Caro leitor ou leitora,
Como você já pôde notar, o AK anda meio sumido do AE. De fato, informo que depois de 10 anos o Arnaldo lamentavelmente decidiu nos deixar. Não tenho muito o que dizer ou explicar.
Foram tantas matérias e vídeos, tantos casos, tantas conversas, tantos textos que só ele sabe escrever, que vamos sentir muita saudade. Desejamos que ele seja feliz e logo esteja por aí, com textos e vídeos, seja lá onde forem publicados, para que possamos continuar a desfrutar das suas qualidades.
Eu estava pensando em escrever um texto de despedida, relembrar os melhores momentos, ou coisa parecida. Mas o Márcio Salvo me lembrou de um pequeno texto que fiz em 2010 num blog pessoal que tive por um tempo para falar do primo. Naquela época eu e ele trabalhávamos juntos para a Car and Driver brasileira, ele testando clássicos e eu fazendo as fotos. Como ele sempre se orgulhou em dizer, foi ele que me descobriu como fotógrafo. Então achei que não precisaria escrever nada novo e reproduzo mais abaixo essa matéria de 2010.
Arnaldão, que você continue a nos encantar com seu jeito único de falar de carros, motos e autoentusiasmo.
Grande abraço
Paulo Keller
Editor-geral
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Arnaldo Keller, encantador de carros
(Escrito e publicado no então blog do Paulo Keller em 2010)
O meu primo Arnaldo é realmente um cara bacana e tem uma desenvoltura invejável para fazer amizades e dirigir qualquer carro que apareça. Nesses últimos dois anos temos passado muito mais tempo juntos. Com isso eu também pude andar e fotografar muitos carros interessantes.
O cara é ponta firme e muito generoso. Gosta de ensinar tudo o que sabe. É uma pessoa culta, entende de literatura e arte. Tem um senso estético muito apurado e às vezes vê cenas que eu não vejo, e assim me ajuda muito a compor algumas fotos.
Fotógrafo é o cara que enche o saco de quem está testando os carros pedindo para ficar manobrando pra lá e pra cá e ajeitando o carro para a foto. Eu não gosto de ficar pedindo ajuda para isso, mas a paciência e a generosidade do Arnaldo é interminável.
Também aprendo como guiar esses carros antigos com ele. Ele tem uma habilidade muito apurada para dirigir esses carros. É como se conversasse com as máquinas. Ele lida com os carros do mesmo jeito que lida com os cavalos de sua fazenda. Como ele tem um quê de artista, outro dia concluí que ele seria algo entre o Robert Redford (no filme “O encantador de cavalos”) e o Steve McQueen (no filme “Le Mans”).
Falando com os amigos
Um “artista”
Já andamos de Ford modelo T 1926, que não me atrevi a tentar dirigir, e Fiat 509A 1927, os mais antigos que me lembro. E também de Kougar, Jaguar C-Type, Willys Interlagos, Porsche 911 S, Dodge Challenger, vários Corvettes, Motiva Raptor (do Polati), GT40 Americar, Audi R8 e muitos outros. Com certeza eu não conheceria metade desses carros se não fosse ele.
Os textos dele também são sempre surpreendentes. Sua capacidade de narrar uma cena ou situação com riqueza nos coloca lá dentro da cena. Vejam esse trecho abaixo sobre o XK120:
“Em poucos segundos a máquina lhes passa rente aos pés… sschhwuuuff!…; alguns chapéus voam, abas de casacos se espadanam com o vento, e os cronômetros são cravados marcando 132 milhas por hora (212,4 km/h) – 12 a mais que as 120 milhas/h que a Jaguar garantira. Expressões de espanto e vivas de alegria; o XK 120 era o mais veloz carro produzido em série. ”
Aí ele consegue como ninguém juntar a história dos carros com suas impressões e avaliações.
“Os outros carros são meras presas em debandada”
Goethe disse certa vez: “diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és. Saiba eu com que te ocupas e saberei também no que te poderás tornar”.
Por isso ando com o Arnaldo…
PK