Tenho uma amiga que basta entrar num carro que cerca de 10 minutos depois passa mal se estiver sentada no banco de trás. Ela tem sérios problemas de labirintite e sei lá o que mais. O fato é que somente quando está dirigindo ou sentada no banco do carona e, de preferência com a janela aberta, é que não tem problemas. E nem pensar em sentar de costas para a direção que anda o veículo — nem em trem, metrô, nada disso.
Minha irmã era assim quando pequena. Bastava entrar no carro que ou dormia ou enjoava — e muitas vezes as duas coisas alternadamente. Pela idade ia sempre no banco de trás, claro e com o passar dos anos isso passou sozinho.
Eu passei mal uma única vez, há cerca de dois anos, depois de ir e voltar à Caverna do Diabo, em Eldorado, SP, no mesmo dia. Estava no banco traseiro, mas virada para trás, brincando com o filhinho dos meus amigos. Janelas fechadas, ar-condicionado ligado e um sem-fim de ziguezagues, pois é quase tudo caminho de serra. Mas pedi apenas para parar e descer do carro e o ar fresco foi suficiente e nada de mais aconteceu. A sensação foi péssima, mas curta. E voltei com parte da janela aberta numa boa.
Foi a única vez que isso me aconteceu mas confesso que o banco de trás está longe de ser meu lugar favorito num carro. Gosto mesmo é de sentar atrás do volante — como na foto de abertura, ao avaliar o Lexus NX 200t F Sport em setembro de 2015.
É claro que nem sempre tenho a prerrogativa de escolher onde sentar. Quando se trata de montanha-russa meu marido e eu somos os primeiros a entrar e escolhemos o banco da frente sempre que podemos. Gosto do vento batendo no meu rosto, do frio no estômago de ser a primeira a ver as descidas que vamos enfrentar (e sempre penso “quem mandou eu me meter nesta?”) e, claro, quero mesmo é descer logo depois da primeira subida íngreme, pois sei que em seguida vem uma descida igualmente íngreme.
Em Queensland, na Nova Zelândia, éramos os terceiros e quartos para entrar na lancha do Shotover, mas diante da hesitação do casal adiante eu prontamente perguntei: “Podemos?”, assinalando o primeiro banco. E com a concordância deles, lá fomos nós, sentar ao lado do piloto. E foi muito, muito legal. Até hoje penso que eles concordaram só de ver o brilho nos meus olhos. Parece que fico com cara de criança que ganha um balde de doces quando me vejo diante de coisas assim e que é muito difícil dizer que não.
Se não posso sentar no banco do motorista, o banco do lado está de bom tamanho para mim. Sempre fui uma excelente navegadora — desde os tempos dos mapas de papel. Tenho um ótimo senso de orientação, boa memória e gosto de assistir o motorista. Mas também gosto da visibilidade que o para-brisa proporciona. No banco de trás as janelas são pequenas, os bancos dianteiros obstruem a paisagem — especialmente os apoios de cabeça — e, pior para mim, por ser pequena, costumam me dar o lugar do meio pois é o que menos atrapalha a visão do motorista quando há três pessoas no banco de trás.
Ultimamente têm me incomodado muito os faróis desregulados dos carros que vêm atrás e que batem, justamente, no espelho direito do carro. Às vezes não chegam a incomodar o motorista, mas para o carona são perturbadores. Mas ainda assim prefiro saber quem está atrás. E assim como faço quando dirijo, sou perfeitamente capaz de lembrar que tipo de veículo está atrás de mim ou do meu lado.
Como nunca fui presa, jamais andei no porta-malas de nenhuma viatura. Meus pais sempre tiveram modelos sedãs, assim como meus tios e avó — logo, nunca andei no bagageiro de nenhum carro. Mas minha sogra costumava levar meu sobrinho mais velho no porta-malas da Parati — sim, eram outros tempos, as noções e os conhecimentos de segurança eram outros, ele foi o primeiro neto, primeiro sobrinho e, convenhamos, antes de comprar uma briga com sogra a gente tem de pensar várias vezes. E isso faz muito, muito tempo.
Hoje, sem dúvida, eu compraria essa briga, menos pelas consequências com o meu relacionamento com ela (que era muito bom) e mais pelo quanto adoro meus sobrinhos. Só de pensar no trânsito de São Paulo e no que poderia acontecer com uma criança de três anos solta num porta-malas e o tanto de batidas traseiras que acontecem nesta cidade, acho que me arriscaria, sim. Mas, enfim, não faço a menor ideia de como é o mundo visto desde o porta-malas, mas imagino que para uma criança de três anos devia ser bem mais legal do que preso numa cadeirinha no banco de trás.
Mas, como tudo na vida, nem sempre o melhor e o que se deve fazer é o mais bacana. Especialmente porque estou falando de uma cidade como São Paulo, não de uma fazenda, e a chance de tomar um totó é de fato muito grande.
Outro motivo pelo qual gosto do banco do carona é que tenho chance de olhar pelo para-brisa e pela janela lateral. No banco de trás, ainda que se olhe pelo vidro traseiro, normalmente ele é infinitamente menor do que os outros. E mais alto. Nada se compara a ter mais superfície. Se sou curiosa? Claro que sim! Se gosto de ver tudo a minha volta? Claro que sim! Se gosto de ver as coisas passando a minha volta? Claro que sim! Esse é um dos vários motivos pelos quais gosto de carro.
Mudando de assunto: depois de um primeiro semestre sonífero, a corrida da Áustria de Fórmula 1 foi de tirar o fòlego. Prova de que para ser emocionante não há necessidade de acidentes. Acertos (da Ferrari) e erros (da Mercedes) de estratégia, além de azar (do Ricciardo , do Hamilton e mais uma vez do Bottas) ajudaram, é claro, mas houve belas ultrapassagens. Especialmente o drible do Leclerc no Stroll, que revidou com outra linda ultrapassagem. Somados, os dois moleques não dão meio século de idade, mas foram manobras de gente grande. Lindo de ver. E, como sempre, o preciso Ricciardo em mais algumas manobras perfeitas, especialmente com o Kimi que, corajosamente se manteve muito perto dele apesar de um pneu do australiano que estouraria a qualquer momento. Agora, uma pergunta: quantos aviões a Red Bull fretou para fazer a rota Holanda-Áustria? Vixe! Só tinha laranja nas arquibancadas…
NG