Ao longo do mês de março fui colecionando análises de economistas publicadas em jornais alertando que a recuperação econômica em curso começa a exibir sinais de fraqueza adiante e todos eles, mais os principais bancos sinalizam que o crescimento do PIB não atingirá os +3,0% previstos. Os fatores que causaram essa mudança na previsão para baixo são vários, internamente, a não aprovação da reforma da previdência e a incessante turbulência política somam-se a resultados decepcionantes no varejo no mês de fevereiro.
No exterior, as tensões se exacerbaram com as atitudes previsíveis, porém inaceitáveis do mandatário americano, que afetaram o tênue equilíbrio do comércio global. As sobretaxações impostas para o aço e alumínio consumido pela indústria dos EUA provocaram verdadeira correria nas empresas, além de queda nas bolsas de valores puxados por gigantes como Boeing e GM.
A mira de Trump apontada para a China não cessou, simplesmente 100% das empresas que este escriba contatou vem desenvolvendo ações de contenção, busca de fontes alternativas, quando não pressão sobre o congresso para que alguém faça algo e segure a caneta enlouquecida daquele louro de gravata sempre vermelha e laquê sustentando o topete. Como se não bastasse, ataques militares no Oriente Médio e retórica ainda mais agressiva prometem estender-se pelos meses à frente.
Porém, em conversa com alguns dirigentes de entidades de classe e indústria, o crescimento projetado pela Anfavea para o ano, de 11,4% mostra-se até conservador. Há projeções apontando que o mercado interno cresça mais de 20% e os números de março corroboram esse otimismo. São verdadeiros sinais trocados.
Antônio Megale, presidente da Anfavea, proferiu sua apresentação dos resultados do mês no último dia cinco, as vendas de automóveis e comerciais leves superaram as expectativas e o mercado de comerciais pesados acelerou ainda mais a sua recuperação. Licenciamentos de caminhões do tipo cavalo-mecânico (extrapesado) devem saltar mais de 100%. A despeito de uma base bastante baixa no primeiro trimestre de 2017, que distorce a comparação com mesmo período de 2018, dobrar produção e vendas anima qualquer um. Todos os fabricantes de pesados anunciaram mais contratações.
O licenciamento diário de automóveis e comerciais leves bateu em 9.500 unidades, um salto de mais de 1.000 veículos dia sobre as médias do primeiro bimestre. O otimismo só não é maior porque a taxa de desemprego persiste elevada e o crédito para compra de veículos novos ainda dá lentos sinais de expansão.
Ao todo venderam-se 207.365 autoveículos, sendo 200.394 leves e quase sete mil pesados (caminhões mais ônibus). As vendas diretas, porém tiveram uma contribuição importante para esse aumento e voltaram a representar 38% do total de licenciamentos.
O fim do programa Inovar-Auto cancelou a cobrança de IPI adicional de 30 pontos porcentuais para importados, um dos arroubos de encomenda da ex-presidente Dilma, com isso as empresas importadoras que resistiram à devastação petista apresentaram crescimento significativo no trimestre. A Kia cresceu 62% até agora, Volvo outros 57%, as marcas de luxo com produção local ainda não encontraram solução para manutenção de suas operações.. Importar sai bem mais em conta que produzir aqui e as discussões sobre o programa Rota 2030 esfriaram. O foco do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) parece passar longe do setor automobilístico.
RANKING DO MÊS E DO ANO
As vendas de Onix deram nova esfriada, o que acabou levando a GM a exibir números de vendas em março menores que mesmo mês do ano anterior; o segmento de Leves expandiu-se quase 9%. Em conversa com fontes não oficiais do fabricante, eu soube que a unidade de Gravataí teve parada de manutenção, o que afetou os níveis de estoque e de disponibilidade na rede de seu carro chefe. Quem se aproveitou foi a VW, somando-se os licenciamentos de Gol, Polo e up!, estes superaram o total de Onix (13.577 vs. 12.918).
As marcas que mais cresceram em março foram a Mercedes, com 37%, Kia +33%, Nissan e Renault, +27% e VW +23%. Do outro lado do ranking, BMW encolheu 9%, Citroën -7%, Hyundai -6% e Fiat -2%.
No acumulado do trimestre, a VW foi a que mais cresceu dentre os fabricantes locais, com 32%, Renault e Nissan igualmente com +27%. Peugeot e Citroën vêm enfrentando dificuldades em crescer junto com o mercado.
Onix segue líder e sem ameaças por perto, emplacou 12.918 unidades em março, Ka cresceu e passou o HB20 no mês e no acumulado do trimestre, com respectivas 9.803 e 24.028 unidades, Prisma num bom 4º lugar, com 6.616, seguido de Kwid e Polo.
Outra surpresa foi o Kicks (foto de abertura) liderou o segmento de suves compactos e também deixou o líder Compass para trás. Em seu primeiro mês de vendas cheias, o sedã Virtus emplacou 3.059 unidades.
Nos comerciais leves, a picape Strada veio bem em mês de vendas robustas, com 5.595 unidades, Saveiro ultrapassou a Toro e ficou em 2º, com 3.671, Hilux e S10 fechando a lista das cinco mais vendidas.
O segmento de comerciais leves expandiu-se 12% no trimestre, a Fiat Strada cresceu 23%, com 15.104 unidades, Amarok +90%, Frontier +81%. Toro encolheu 7%. Em mês de aquecimento de vendas, deu-se melhor quem tinha mais disponibilidade em estoque, aliás o inventário na fábrica e rede estiveram em seus recordes de baixa. Com aumento de produção e exportações, os próximos meses prometem ares positivos.
Até o mês que vem.
MAS