Neste que é o 23º Teste de 30 Dias do AE, apertamos a mesma tecla: assim que devolvemos o Citroën C4 Catus retiramos este Renault Captur, continuando no mundo suve e no mundo das marcas francesas instaladas no Brasil.
O Captur que será nosso durante as próximas quatros semanas é a versão Intense 1.6 CVT X-Tronic, a mais elaborada (e de maior preço) com a motorização 1,6-l e câmbio automático CVT. Custa a partir de R$ 93.390 e chega aos R$ 98.090 para ficar igualzinha à nossa por ter cor opcional — Marfim com teto preto Nacré (R$ 3.000) — e bancos revestidos parcialmente com couro (R$ 1.700).
Cactus e Captur são carros que frequentam um mesmo segmento de mercado, mas pelo pouco que já percebi do Captur, desconfio que não é o mesmo tipo de cliente, e não apenas por conta dos dez mil reais que separam o mais caro Citroën do menos caro Renault: ambos frequentam praias diferentes, um bem mais família por conta do maior espaço interno e porta-malas (Captur) e outro mais moderninho/esportivo, por causa do design mais assanhadinho, tamanho menor e, no caso do Cactus que avaliamos, muito por causa do apimentado motor turbo THP, também de 1,6 litro, que oferece características marcadamente esportivas à novidade da Citroën.
O AE não realiza testes comparativos, uma “política da casa”. Todavia, a proximidade destas avaliações com veículos de um mesmo segmento e faixa de preço semelhante me faria um hipócrita se não fizesse ao menos a menção acima que, uma vez feita, abre o espaço parar tratar exclusivamente do Renault.
Lançado no Brasil há exatos dois anos, o Captur, 27º automóvel mais vendido do Brasil em 2018 e 7º entre os suves de acordo com a ranking dos emplacamentos da Fenabrave, atrás do Ford EcoSport e à frente do Chevrolet Tracker, não é um fracasso mas tampouco um grande sucesso. Diferente do homônimo europeu (que é menor) nosso Captur herdou a estrutura do Duster que segundo a Renault é mais adequada às características de rodagem brasileiras e, no caso desta versão de teste, leva o conjunto motor e câmbio usados no Nissan Kicks, rival “da casa” — e “em casa” por força da aliança Renault-Nissan — que, por enquanto, tem aceitação bem maior.
É moderno o Captur? Podemos dizer que sim por conta do conjunto motor (o SCe 1,6-litro, todo de alumínio) e câmbio (CVT X-Tronic). É também imponente, razoavelmente bem acabado e bem equipado. Desde o primeiro instante a bordo a sensação principal é de certo requinte e amplitude apesar do estofamento preto. É o típico carro de família, espaçoso, luminoso, no qual um teto solar cairia como uma luva, mas tal opcional não existe para ele.
Com pouco mais de 2 mil quilômetros no hodômetro, a unidade entregue tinha todos os tiques de carro novinho: os bons — cheirinho de zero-km no interior, muitos estalos metálicos assim que é desligado na garagem — e os menos bons — um consumo bastante elevado que faço votos se reduza no decorrer do teste. Como com o Cactus, pude rodar pouco nesta primeira semana de avaliação com o Captur, e sempre nas mais malvadas condições paulistanas onde congestionamentos, ladeirões nepaleses e trajetos curtinhos espaçados por paradas demoradas executam a malvadeza de jamais deixar o motor atingir sua temperatura de exercício ideal, o que em parte explica a média de 5,2 km/l conseguidos com o álcool do tanque quando da retirada. O consumo oficial Inmetro na cidade, com álcool, é 7,3 km/l.
Rodei pouco, é certo, mas reparei bastante no Captur. Tenho elogios para a qualidade da pintura e regularidade das frestas entre os componentes de carroceria, o que denota construção caprichada. Gostei também do acabamento interno, que não é luxuoso mas é bem arrumado, sem pecados. Não gostei da ausência da regulagem de distância do volante assim como da mistura entre couro natural e couro ecológico (qual a diferença do courvin do passado?) nos bancos, que apesar disso têm boa aparência.
Gostei da central multimídia, fácil de usar, e também da ergonomia de um modo geral. Não gostei de ter que me enfiar debaixo do carro na região porta-malas para passar uma corrente no estepe, que é externo, mas este é um problema que não é do carro, mas do país em que vivemos.
Na pavimentação padrão 3º mundo de São Paulo o Captur faz ver que a opção por pneus de perfil relativamente alto (Continental ContoCross Contact LX2 medida 215/60R17), e um ajuste de suspensões que tende ao macio, faz par perfeito com a generosa distância livre em relação ao solo de 212 mm. Valetas, lombadas, entradas de garagem desniveladas, nada afetou, por enquanto, as partes baixas deste Renault.
E quanto ao desempenho proporcionado pelo motor e câmbio? Bem, a prudência manda aguardar algum tempo a mais para comentar sobre como os 120 cv de potência máxima (álcool; gasolina 2 cv menos) com 16,2 m·kgf de torque (álcool ou gasolina) empurram a massa de quase 1,3 tonelada. Além de ter menos de 150 km rodados em ritmo de procissão (média de 16 km/h!!!) ainda estou sob efeito dos 173 cv (com álcool) do Citroën Cactus, que ainda por cima pesava 72 kg a menos.
Para a semana que vem o plano óbvio é o de sempre: lotar cabine e porta-malas e sentir suas qualidades rodoviárias na clássica viagem ao litoral norte paulista.
RA
Fotos: autor
Renault Captur Intense 1,6 CVT X-Tronic
Dias: 7
Quilometragem total: 161 km
Distância na cidade: 161 km (100%)
Distância na estrada: 0 km (0%)
Consumo médio: 5,2 km/l (álcool)
Velocidade média: 16 km/h
Tempo ao volante: 11h20min
FICHA TÉCNICA RENAULT CAPTUR INTENSE 1,6 SCe CVT X-TRONIC | |
MOTOR | |
Denominação | 1.6 SCe |
Descrição | 4 cil. em linha, dianteiro, transversal, bloco e cabeçote de alumínio, duplo comando de válvulas, corrente, variador de fase na admissão, 4 válvulas por cilindro, injeção no duto, aspiração atmosférica, flex |
Diâmetro x curso (mm) | 78 x 83,6 |
Cilindrada (cm³) | 1.597 |
Aspiração | Atmosférica |
Taxa de compressão (:1) | 10,7 |
Potência máxima (cv/rpm) (G/A) | 118/120/5.500 |
Torque máximo (m·kgf/rpm) (G/A) | 16,2/16,2/4.000 |
TRANSMISSÃO | |
Câmbio | Transeixo dianteiro automático CVT X-Tronic com conversor de torque, tração dianteira |
N° de marchas simuladas | 6 à frente e 1 à ré |
Relações simuladas (:1) | 3,874 a 0,532 |
Espectro (:1) | 7,281 |
Relação do diferencial (:1) | 4,88 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular, mola helicoidal. amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência eletro-hidráulica indexada à velocidade |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 10,7 |
FREIOS | |
De serviço | Hidráulico, duplo-circuito em diagonal, servoassistido, ABS (obrigatório), distribuição eletrônica das forças da frenagem e auxílio nas frenagens de emergência |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado, 269 |
Traseiros (Ø mm) | Tambor, 229 |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Liga de alumínio, 6,5J x 17 |
Pneus | 215/60R17V |
PESOS (kg) | |
Em ordem de marcha | 1.286 |
Carga útil | 449 |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Monobloco em aço, 4-portas, 5 lugares |
DIMENSÕES EXTERNAS (mm) | |
Comprimento | 4.329 |
Largura (sem espelhos) | 1.813 |
Altura | 1.619 |
Distância entre eixos | 2.673 |
Distância mínima do solo (vazio) | 212 |
CAPACIDADES | |
Porta-malas (L) | 437 |
Tanque de combustível (L) | 50 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s) (G/A) | 14,5/13,1 |
Velocidade máxima (km/h) (G/A) | 168/169 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL (INMETRO/PBEV) | |
Cidade (km/l) (G/A) | 10,5/7,3 |
Estrada (km/l) (G/A) | 11,7/8,1 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 6ª simulada (km/h) | 48,6 |
Rotação a 120 km/h em 6ª simulada (rpm) | 2.470 |
GARANTIA E MANUTENÇÃO | |
Duração da garantia | 3 anos ou 100.000 km |
Revisões, intervalo (km) | 10.000 |
Troca de óleo do motor (km/tempo) | 10.000 / 1 ano |