Da Road & Track
por Steve Lehto
“A Chrysler fez carros movidos a turbina a gás de 1953 até o começo dos anos 1980. Mas a maioria das pessoas conhecem apenas o Chrysler Turbine, o carro com cor de bronze feito a partir de 1963. Apesar desses carros terem sido bastante divulgados e examinados pela mídia na época, há alguns segredos que quase ninguém conhece. Por exemplo, a caixa de câmbio automática contém um conjunto ou corpo de válvulas projetado e construído pela Ford. E um engenheiro da Chrysler as obteve de graça em uma fábrica da Ford em Livonia, Michigan.
O primeiro Chrysler a turbina saiu às ruas em 1953. Depois de uma década de experimentação, o fabricante decidiu que iria ser fabricada uma frota para motoristas normais dirigirem e usarem normalmente. Quando essa decisão foi tomada, pessoas de fora do departamento de turbinas foram solicitadas a obter ajuda para ter os 55 carros prontos para andar nas ruas. Os carros teriam que ser relativamente robustos para suportar as exigências dos motoristas normais americanos, e não especialistas no assunto, mas também precisavam ser o mais simples possíveis. A decisão técnica foi acoplar a turbina a uma caixa automática Torqueflite — família padrão de caixas da Chrysler — que tinha fama de serem indestrutíveis. Algumas alterações eram necessárias, como a remoção do conversor de torque.
Os gurus de transmissões que se reuniram para montar as caixas para o carro encontraram um problema, detalhado em uma nota escrita à mão entregue a mim por um ex-engenheiro da Chrysler: “Para modular a pressão de controle da caixa em relação à pressão do compressor da turbina, é requerido um pequeno corpo de válvulas para realizar essa função”.
Eles não tinham tempo de desenhar e fabricar, além de testar, o corpo de válvulas necessário, mas sabiam através de espionagem industrial que uma caixa automática nova da Lincoln tinha um componente como esse que era necessário. Telefonemas para concessionários Lincoln revelaram que não havia como comprar o componente apenas. Eles só vinham no conjunto da caixa de câmbio, fechada e completa.
O engenheiro responsável pela caixa fez então uma ligação para um amigo na Ford que trabalhava com as mesmas peças que ele, perguntando sobre o corpo de válvulas. Quais eram as possibilidades de adquirir, digamos, 55 desses pequenos conjuntos sem muitas pessoas saberem? Vou reproduzir a resposta que o engenheiro me deu quando conversei com ele:
‘Meu amigo na Ford me informou que a fábrica tinha uma grande caixa desses corpos de válvulas que não seriam usados, e estavam na área de scrap (descarte). Eu fiz uma viagem rápida à fabrica de transmissões da Ford em Livonia, onde meu amigo me deu um número suficiente das peças para nós fazermos os 55 carros. Poucas pessoas além do responsável por busca de peças na área de engenharia experimental, e eu, sabiam que nas caixas do Chrysler Turbine havia uma peça da Ford Motor Company.’
E como a peça está montada dentro das caixas, ninguém nunca a viu para saber que ela estava lá. Foi um grande segredo, escondido por 55 anos.”
Adaptado por JJ