Final de ano é tempo de retrospectivas na televisão, nos jornais, nas revistas… Não faço isso na minha vida pessoal, pois costumo reavaliar e planejar as coisas esporádica e randomicamente. Cobranças de leve, pois sempre faço o meu melhor, e olhar para trás idem, pois este ano teve coisas boas, como sempre, mas uma perda muito, muito difícil e problemas de saúde familiares idem. Logo, prefiro conscientemente não relembrar certas coisas, embora a perda de seres muito queridos signifique que tivemos o prazer e a honra de tê-los nas nossas vidas.
Mas como não sou eu quem faz a grade televisiva, caí em algumas retrospectivas. Mas caí com gosto na de Fórmula 1 do SporTV, “O Túnel do Tempo”. Basicamente, reprise de corridas marcantes e, em alguns casos, comentários atuais com pessoas interessantes. Destaco o programa que lembrou o aniversário do segundo título de Piquet, com a corrida do GP da África do Sul em 1983 (foto de abertura) com comentários do filho Pedro Piquet, Sérgio Maurício e Reginaldo Leme. As imagens, ainda que um pouco antigas, têm qualidade bem aceitável. Nesse caso, incrível como Piquet já tinha toda a corrida e as variáveis previstas antes do seu início. Gênio, mesmo.
A reprise da corrida de Jacarepaguá de 1983 também é incrível. Como era a corrida de abertura do campeonato e obviamente nós não sabíamos que Piquet ganharia mais um título, é muito legal ver vários brasileiros (Chico Serra e Raul Boesel também estavam lá) e assistir a vitória dele, que foi da estratégia. Mas tanto ele quanto a Brabham sempre primaram por isso. Diverti-me (eis a ênclise da semana) com algumas peculiaridades da época. Sylvia, então esposa de Piquet (sim, foram várias e uma mais bonita do que a outra), mostrando a placa na reta dos boxes para ele me fez lembrar porque se chama aquela época de “tempos românticos” da Fórmula 1. E na entrega dos prêmios ela estava no pódio. Mesmo lugar onde estava Reginaldo Leme, que simplesmente começou a entrevistar o brasileiro logo depois que ele recebeu o troféu, interrompendo a cerimônia que seguiria com a entrega da taça ao segundo colocado. Aliás, a o pódio parecia qualquer coisa menos um pódio oficial. Todo mundo estava lá — menos eu, snif, snif.
E por falar em pódio, hilário pelo amadorismo o “fundo” do palco. Todo de madeirite, com suportes e estacas segurando, no melhor estilo barracão de obra. Cheguei a pensar que o lobo mau poderia derrubar tudo com um simples e fraco sopro. Isso sem falar em Jean-Marie Balestre, no melhor estilo John Travolta com seu terno branco e a camisa preta com o colarinho aberto.
Foi lindo ver novamente os carros com motor 1,5-litro turbo. Novamente, tempos românticos aqueles. Sempre gostei dessas coisas pela inovação e pela pesquisa que todos esses itens significam — como os Tyrrell com seis rodas. Ainda itens que acabaram sendo deixados de lado me atraem, pois sei o quanto envolveram de trabalho e pelo fato de alguém pensar fora da caixa. Prezo muito a tecnologia, ainda que experimental.
Ainda no quesito vanguarda, chamou-me (mais uma ênclise, afinal, semana passada não escrevi minha coluna) a atenção o figurino dos mecânicos. Enquanto a maioria vestia engraçados e hoje ridículos shortinhos curtos e apertados e camisetas de manga curta idem, o pessoal da Brabham usava macacões e balaclava — alguns capacetes, acho, mas vi de relance, portanto não tenho tanta certeza. Algo que teria sido muito útil para os bombeiros brasileiros no caso do reabastecimento do sueco naturalizado finlandês Keke Rosberg já que o carro pegou fogo por alguns segundos, obrigando-o a sair rapidamente do carro. Os próprios bombeiros vestiam roupinhas de algodão comum e capacete que apenas protegia a parte superior da cabeça.
Aliás, os melhores tempos nas trocas de pneus eram da Brabham, assim como eram as mais inovadoras as estratégias criadas em conjunto com o próprio Piquet. Sempre achei que para um piloto ter uma equipe confiável deve ser fundamental. Saber que não vão errar o tipo de pneu, esquecer de apertar um parafuso ou qualquer outra coisa deve valer ouro. Como um trapezista que deve confiar cegamente no receptor.
Mas nem tudo foi novidade. Teve também o mesmo de sempre. O chileno Eliseo Salazar, duas voltas atrás do segundo colocado Keke Rosberg, deu uma fechada absurda no finlandês — ou seja, Salazar sendo Salazar. O nem tão frio assim Keke passou gesticulando pelo chileno, mas eu teria feito como Piquet na corrida da Alemanha de 1982 e teria dados uns cascudos nele de muito bom grado.
OK, ser uma pessoa melhor vai para minha lista de promessas do próximo ano, tá? Aliás, revendo este e outros capítulos do Túnel do Tempo percebo que Keke Rosberg era melhor piloto do que me lembrava. Não sei por que tinha a lembrança de alguém bom, mas vi algumas manobras dele realmente surpreendentes. Acho que me deixei levar pelo fato de ter ganho um campeonato com apenas uma vitória — o que, para mim, não significa muito. Sempre adorei o canadense Gilles Villeneuve que não ganhou campeonato de F-1 algum. James Hunt, inglês, outro dos meus ídolos, tinha somente um título. E nenhum deles era tão recordista assim de vitórias, mas sim de manobras maravilhosas. Para alguém como eu que curte não apenas ir do ponto A ao ponto B, mas o caminho em si, faz todo sentido gostar de pilotos assim. O mesmo acontece com outros esportes. Gosto de futebol, mas não ligo para rankings nem campeonatos — gosto de ver jogos e jogadas bonitas, mas o resultado da partida em si não me interessa muito.
É claro que muitas coisas mudaram para melhor também desde aqueles tempos. Toda vez que vejo o diretor de prova dar a bandeirada no meio dos carros, na pista, me preocupo, mas mais ainda quando vejo o pessoal tranquilamente sentado na grama ao longo da pista, como se carro só andasse no asfalto. Segurança também é importante, óbvio. Impossível não lembrar do carro do alemão Wolfgang von Trips voando diretamente sobre o público — fato que matou 14 pessoas além do próprio piloto no autódromo de Monza em 1961. Embora nesse caso tenha havido um forte componente de fatalidade, mas, em todo caso, o pessoal entrar na pista junto com o diretor de prova quando ainda tem carro para receber bandeirada me parece um pouco suicida, assim como é perigoso o que essas mesmas pessoas fazem, que atiram objetos na direção dos carros — camisetas, provavelmente. O mesmo acontece nos boxes, com carros entrando e saindo e um monte de curioso passeando por aí. Não me refiro a mecânico treinado, que sabe como se comportar nesses lugares, falo de público xereta, mesmo.
E, claro, foi muito lindo ouvir o “Tema da Vitória” no final da corrida do Brasil de 1983, tocado naquele dia pela primeira vez. Ainda me emociono toda vez que o ouço.
Eu já havia assistido outros capítulos e curti muito o do primeiro título do hoje tetracampeão,o alemão Sebastian Vettel, na corrida de Abu Dhabi de 2010. Confesso que me diverti vendo o espanhol Fernando Alonso sofrer e não conseguir ultrapassar o Vitaly Petrov, mas, novamente, acho que o russo não teve nenhuma culpa. Em nenhum momento o espanhol conseguiu chegar realmente para passar e, além disso, era disputa de posição. Por que deveriam lhe dar passagem? Nada a ver. Mimimi, como sempre…
Mudando de assunto
Recebi de um querido colega de colégio. Talvez não devesse, mas ri bastante:
Aula de Direito dos Fuzileiros Navais no Complexo do Alemão
Um advogado dirigia distraído próximo ao complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, quando, num sinal de PARE, passa sem parar, em frente a uma viatura blindada dos Fuzileiros Navais, que patrulhavam a favela após a invasão.
Fuzileiro: — Boa tarde. Documento do carro e habilitação.
Advogado: — Mas, por quê, Fuzileiro?
Fuzileiro: — Não parou no sinal de PARE, ali atrás.
Advogado: — Eu diminui, e como não vinha ninguém…
Fuzileiro:— Exato… Documento do carro e habilitação.
Advogado: — Você sabe qual é a diferença jurídica entre diminuir e parar?
Fuzileiro: — A diferença é que a lei diz que num sinal de PARE, deve-se parar completamente. Documento e habilitação.
Advogado: — Eu sou advogado e sei de suas limitações na interpretação de texto de lei. Proponho-lhe o seguinte: se você conseguir me explicar a diferença legal entre diminuir e parar, eu lhe dou os documentos e você pode agir de acordo com a lei. Senão, vou embora sem multa, sem nada.
Fuzileiro: – Positivo, aceito. Pode fazer o favor de sair do veículo, Sr. Advogado?
O advogado desce e então os integrantes dos Fuzileiros baixam a porrada, soco pra tudo quanto é lado, tapa, botinada, pontapé, cascudo, banda, gravata, chave de braço, pisão…
O advogado grita por socorro e implora para pararem.
Fuzileiro: — Quer que a gente PARE ou DIMINUA?
Advogado: — PARE!….PARE!…PARE!…
Fuzileiro: — Positivo, agora entendeu a diferença entre o PARE e o DIMINUIR!!! Documento e habilitação, por favor!!!
NG
Foto de abertura: boletimdopaddock.com.br