Dentro da área de Design existem muitos profissionais que não são designers, porém sem eles nada aconteceria a não ser, pilhas de desenhos sem função.
MODELADORES: são profissionais que vêm da própria indústria,normalmente das áreas de modelação técnica, da área de ferramentaria ou de Protótipo, que também são modeladores técnicos.
Só para lembrar, esta é uma profissão antiga.Eu mesmo iniciei minha carreira como aprendiz de modelação técnica pelo Senai.
São profissionais que têm a capacidade de construir modelos, ferramentas e dispositivos de produção, usando os desenhos ortogonais como base de trabalho. Porém, o modelador técnico também trabalha com materiais duros, como madeira,
ou materiais sintéticos como “epowood”, massa plástica, etc.
No Design, o principal material de modelação é o “clay” que também pode se chamar de plastilina. Na realidade trata-se de uma massa de modelar, especialmente criada e desenvolvida para a indústria automobilística.
A palavra “clay”, em inglês, barro, indica a matéria-prima básica que é a argila, porém com um secreto tratamento químico que o torna macio quando aquecido a 80 ºC e a 21 ºC duro o suficiente para ser esculpido com ferramentas especiais.
No passado os modeladores usavam chapelonas de madeira para “enterrá-las” no clay até sua posição determinada pelos desenhos técnicos. Quando retirada, fica a seção marcada no modelo, e aí o modelador “come” o material, até a marca da chapelona.
Além de pequenas “enxadinhas” de diversos formatos e larguras se usam também grande “réguas” de aço para superfícies grandes.
Os modeladores são responsáveis pela construção dos modelos de Design, desde a construção da estrutura interna, mas que é construída pelo protótipo, já que é uma grande peça de metal (o design não trabalha com metal) orientados pelos modeladores.
Depois eles aplicam primeiro — “enchem” a estrutura — placas de Stiropor™ (poliestireno) no formato básico do futuro carro, porém com 60 mm a menos que a superfície final. Depois, preenchem com clay o volume faltante para se aproximar da superfície final do carro.
Em conjunto e sob orientação dos designers, os modeladores iniciam a escultura do modelo, através de desenhos, e da ação dos designers, corrigem o clay, usando fitas e outros artifícios para “acertar” a superfície.
Com frequência, o modelo é recoberto com “dinoc”, uma fina película, normalmente pintada em prata (cor neutra) para analisar o modelo, fora da ponte de trabalho, em uma área externa, com a luz do sol, ou luz natural. O dinoc substitui a pintura e adere na superfície por vácuo, portanto não danifica a superfície e pode ser retirado com facilidade.
Após as correções (sempre encontramos problemas quando analisamos o modelo pintado e ar livre) o “dinoc” é retirado, o modelo novamente posicionado na ponte de trabalho e o trabalho continua.
Para apresentações de aprovação (são três no total) para a diretoria o modelo é pintado e devidamente paramentado com rodas, espelhos, maçanetas, molduras diversas e “vidros” de acrílico.
Na última apresentação o modelo é tratado com muito carinho e visto a uma certa distância tem a aparência perfeita de um carro de verdade.
Nas fases que antecedem as apresentações finais, não tem hora de término de serviço. Passei por esta situação muitas vezes, onde permanecíamos no estúdio por até 48 horas, sem banho, comendo lanches e até dormindo ao lado do modelo para garantir que na hora do “Show” o modelo estivesse perfeito.
Na última década, com a introdução de novas técnicas automatizadas de modelação (via fresa) o papel do modelador foi diminuído, e a parte mais pesada, que é justamente a definição inicial da superfície completa, foi absorvida por máquinas. Mas o acabamento final ainda fica em mãos destes fantásticos profissionais, os Modeladores de Design.
ENGENHARIA AVANÇADA : todo bom estúdio tem sempre uma pequena mas muito competente equipe de “Engenheiros Avançados” que fazem a ponte entre os designers e a Engenharia formal.
Estes profissionais normalmente são engenheiros com grande experiência, pois ao contrário do engenheiro formal, que cuida somente da sua especialidade (Acabamento, Carroceria, Elétrica), os engenheiros avançados têm que conhecer o básico sobre todas disciplinas da engenharia.
Eles policiam os designers, checando em tempo real toda implementação ou modificação no modelo.
Os pontos de “check” ou “hard Points”, pontos a serem respeitados, são muitos.
Altura total, movimentação dinâmica das rodas, base do para-brisa, curvatura dos vidros, raios mínimos, posicionamento de sensores, abertura de entrada de ar, abertura das caixas de roda, posição e geometria dos gaps para peças móveis, posicionamento dos trincos de porta, posicionamento dos espelhos, sensores, tanque de combustível, etc.
São centenas de itens que devem ser verificados e introduzidos corretamente no modelo com a bênção de seus devidos engenheiros.
O engenheiro avançado faz os primeiros desenhos, baseados em seções retiradas do modelo, onde ele estuda também os ângulos de extração das peças, linhas de divisão, fixação mecânica das peças, que sempre devem ser invisíveis e estudos de geometria de peças móveis.
Ele é nosso aliado quando surge uma questão técnica.
Quando a Engenharia afirma que uma certa peca ou situação do modelo não é viável por alguma limitação técnica, é ele que sai em defesa do Design e tenta negociar, com contrapropostas viáveis.
TAPECEIROS: são alfaiates de carros que se dedicam especialmente à criação de novos figurinos de bancos, Eles geram o desenho dos “patches” que, costurados conforme suas especificações, vão formar as capas dos bancos.
Depois de aprovados e certificados pela Engenharia, os desenhos são entregues para os fornecedores das capas, que após produzi-las as entregam aos fornecedores dos bancos completos, que são entregues “just in time” na linha de montagem.
ALISADORES DE SUPERFÍCIE: na realidade estamos falando de modeladores virtuais, que transformam a superfície do modelo em superfície matemática usando sofisticados programas para isso.
É uma das profissões mais bem pagas dentro do estúdio e podem ter salários bem mais altos que um designer sênior.
Existe uma forte tendência de os designers em si finalmente saírem dos desenhos 2D e já trabalharem direto com superfícies virtuais, ganhando, aí sim, muito tempo de desenvolvimento.
Porém esta tendência às vezes é freada pelo próprio chefe do estúdio, já que o trabalho virtual é muito “fechado”, muito individual, e o chefe fica mais tempo sem poder visualizar a evolução do projeto.
Diz a lenda que nas primeiras apresentações de realidade virtual para a diretoria, a tecnologia com os enormes óculos 3D não foi bem aceita, já que enquanto todos estavam de óculos virtuais não podiam ver as reações faciais dos chefes, se estavam gostando ou não, e por isso os temas virtuais continuam sendo apresentados em enormes telas de altíssima definição.
CONTROLLER DE PROGRAMAS: como na indústria moderna a demanda de novos modelos funciona num ciclo pré determinado e cada carro se multiplica em vários modelos, com conteúdos diversos, alguém não criativo mas bom administrador, precisa fazer o controle dos programas.
Cada programa transcorre como um ritual que tem começo, meio e fim, subdividindo as apresentações e aprovações para que o programa “ande” até o lançamento do carro.
Um programa convencional de grande conteúdo, como um novo modelo, demanda quatro anos de trabalho e milhares de horas dedicadas a cada área, que no fim significa dinheiro!.($$$)
Um grande estúdio como o Volkswagen Design Center, em Wolfsburg, tem uma equipe de aproximadamente 10 técnicos administrando ao redor de 50 modelos ao mesmo tempo, isso só para a marca VW.
Estes heróis silenciosos também controlam as horas de trabalho, o dinheiro disponível, as apresentações para diretoria e outros “perrengues” administrativos.
LOGÍSTICA: o estúdio é uma coisa móvel. Quase tudo que está sobre as pranchetas e pontes de trabalho são temporários. O pessoal de logística é responsável pela movimentação dos modelos, especialmente em dias de apresentação, mas também para translado dos modelos para zonas externas na fábrica e fora dela. ]
Também providenciam as peças COPY, ou seja, peças existentes que vão ser usadas
no modelo e vêm da fábrica ou de fornecedores.
Os modelos são transportados por “Stringos”, que são minirrobôs que “pegam” os modelos pelas rodas dianteiras ou traseiras e os levanta alguns centímetros do solo, puxando os modelos de até 2 toneladas com seus motores elétricos.
Para transporte externo a matriz desenvolveu contêineres adequados e com temperatura ambiente controlada para a movimentação dos modelos.
ASSISTENTES E SECRETÁRIAS: as secretárias são o braço direito dos executivos, cuidando inclusive de aspectos de sua vida pessoal, já que a partir de uma certa posição dentro de uma grande multinacional o executivo não tem a menor condição de cuidar de seus próprios interesses pessoais, dedicando-se quase que “full time” ao trabalho.
Elas (e eles) também agendam reuniões sem fim, quase de hora em hora, desde as 7h00 até sempre tarde da noite, e cuidam da administração de alguns itens de pessoal (funcionários) como controle de horas trabalhadas, organização de viagens, reúnem os materiais para reuniões, e outras atividades comuns a executivos graduados.
A segurança do estúdio sempre é um fator importante, e além de que cada funcionário esteja o tempo todo atento a estranhos dentro do estúdio, também existem sistemas de vigilância gerenciado pela área de segurança da fábrica. De qualquer maneira, os segredos têm que ficar retidos na área.
Trabalhei mais de 30 anos na área de Design e nunca uma informação importante e secreta escapou da nossa área, o que por si só é um milagre.
Então fica aqui um alerta para aquele jovem que gosta de Design, que dentro da área existem vários caminhos que podem inclui-lo no mundo do Design de Automóveis.
LV