de 50% e 24x sem juros. Tiguan e Amarok a 60% como sinal e restante em 18x.
Tecnologia – BorgWarner, de autopeças, recebeu prêmio do Centro de Gestão Automotiva e da auditoria PriceWaterhouseCoopers por suas tecnologias de turboalimentação. Turbo é um dos caminhos do futuro.
II – Audi busca reduzir peso morto na mecânica de seus carros, baixar consumo e emissões. Após aplicar alumínio em elementos de suspensão, então criticada e ora reverenciada, desenvolveu molas helicoidais, mal ditas espirais.
III – Nada de aço, mas compósito de polímeros reforçados com fibra de vidro. 40% mais leves, reduz 4,4 kg/veículo. Chanceladas pelo Dr. Ulrich Hackenberg, tido o mais criativo dos engenheiros do grupo VW. Nos Audi 2015.
Elétricos – Renault anunciou patrocinar Equipe e.Dams-Renault, de elétricos carros de corrida, comandada por Alain Prost, embaixador da marca, e Jean-Paul Driot. Quer aparecer no cenário identificada com os elétricos.
Arrepio – Causas internas, razões opacas, Jean-Michel Jalinier, ex-presidente da Renault Brasil, e presidente da Renault Sport F 1, antecipou aposentadoria. A empresa se diz pesarosa. Deve estar. Jalinier tem carreira de desafios e conquistas, foi para a F 1 transferido por ação direta do nº. 1 Carlos Ghosn.
Continua – Seu sucessor na empresa no Brasil, Jerôme Stoll, ascendeu a diretor comercial geral do grupo Renault, acumulará a função, agora chamada Diretoria Delegada de Performance.
Caminho – Novo DG da Renault F 1 é Cyril Abiteboul, 37, francês, sempre diretor ligado à Fórmula 1, ex-condutor da equipe Caterham, engenheiro com formação de matemática e informática. Em terra de boas escolas, é da mesma de Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy, ex-presidentes da França.
Retífica RN – Coluna passada citou produção dos Ferrari GTO em 27. Foram 39. Confusão com volume visto no Pebble Beach Concours d’Elegance 2012.
Mix – Possível mesclar testosterona e saldo bancário ? Leiloeiros Russo and Steele levarão ao seu Collector Automobile Auction, Monterey, Califórnia, 14 a 16 de agosto, automóvel para induzir a mistura: um dos 311 Mercedes-Benz 300 SL coupé, o Asa de Gaivota. Completo, inclui rodas em liga leve e borboleta central, e o desejadíssimo conjunto de malas desenvolvido para o carro.
Clássico – É dos poucos clássicos pós-guerra e de suas 1.400 unidades não restam muitos. Assim, é peça desejável, em especial em estradas com curvas amplas em dias de temperatura baixa — o meio ambiente lembra Cachoeiro do Itapemirim, Cuiabá, Governador Valadares — e a traseira se lança com facilidade, clamando por mão de obra especializada.
Leilão – Como se diz no meio, o Asa é um must have, carro que colecionador sério deve ter. Assim, se é homem e tens bala na agulha, café no bule, é a hora. Mais, fale com o Darin Roberge darin@russoandsteele.com tel. +1.602.252.2697.
Gente – Neivia Justa, comunicóloga, mudança. OOOO De GE para GY. Na Goodyear, diretora de Comunicação e Relações Públicas, atuação continental. OOOO Vivência em empresas grandes e lastro acadêmico. OOOO Mark Fields, 53, executivo da Ford, novo executivo-chefe. OOOO Substitui Alan Mulally, 68, ex-Boeing e que auxiliou salvar a empresa da crise de 2009. OOOO Fields tem carreira profissional bem cimentada. OOOO Mathias Carlbaum, sueco, novo diretor geral da Scania. OOOO Experiência anterior no Brasil. OOOO
Líder, Fiat faz aniversário e prepara nova fábrica
Fiat comemora 38 anos de operação industrial no Brasil. Algumas tentativas anteriores e a viabilização em 1973 quando se associou ao governo de Minas para quebrar proibição política da instalação de novos fabricantes no Brasil. Era a menor, distanciada de VW, GM e Ford, e se dizia sem pretensões de liderar o mercado, como o faz há 12 anos.
Reuniu conquistas à altura da expansão: industrialmente cresceu, de máximas 200 mil unidades/ano para 800 mil em constante ganho de espaço industrial e de produtividade. Atualmente é a maior produção mundial no mesmo endereço. Avançou com padrões de engenharia, provocou a atualização dos lubrificantes no país para atender às menores folgas nos motores, fez o primeiro veículo a álcool, o primeiro picape derivado de automóvel, criou o carro popular, foi pioneira com os turbo, democratizou o motor de 16 válvulas.
Conquista maior, entretanto, foi transformar em industrialização a dificuldade de operar em Minas Gerais, na ex-bucólica Betim, hoje segunda maior arrecadação do estado. Sem fornecedores próximos, trazendo autopeças de outros estados, elevando custos por transporte e logística, instigou mudança para sua vizinhança, a mineirização dos fornecedores. Hoje o estado tem o segundo parque autopartista. De Betim, MG, saíram quase 14 milhões de Fiats.
Convive com desafio importante: manter liderança e lucratividade implantando um novo pólo industrial, também reunindo unidade industrial autônoma, e agregando parque de fornecedores, criando atividade, parque e cultura de produção em Goiana, PE. Fábrica em passos finais, quase pronta à montagem dos primeiros veículos para ajustar máquinas e processos. Começará com produtos da linha Jeep.
RN
A coluna “De carro por aí” é de total responsabilidade do seu autor e não reflete necessariamente a opinião do AUTOentusiastas.