Pois é. Eu posso demorar, mas cumpro minhas promessas — justamente por isso não assumo coisas sobre as quais não tenho certeza. No máximo, prometo fazer — e de fato faço — tudo ao meu alcance para cumprir, como naqueles seriados de televisão quando os investigadores dizem aos parentes da vítima que farão de tudo para encontrar o assassino, mas não dizem que o pegarão — pelo simples motivo de que não se pode garantir algo assim.
Dramas à parte, liquidei mais uma dívida com meu marido. No ano passado, quando começamos a planejar nossas férias para 2018, ele disse que gostaria de mar e praia. E acabou na Lapônia, com mais de 25 ºC negativos. Em minha defesa tenho que dizer que a viagem no Carnaval não era exatamente férias do ponto de vista que não estava planejada como tal, mas sim como uma esticada no feriado. Colou? Nem com ele…
Ainda em meu favor tenho que dizer que ambos adoramos a viagem e mesmo o frio não atrapalhou em nada porque estávamos preparados para isso. Mas, claro, ainda tinha essa espada de Dâmocles sobre minha cabeça e como já disse, tenho por hábito cumprir minhas promessas ainda que demore um pouquinho.
Então, depois de todos estes habeas corpus preventivos conto para onde viajamos: Turquia e Azerbaijão! Um dia ainda terei novamente um globo terrestre como o da minha infância para girar e colocar meu dedo em algum destino aleatoriamente e dizer: vamos para lá. Mas precisaria começar comprando um globo e, claro, ter tempo e dinheiro à vontade para realizar isso.
Enquanto isso não acontece, vou de um mapa-múndi metálico que comprei numa papelaria e onde coloquei ímãs pretos (para os lugares onde já estivemos) e vermelhos (para os que estão na lista). Serve de incentivo e de lembrete de porque faço alguns sacrifícios: para poder viajar. E, claro, para concretizar tudo dá-lhe muito Google e pesquisa. Noratur puro.
Semana que vem conto sobre a Turquia e, sim, o trânsito me pareceu ainda pior do que o do Brasil – algo que às vezes parece impossível de acontecer. Hoje, vamos de Azerbaijão.
Os problemas começaram quando contei para a família e os amigos o lugar de destino. Afeganistão? Nããão, Azerbaijão. Mas não é perigoso lá? Não, não é Afeganistão, é Azerbaijão. Desbloquear o cartão de crédito foi outra novela. Ligo na empresa e digo: Turquia e Azerbaijão. Turquia e o quê? A-Z-E-R-B-A-I-J-Ã-O. Viajei com receio de que não pudesse usar meu cartão porque ele teria sido desbloqueado para outro país, mas não é que deu certo?
A segunda pergunta mais formulada foi: por quê? Depois de ter estado lá, digo que só se questiona isso quem ainda não foi. Estive em Baku e em um par de lugares a menos de 100 quilômetros de distância, mas afirmo que a capital daquele país é um dos lugares mais lindos onde já estive.
Ainda no quesito por quê, a ideia surgiu há dois anos, quando meu marido e eu vimos pela primeira vez a corrida de Fórmula 1 realizada lá e gostamos das imagens. Aí foi só dar um Google e descobrir que era do lado da Turquia. Pronto, agora era só fazer as malas, ainda sem saber muito sobre nosso destino além do que o enxadrista Garry Kasparov havia nascido em Baku — pois é, para mim ele era russo. Só que não.
Foi tudo ainda mais bonito e melhor do que as imagens da internet sugerem. Baku é uma cidade relativamente grande, de 2,2 milhões de habitantes, capital de um país com população de 9,7 milhões e que foi de 1920 até 1991 uma das repúblicas da hoje ex-URSS, embora a independência propriamente dita tenha chegado somente em 1994.
Depois de tantos anos de domínio russo, durante o qual as restrições iam desde não aprender idiomas estrangeiros (eles falam azeri, também chamado de azerbaijano, uma língua turcomana que para nós é incompreensível), até restrições religiosas. Hoje o Azerbaijão é um país constitucionalmente sem religião oficial e secular, mas com uma população que é 97% muçulmana, dos quais 89% xiítas e 15% sunitas, porém talvez a metade seja realmente praticante.
Da época russa restam alguns ortodoxos, mas há também cristãos armênios. Venda e consumo em restaurantes e bares de bebida alcoólica estão liberados. O país mudou o alfabeto do perso-arábico para o latino nos anos 1920 (assim como Ataturk fez na Turquia e mais ou menos na mesma época) e do romano para o cirílico nos anos 1930 sob o domínio soviético.
Depois da independência, adotaram os caracteres latinos, numa versão ligeiramente modificada. Não resolve para quem não entende o idioma, mas é sempre mais fácil decorar ou copiar algo cujas letras são iguais às nossas.
Com o fim do domínio russo, o Azerbaijão voltou a ter educação religiosa e a utilizar o próprio idioma, além de eliminar do currículo escolar qualquer conteúdo ideológico. Segundo as Nações Unidas, em 2009, 99,5% dos cidadãos eram alfabetizados. Nada mau, não? Tudo isso apesar de não ser propriamente rico, o que prova que educação tem pouco a ver com recursos e muito mais com empenho e com uso adequado do dinheiro.
Como país que tem uma quantidade enorme de petróleo (produzem 1,4 milhão de barris/dia) e especialmente gás, o combustível é muito barato. Somente 0,60 de manat pelo litro de diesel (US$ 0,35), para uma população com PIB per capita de US$ 3.900 ao ano (metade do brasileiro), mas que tem sofrido ao longo dos últimos anos devido à queda dos preços dos combustíveis fósseis no mercado internacional. A gasolina, menos utilizada proporcionalmente para veículos do que o diesel, custa 1,60 manat na versão premium mais cara (US$ 0,94).
O DataNora apurou que muitagentevírgulaalgo tem carro em Baku, mas as estatísticas do país dizem que o índice nacional de motorização não é alto — há 1,3 milhão de veículos no país — ainda abaixo de vizinhos como Rússia ou Geórgia. Devem estar bastante concentrados na capital. Encontrei várias pessoas que jamais usavam o transporte público, mas somente seus próprios automóveis. Daí a ver a maioria dos carros com apenas um ocupante.
E não consegui ver concentração de marcas. Pelo contrário, vi Volkswagen, Hyundai, Toyota, Ford, Seat… de tudo. Mas notei que a maioria dos modelos são brancos, prata ou preto.
Os dados mais recentes que achei do governo sobre acidentes de trânsito são de 2016. Sensatamente, eles estão divididos em dia da semana que ocorreram (a maioria acontecem entre segunda e quinta-feira, lembrando que a maioria da população é muçulmana e a sexta-feira é quase como nosso final de semana), mês, horário, tipo de acidente (entre carro e pedestre, apenas entre carros, etc.), por idade do motorista, por causa (cruzamento, conversão, etc.). Um verdadeiro festival de dados.
Assim sim dá para fazer estatística e ter uma política de prevenção de acidentes. Ia esquecendo… foram 2.006 acidentes em todo aquele ano, o menor número desde 2001. E adorei encontrar dados sobre a frota de veículos da forma como acho que deveriam ser sempre: ele computam número de veículos por 1000 habitantes (138 por 1.000, ou, pelos padrões internacionais, 13,8 por 100 habitantes ou 11,8 carros de passeio por 100 habitantes) mas também por quilômetro de via (70 veículos por quilômetro).
E motos são mesmo poucas: apenas 3.290 para todo o país. Acho que tem mais do que isso apenas no meu bairro em São Paulo…
Ainda assim, o transporte coletivo parece eficiente e moderno. Há ônibus e bondes limpos e que passam com frequência, pelo menos na capital. O metrô é relativamente recente quando comparado a outras cidades europeias ou asiáticas, pois começou em 1967 e tem somente 36 quilômetros e 25 estações em três linhas, mas transportou 222 milhões de pessoas em 2015, ou pouco mais de 608.000 pessoas por dia.
Algumas das paradas são lindíssimas, no estilo russo de esbanjar mármores e acabamento. Mas apesar de termos andado de metrô por pura curiosidade, as fotos lá dentro são proibidas e não tiramos nenhuma. Há composições ainda em circulação da época soviética e outras bem modernas. Ambas facilmente distinguíveis.
Aliás, vai aí um parêntese: entramos no metrô depois das 23 horas (fecha à meia-noite, mas como a cidade é seguríssima vagávamos a qualquer hora) justamente para ir conhecer algumas estações. Para isso, o recepcionista de nosso hotel nos emprestou o próprio cartão de metrô, para evitar que fizéssemos filas ou tivéssemos algum problema, já que o inglês é pouco falado. Gentileza pura da parte dele.
Ao entrarmos na estação Icharishahar vimos que toda a sinalização está em azeri – portanto, sequer sabíamos onde era a saída para algum lugar já que a única palavra que a essas alturas sabíamos em azeri era “entrada” (giris). Começamos a olhar à nossa volta feito pardais ou a Linda Blair em “O Exorcista” e uma faxineira que passava um pano no chão veio falar conosco. Em azeri.
Respondi “tourists” e ela fez um gesto para que esperássemos e começou a parar pessoas e a falar com elas uma curta frase. Na terceira, um rapaz veio falar conosco que entendia e falava um pouco de inglês e perguntou o que precisávamos. Explicamos que queríamos ir a algumas das estações bonitas e ele nos disse para entrarmos no trem com ele. Dentro, nos mostrou o mapa e indicou algumas, explicando que para uma delas levaríamos 9 minutos (e mais 9 para voltar) e que tomássemos cuidado para não ficar a pé pois o metrô fecha à meia-noite.
Fomos conversando brevemente e quando chegamos nos indicou onde descer e seguiu viagem. Mais dois exemplos de simpatia azerbaijana que me fizeram gostar ainda mais daquela linda cidade.
Fiquei com a impressão de que além de uma atitude cordial pode ser uma política de estado, pois ao sair do país recebemos um e-mail do governo do Azerbaijão (que tinha nossos contatos já que o visto é eletrônico, barato e facílimo de tirar) com uma meia dúzia de perguntas sobre nossa estadia. E justamente a primeira era sobre a atitude da população em relação a nós.
Além de classificar com estrelinhas, como solicitado, fiz questão de comentar cada item. A segunda pergunta era sobre a infraestrutura de transportes, o que também denota uma preocupação com o turismo, assim como as demais. Adorei a ideia de perguntar esse tipo de coisa para quem visita o país, pois realmente acredito que usem essas informações em prol de eventuais melhorias.
Como vários países que tiveram sua economia muito concentrada no petróleo e seus derivados, Azerbaijão quer fazer do turismo uma fonte considerável, se não a primeira, de receita. E acho que estão certíssimos.
Fomos ajudados diversas vezes e por pessoas de todo tipo. Uma noite, perdidos na parte antiga e amuralhada da cidade, com suas vielas curtas e em ziguezague, perguntei para o porteiro de um prédio que não consegui identificar como chegar a um determinado ponto e, apesar de serem mais de 23 horas, ele saiu do posto e andou uns 150 metros conosco pelas ruazinhas confusas até nos levar a uma um pouco maior onde disse: daqui é só seguir reto. Tem coisa mais fofa?
Aliás, mesmo durante a semana a cidade está cheia de gente pelas ruas, inclusive crianças. Para mim isso é “ocupar” ou “apropriar-se” da cidade, não pichar ou outros maus exemplos destas paragens tupiniquins.
Na verdade, a ajuda e a simpatia já ficaram patentes logo na nossa chegada. Como estávamos por conta própria e eu já sabia das dificuldades do idioma, contratei no Brasil transfer para nos buscar no aeroporto. Mas quando chegamos nada de uma plaquinha com nossos nomes. Depois de esperar algum tempo fui até o balcão de Informações onde uma simpaticíssima atendente que falava um inglês muito razoável me ajudou. Expliquei o problema e dei o voucher do nosso transfer.
Ela então ligou para alguém e me passou o telefone. Era o nosso hotel que disse que não sabia do nosso transfer, mas mandaria um carro que em 15 minutos estaria no aeroporto. Perfeito. Enquanto esperávamos, apareceu um motorista com uma plaquinha com nosso nome. Me identifiquei e ele pegou nossas malas e saiu andando rapidamente. Como ele não falava nada de inglês, corri atrás dele dizendo que precisávamos esperar meu marido, que estava em outro ponto trocando dinheiro.
Nada dele me entender. Aí abri a palma da mão (“5”), mostrei o relógio e logo a aliança de casamento. E ele entendeu que era para esperar pelo meu marido por alguns minutos. A essa altura do campeonato a moça do balcão de informações e um atendente de uma locadora que havia presenciado tudo gargalhavam a mais não poder.
Eis que nesse intervalo, chega outra pessoa com um celular e, na tela, meu nome. Hã? Ele só falava azeri e eu nada de azeri, então fomos os dois sujeitos e eu até a minha mais nova amiga azerbaijana para que traduzisse. Resumo da ópera: nosso transfer havia chegado atrasado e havia se juntado ao que o hotel havia mandado. Aí pedi que ambos ligassem para seus respectivos patrões para saber quem nos levaria ao hotel.
O simpático sujeito da locadora, divertido com a situação, sugeriu que meu marido fosse com um deles e eu com outro. Finalmente eles resolveram quem nos levaria e eu me despedi dos meus dois “intérpretes” comentando que já gostava daquele país. Em menos de uma hora já era tão popular que duas pessoas disputavam meu transporte!
Para o segundo dia, contratamos um motorista para nos levar para passar o dia em Gobustão, uma cidade a pouco mais de 60 quilômetros de Baku onde há fantásticas pinturas rupestres ao ar livre. Fizemos o clássico combo de turistas: pinturas rupestres, vulcões de lama, templo zoroastrista do Fogo Eterno – onde ha tanto gás que há chamas espontâneas que surgem do chão. Claro que nem pensei em acender um cigarro ou plantar uma mudinha de manjericão que fosse naquele lugar…
Para chegar nos vulcões tivemos de pegar um táxi e nosso motorista veio junto. Aí foi como voltar no tempo: só entra Lada naquele fim de mundo. São talvez uns 5 quilômetros de estrada de cascalho e parecia convenção de carros russos. A maioria era como o nosso, um velho 1500 que deixou de ser fabricado em 1984.
Depois de alguns quilômetros, encontramos um Lada parado na estrada com um casal de passageiros e o motorista colocava o conteúdo de uma garrafa pet dentro do tanque. Pela cor, me pareceu algo entre Guaraná e Fanta laranja, e nosso simpático motorista titular (o do táxi não falava nadinha de inglês) nos explicou que isso era uma espécie de posto de gasolina móvel, muito comum na região.
O outro taxista jogou de volta a garrafa no porta-malas onde havia outras com o mesmo conteúdo e outras vazias, e seguiu em frente. Até agora lamento não ter fotografado a hilária cena.
Em pouco tempo entendemos por que só Ladas velhos chegam até lá . Além do caminho cheio de, digamos, “emoção”, as subidas são para lá de íngremes e eu teria dó de colocar aí algo mais sofisticado do que um Lada. É cascalho voando para todo lado, terra… pura farra! (foto de abertura)
Chegando aos vulcões, o taxista fez questão de me oferecer lama para que eu levasse comigo e pegou outra garrafa pet no porta-malas (carregam um estoque gigantesco desses versáteis artefatos) e a encheu com o conteúdo de uma cratera mais acessível. Minha máscara de lama rendeu divertidos registros fotográficos à noite, no hotel.
Na volta, passamos por algo que parecia um lixão e meu marido resolveu perguntar a nosso motorista Rauf o que era aquilo. E aí começou outra parte divertida da viagem. Ele não entendeu as palavras “garbage”, “waste” nem nenhuma outra e decidiu ligar do celular para alguém.
Me passou o telefone e era a esposa dele (acho) que falava algo de inglês e perguntou qual era nossa dúvida. Expliquei, mas ficou óbvio que não nos entendíamos. Não disse nada e devolvi o aparelho. Aí o Rauf ligou para o irmão caçula, que falava melhor inglês, mas não sabia a que lixão nos referíamos. Fingi que havia obtido a resposta para nossa questão antes que ele ligasse para toda a família e, claro, implorei ao meu marido para não fazer mais perguntas complicadas ou iríamos passar o resto do dia no celular com um monte de gente simpática.
Na estrada entre Baku e Gosbustão, nova surpresa. Três faixas impecáveis num sentido, três no outro. Mas ninguém andava na da esquerda.
Caminhões e ônibus exclusivamente na da direita e apenas na do meio nas ultrapassagens e logo em seguida voltavam. Se houvesse um já fazendo manobra, o de trás esperava. Nenhuma carreta pôs uma roda sequer na pista da esquerda. E mesmo os carros não andavam por lá.
Cheguei a pensar que fosse como na Califórnia, onde a faixa da esquerda muitas vezes é apenas para carros com dois passageiros ou mais, mas mesmo carros como o nosso (com três pessoas) não iam para lá. Até que depois de sei lá quantos quilômetros, com trânsito mais pesado, alguns carros começaram a ir para a esquerda, ultrapassar e voltar para o meio. Não era faixa exclusiva, não. Apenas seguiam a norma de que na estrada se transita pela direita e a faixa da esquerda é somente para e durante as ultrapassagens.
As velocidades máximas são super-razoáveis em função dos trechos e do caminho — iam até 120 km/h, como no caso da autoestrada que liga o aeroporto ao centro. Quando pedimos para o gentil Rauf ligar o ar-condicionado, ele encostou o veículo para mexer no painel — mas depois falou no celular dirigindo. Então tá, uma no cravo outra na ferradura.
Achei o trânsito supercivilizado e embora não tenha dirigido, o faria tranquilamente. Como gostaria de ir novamente alguma vez, já sei que alugaria carro numa boa. E aprenderia algumas palavras mais de azeri.
A maioria dos automóveis são sedãs. Vi pouquíssimos suves e para minha felicidade, menos ainda tinham película nos vidros — e ainda assim, não muito escura e somente nas janelas dos passageiros de trás. Tenho especial implicância com os filmes quando estou passeando pois gosto de ver a paisagem — no carro que nos buscou no aeroporto, nem abrir a janela ajudou, pois havia uma telinha fixa. Ô tortura! E as fotos ficaram horríveis.
Mesmo no centro de Baku o trânsito é bom. Há muitas passagens subterrâneas para pedestres ao longo do lindíssimo bulevar, o que dá maior fluidez ao trânsito. A sinalização é enxuta e eficiente. Nada de placas desnecessárias, poluindo o visual desta cidade que lembra muito Mônaco mas com ainda mais flores e verde — tudo super bem-cuidado.
Também não vi pichações e raras placas tipo outdoor, o que permite que se admire a belíssima arquitetura do início dos anos 1900 — a mais bonita da cidade, na minha opinião, além das construções do século XII e outras de períodos próximos. Já os prédios da época soviética seguem o modelito caixote, sem charme nenhum e iguais no mundo todo, mas para minha felicidade puramente estética não estão dentro das muralhas nem na parte mais central da cidade.
Bicicletas e motos (ambas relativamente poucas, especialmente estas últimas) dividem espaço nas ruas mesmo, mas é comum ver ciclistas nas calçadas, andando tranquila e civilizadamente, mesmo com velocidades mais altas nas ruas. O mesmo acontece no bulevar que margeia o mar Cáspio, onde muitas pessoas vão correr (a pé) também. Não vi nenhuma ciclovia nem ciclofaixa.
Baku é a cidade das fontes e das praças bem cuidadas. E, para meu deleite, silenciosa apesar de vibrante. Nada de motoqueiros buzinando o tempo todo. Aliás, pouquíssimas vezes ouvi alguma buzina de qualquer tipo — apenas para alertar alguém que saía de ré ou como quando não conseguimos ultrapassar as muralhas para voltar para nosso hotel, pois havia algum tipo de bloqueio na Double Gate — aquela porta dupla nas muralhas por onde passam os carros de Fórmula 1 — se bem que eles o fazem na contramão do trânsito normal.
Outra coisa que adorei foi conseguir fazer todo o percurso do circuito, inclusive aquele lindo retão que acompanha o bulevar. E sim, os pilotos são loucos de passar naquela curva do castelo. Ao vivo, mal passa um carro de passeio quando tem outro estacionado de tão estreito que é, e os pedestres tem de andar pela rua (foto 7). E mesmo dentro das muralhas, pedestres, carros e até mesmo tapetes que estão à venda dividem o mesmo espaço sem neuras.
Ah, e sabem do mais engraçado? Na saída de Baku para Istambul, ao chegar ao aeroporto não localizei o balcão da nossa companhia aérea. Fui então para o guichê de informações mais próximo e quem encontrei? Minha amiga azerbaijana, aquela que havia me ajudado com os motoristas na chegada. Quando me viu chegar perto, disse: “No que eu posso ajudar? Ah, me lembro de você. Nora, não? E aí, conseguiu chegar bem ao seu hotel?” Ambas sorrimos e ela ainda me deu as informações sobre nosso voo. Eficiência e simpatia. Tem combinação melhor do que esta?
Mudando de assunto: com tantos passeios, diferença de fuso horário (8 horas) e algumas dificuldades para achar canais de esporte nos hotéis, acabei não vendo a corrida de Mônaco. Apenas o Ricciardo bebendo champagne na sapatilha. Adoro o sujeito, mas acho que por mais que goste dele dispensaria esse ritual. Mas que foi legal ver ele no pódio, isso foi. E confesso que sabia de cor o traçado de Baku. Fazê-lo, parte a pé, parte de carro (embora não estivesse ao volante) me fez valorizar ainda mais esses sujeitos. Fazer o que eles fazem não é para os fracos, não. Aliás, nunca foi.
NG
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