Na foto acima, Hot Rod exposto no SEMA Show 2017, feito 100% com peças novas; os veículos modificados são uma indústria rentável graças à união entre fabricantes e regulamentadores das leis.
Na parte I desta matéria terminei falando sobre os autores dos projetos em que, ao participarem, são ao mesmo tempo julgados e juízes, e que não é permitido votar no próprio projeto. Achei a ideia boa e aplicável aqui e tratei de pedir autorização ao SEMA para trazer a ideia para o Brasil, que me foi prontamente concedida pelo relações-públicas e pelo vice-presidente.
A primeira pessoa a quem ofereci alegou que não daria certo, mas — por sorte — sempre fui teimoso e logo tratei de falar com os organizadores do Encontro Brasileiro de Automóveis Antigos, que é o novo evento de Águas de Lindoia e que teve em 2018 sua quinta edição. Sou do tipo que “não procura sarna para se coçar” (nem veículo modificado tenho), prefiro os originais e nem precisaria me envolver em algo tão trabalhoso, mas achei que isso seria bom para todos que gostam de veículos e achei que tentar fazer era melhor do que deixar a oportunidade passar.
Ao explicar como funciona aos organizadores Humberto Abonante Júnior e Vanessa Belii, eles aprovaram de primeira e fizemos nossa primeira reunião. Avaliar um automóvel modificado é totalmente diferente de avaliar um automóvel original. Neste, seja bonito ou feio, o detalhe deve estar como saiu de fábrica e quanto mais itens originais ou bem restaurados no padrão original, melhor a pontuação. Depois é peneirar pelo índice de raridade e, pronto, a pontuação é feita.
Ainda assim, sempre há quem não saiba como funciona e fique por aí alardeando bobagens, mas aí é o quesito vaidade falando mais alto e isso, meu amigo, é algo que não deve ser levado em consideração.
Sempre me envolvi voluntariamente em ajudar os organizadores dos eventos. Acredito que seja uma dívida que tenho com os donos desses veículos, porque passo o ano inteiro pedindo carro aqui e ali para fazer matérias, e minha maneira de retribuir é participar ativa e voluntariamente. Claro, isso me sacrifica horas de descanso, relacionamentos — recentemente perdi um namoro porque ela confundiu o fato de dedicar atenção a isso, com eu não dar atenção a ela; ok, acontece. Esse e alguns outros estresses poderiam ter sido evitados, mas prefiro errar fazendo em vez de ser aquele que observa e fala “isso não vai dar certo”.
Bom, voltemos aos veículos modificados. O fato de na “Batalha dos Construtores” os jurado serem os próprios criadores de veículos antigos modificados, a equação resolve 80% dos problemas. O construtor que se cadastrar na “batalha” inscreve um “projeto”, ele deve votar em qualquer outro projeto desde que não seja o seu próprio, como vimos.
No SEMA Show são quatro dias de evento que começa com todos os carros concorrendo, no mesmo dia o número de selecionados fica em 42, na segunda noite ficam 12 selecionados e depois, na terceira noite caem para cinco. E na última noite ficam três, em que o melhor será mostrado em rede nacional de TV, ao vivo.
No evento de Águas de Lindoia não teríamos mais do que um dia para fazer a peneira, já que a premiação dos “customizados” e dos “originais” ocorre na mesma noite. Aqui no Brasil temos outro problema: nenhum dos voluntários — ou raríssimos — estão dispostos a doar mais do que um dia para realizar as avaliações, então precisamos achar um método para manter essa “pirâmide” de votação, em esquema de pontuação e peneira, sem precisar mais do que um dia.
Na reunião pré-evento sugeri uma ficha de votação onde no cabeçalho constasse o nome do construtor e seu projeto, no segundo campo da cédula haveria três espaços de preenchimento, numerado de 1 a 3, onde o primeiro receberia 10 pontos, o segundo 5e o terceiro 1 ponto. Quem recebesse mais pontos seria, obviamente, o primeiro colocado. Os três mais votados receberiam troféu de destaque da participação dessa primeira edição nacional da “Batalha dos Construtores”. Para um primeiro ano foi excelente, tivemos dez inscrições e, obviamente 10 projetos. Todos, carros inéditos e de concepções extraordinárias.
Sabe aquela expressão de “atirei no que vi e acertei o que não vi”? Pois bem, graças à Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA), o diretor-geral do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), Dr. Maurício Alves, estava no evento de Águas de Lindoia. A diretoria da instituição conseguiu, entre outros feitos, reuniões dele com colecionadores e construtores de veículos modificados. O Dr. Maurício Alves se mostrou muito receptivo a ideias.
Ao conhecer o conceito da “Batalha dos Construtores” e, também, como a instituição funciona para testar, regulamentar e aprovar aos órgãos de trânsito americanos sobre a aprovação ou não do uso de acessórios, dispositivos e regulamentação de modificações, o presidente do Denatran tratou de marcar, por intermédio do Roberto Suga, presidente da FBVA, uma reunião com os construtores de veículos no Brasil.
No dia e hora marcados estávamos lá, Roberto Suga (presidente da FBVA), Atoniony Lopes (diretor regional da FBVA), Jorlando Picoli e Robson Felício, que constroem veículos modificados de altíssima qualidade; eu fui como diretor técnico da FBVA e jornalista. Minha função ali era apenas mostrar tecnicamente como os americanos simplificaram um método, ainda muito burocrático em nosso país.
A ideia, agora, é formar uma instituição totalmente dedicada aos veículos customizados. Nessa instituição os construtores e autores dos projetos devem se reunir, debater e refletir em como tornar viáveis ideias e ideais, transformar criatividade em automóveis. Se isso vai dar trabalho? A resposta é: claro que vai dar! Mas essa é uma semente para as próximas gerações e para manter viva a chama do amor pelos carros antigos, veículos modificados, construções artesanais e projetos interessantes. Como diz meu pai, sem trabalho não existe resultado. Agora é contar que aconteça a união entre todos os que amam a cultura popularmente conhecida como a dos hot rods.
Torçamos para que esse pleito ao Denatran chegue a um bom termo. Contar com a empatia do seu presidente foi um bom começo.
PT