Os carros autônomos moram há muito tempo em nosso imaginário, e se podemos imaginar, podemos fazer.
Desde os “Jetsons”, insinuações de que no futuro carros seriam inteligentes o suficiente para nos levar onde quiséssemos, ainda por cima pelo ar e não presos às estradas. Porém, o grande desafio de dominar a gravidade ainda não foi alcançado, mas continuamos tentando.
Outro grande designer e futurólogo automobilístico, Syd Mead, já nos anos 70 antevia carros voadores e autônomos.
Mas o carro autônomo poderia ser muito mais do que somente um dispositivo para levá-lo daqui para lá. Você poderia também trabalhar, se reunir e até dormir nele. Significa que o carro do futuro não deve ser tratado como uma máquina, mas também como uma casa em termos de ergonomia, acessórios eletrônicos de conexão e comunicação e tratamentos decorativos e materiais.
Já que não vamos dirigir o carro, perderemos o status de “motoristas” com muitas regalias à mão, como a própria “direção e controle do veiculo”. Bamos todos virar passageiros, portanto o que seria realmente importante para os passageiros? Internet, conforto nos bancos, materiais agradáveis…
Na minha visão, o conceito autônomo pode se aplicar a centros urbanos de países desenvolvidos, com sistemas de transportes públicos (hidrovias e ferrovias) outros além dos automóveis, já estáveis, e fechados ao trânsito convencional não autônomo.
Quando você mistura não autônomos com autônomos, você quebra a regra, fica sem o controle total do sistema, portanto podem acontecer acidentes, o que não está nos planos dos autônomos.
No Brasil de hoje, com a indisciplina dos motoqueiros e motoristas, e infraestrutura arruinada, pensar em autômato, seria um sonho inatingível. Além disso, como ficaria a máquina de “comer dinheiro” do governo, se não houvesse mais multas de trânsito?
Uma das louváveis razões para o carro autônomo é a de diminuir drasticamente os acidentes de trânsito. Mas, principalmente, liberar o motorista da necessária atenção total ao trânsito, que nas grandes cidades é brutal.
Mas são muitas as questões que envolvem o automóvel elétrico autônomo. Em termos de construção eu vejo grandes vantagens para o carro autônomo, já que ele é teoricamente mais simples do que um convencional com motor a combustão.
Numa indústria que procura tostões para diminuir custos, o carro elétrico é um prato cheio. Imagine se você pudesse se livrar de válvulas, pistões, anéis, injetores, árvores de comando e virabrequins, turbocompressores, caixas de câmbio completas, etc.
Os motores elétricos são muito simples na sua concepção e podem variar sua força sem a necessidade de uma caixa de câmbio.
Se não houver mais acidentes, como se prevê com um sistema integrado, não haverá também a necessidade de todo aparato de segurança ativa e passiva de hoje (cintos de segurança, airbags, sistemas deformadores e de reforços na carroceria, e construção concebida para o crash). Todos seriam extintos, inclusive a obrigação de hoje dos passageiros se posicionarem em determinada posição fixa, sentados, olhando para frente.
Com estas possibilidades, poderíamos criar uma plataforma autônoma que receberia uma cápsula, seja para transporte de passageiros ou bens, sem outras necessidades estruturais a não ser a de proteger contra o vento e frio do mundo externo.
Para a fabricante, sobraria a tarefa de projetar e montar, já que a grande maioria das peças — eu diria todas— poderiam ser “blackbox”, que significa caixas fechadas de inteira responsabilidade dos fornecedores que chegam à fábrica “just in time”.
A marca do carro já não seria mais importante, mas sim a marca do sistema de transporte é que valeria.
O carro não seria mais de propriedade do usuário, portanto, tanto faz qual seja a marca.
Assim como o design externo não seria mais o grande fator de escolha, mas o melhor sistema de atendimento e acessórios de conforto dentro da cabine.
Imagino que particulares com muito dinheiro possam querer ter seu próprio autônomo, personalizado ao seu gosto, o que também seria possível, desde que você tenha dinheiro para pagar por esta exclusividade.
Quanto à tecnologia com motores elétricos, existem muitas dúvidas. Claro que o carro elétrico, tem suas vantagens nas grandes cidades, evitando a emissão do CO2 e óxidos de nitrogênio, porém a que custo para o meio ambiente em geral? Carros elétricos são limpos, mas para produzir cada bateria polui-se o mesmo que um carro convencional poluiria durante seis anos de uso!
Isto significa que os centros urbanos de países civilizados ficariam livres da fumaça, mas algum outro lugar do mundo, menos privilegiado pela riqueza, ficaria muito prejudicado pela exploração e refinamento da matéria-prima, fora os escândalos que já surgiram sobre exploração humana e infantil na exploração do material bruto, o lítio.
Não acho que esta seja uma solução razoável, olhando-se do ponto de vista ambiental e social.
Já a problemáticas dos autônomos está ligada ao desenvolvimento dos softwares que, usando os sensores do carro, satélites para a navegação e inteligência artificial, vão juntos perceber o ambiente e reagir a uma infinidade de inputs para conduzir de maneira segura o veículo para um destino previamente designado.
Já estão no mercado uma série de auxiliares de condução, que podem, por exemplo, manter um automóvel rodando entre as faixas da rodovia, perceber veículos a menos velocidade e reduzi-la e até mesmo parar, independente da ação do motorista, para evitar um acidente.
Estacionar sozinho e até ir buscar o motorista na porta do shopping também já são realidade.
Motoristas sonolentos são flagrados pelo carro que aconselha, parar para um café e curta caminhada, para recuperar a atenção.
E assim vamos descobrindo e desenvolvendo novas funções, tornando o automóvel cada vez mais inteligente.
Na área automobilística a disciplina que mais desenvolveu na última década foi justamente a área de elétrica, responsável para o desenvolvimento da maioria dos sistemas de controle sobre várias funções dentro do carro.
As funções “drive by wire”, que significa a troca de ações mecânicas diretas (ex: cabo do acelerador) já não existe há uma década substituída pelo pedal que emite o sinal elétrico e deixa o “cérebro” do carro enviar ordens para o motor.
Andar de carro vai ser como andar de trem, só que com a opção de privacidade de uma cabine só para você.
Sendo a maioria dos carros autônomos públicos, materiais de revestimentos serão mais neutros e práticos para limpeza.
No caso de carros privados, não há limites para o nível de qualidade de materiais que poderiam ser usados, sejam tecidos de alta tecnologia, carpetes, couro, madeira, alumínio, cerâmica, tudo sobre encomenda.
Imagino também novas companhias ou clubes onde você pode receber não só o veículo mas também todo um cardápio de informações, utilidades e amenidades pagando taxas mensais.
Mas ainda vai demorar até esta nova maneira de tratar o trânsito urbano e consequentemente seus automóveis se tornar realidade.
Para algumas cidades e países será mais rápido, para outros mais devagar, mas na minha opinião a era de ouro dos automóveis está terminando. A saturação nas estradas e nas cidades está no limite do suportável.
A situação crítica do trânsito não é uma exclusividade do Brasil, mas um mal mundial. Conheci as Autobahnen na Alemanha num tempo em que elas eram o melhor que havia no mundo em termos de estradas de alta velocidade e com qualidades arquitetônicas invejáveis. Hoje, estão também ultrapassadas pelo grande fluxo de cargas e volume de carros que circulam pelo país.
Mesmo assim é bem possível que as grandes cidades brasileiras sejam mesmo as cidades com o trânsito mais caótico e cruel com seus motoristas, pois ao mesmo tempo que impõe vários perigos, vindos da má estrutura e segurança, também impõe um sistema de multas insuportável aos cidadão.
Enfim, todas grandes empresas de automóveis estão trabalhando em veículos autônomos e estamos aprendendo a lidar com o automóvel inteligente, que vai lhe levar no colo até seu destino.
Pode começar a esquecer aquele lugar privilegiado atrás do volante, aquele que lhe faz tão poderoso e livre.
Em 2015 fomos convidados pelo Walter de Silva, então chefe do Grupo Volkswagen Design a participar das primeiras discussões sobre o carro autônomo. Nosso estúdio no Brasil não tinha nenhum budget para isso, e com mais um um começo de crise grave na economia brasileira, não tínhamos como nos dedicar ao tema. Mesmo assim fizemos algumas seções de “brainstorm” e fechamos nossa visão sobre o tema, que eu teria que apresentar para o Walter De Silva, em Barcelona, no estúdio da Seat.
O trabalho foi praticamente feito pelos nossos estagiários, é claro que comandado pelos
supervisores das área, mas, no fim, fez um papel muito bonito em frente ao chefão e aos colegas das outras marcas.
Enquanto muitos dos chefes Designers-chefes das marcas apresentaram um trabalho mais para o lado artístico e arquitetônico do tema, nós fomos direto à raiz do problema, que é mostrar números assustadores de mortes no trânsito, uso do conceito quase que exclusivamente para transporte público, e não mais privado, e todas consequências de negócios que esta novo formato poderia gerar.
Também mostramos conceitos de montagem modular para várias aplicações e multiplicação de módulos para diversos usos. Tanto que quando nos retiramos da competição por causa da falta de dinheiro e pessoal no estúdio do Brasil, houve uma certa comoção do grupo e do Walter, porém, no fim, ninguém quis pagar pelas nossas horas de trabalho e, portanto, “no money, no ticket”.
O final desta ação com o grupo de Design VW acabou gerando o Sedric, uma proposta da VW para um carro 100% autônomo.
Para as marcas esportivas do grupo VW o tema é realmente de mau gosto, e não se encaixa.
Quem pode prever um Porsche ou Lamborghini autônomo? Para que, já que a grande
experiência com estes carros é “dirigir”?
Para as marcas de luxo como Bentley e Bugatt até que não é tão difícil de se imaginar veículos especialíssimos, de alto luxo, mesmo porque o certo nestes casos que o carro seja dirigido por um motorista.
Portanto trata-se de substituir o motorista humano por um virtual. Mas para a maioria das marcas é uma questão muito difícil de se abordar. Sempre acabamos caindo na situação nada usual de ter que lidar com um veículo público, e não privado como hoje.
Portanto, o problema maior não seria só fazer o carro autônomo do ponto de vista engenharia (isso somos mais que capazes), mas como estes carro vão funcionar numa rede de trânsito que não é automatizado.
Como os governos vão lidar com isso
Já foi pronunciado pela justiça que no caso de um acidente de carro automatizado o motorista continua sendo o responsável pelo acidente, já que ele decidiu esta maneira de transporte. Como vamos lidar com isso?
Mas o mundo não para e aí estão os Teslas para mostrar isso. Na realidade o que o Tesla faz é um caminho suave, muito bem trabalhado do ponto de vista de marketing, e que permite individualidade como nos carros atuais mas oferece assistentes de direção que te permitem largar pés e mãos dos controle em estradas em boas condições.
É um carro inteligente e sensorialmente eficaz para tarefas básicas como seguir linhas de padrões de estrada e se afastar de barreiras físicas, como o carro da frente.
Porém está muito longe da qualidade de percepção de um ser humano, que é capaz de reagir a inesperados mais rapidamente ou, melhor dizendo, pode “perceber e improvisar coisas que a máquina não pode…ainda.
O problema está na inércia do veículo. Nós, humanos, normalmente desprezamos a distância de segurança do carro da frente, ou antevemos antecipadamente o caminho de um veículo que vem lateralmente ao longe e por isso somos mais eficientes em certas situações.
Porém, se houver uma necessidade de uma freada de pânico do carro da frente, ou mesmo uma diminuição de velocidade, e nós não percebermos, por distração momentânea (por exemplo, olhar para uma paisagem) com muita certeza vai acontecer a colisão.
A “máquina” que controla o carro sempre vai observar esta distância de segurança, por isso, vai, em muitas situações, parecer ineficiente, andando devagar por ficar “atrapalhada” com tantos “inputs” ao mesmo tempo e sempre parando a uma distância maior que a que nós pararíamos.
Porém é tudo uma questão de tempo, pois especialistas trabalham dia e noite para resolver todos problemas conforme vão aparecendo e o conhecimento humano não para nunca de evoluir.
Através de novos materiais e da evolução da inteligência artificial, finalmente o homem será em breve, transportado de maneira totalmente automatizada. Má notícia para os amantes do automóvel.
Outro exemplo de automóveis autônomos são os carros de corridas sem motoristas! Daniel Simon foi meu colega de trabalho no estúdio de Potsdam. Um grande designer de automóveis, que ficou famoso por desenhar veículos do futuro para Hollywood.
Ele faz parte, como Designer-chefe do projeto ROBORACE, que está criando o primeiro Fórmula 1 autônomo e uma nova categoria de competição, os carros de corrida autônomos.
Veja roborace.com para conhecer seu trabalho.
LV