É fato consumado que apenas após as três primeiras etapas de uma temporada de F-1 pode-se ter uma ideia clara sobre as possibilidades de cada equipe no ano. Em 2019 serão os traçados de Melbourne (Austrália), Sakhir (Bahrein) e Xangai (China) que ajudarão a esclarecer tal cenário, mas as duas sessões de testes recém-completados há poucos dias em Barcelona (Espanha), já permite enxergar formas dessa imagem que pouco a pouco serão cristalizadas. Analisar o resultado por equipes, quilometragem percorrida e a consistência de pilotos e equipes são indicativos que ajudam a acertar o foco de tal cenário.
O trabalho desenvolvido durante as últimas duas semanas levou em conta itens como resistência e confiabilidade dos carros, a reação destes a alterações de acerto de suspensão, aerodinâmica e regulagem dos motores, adaptação do carro à degradação dos pneus e, não menos importante, o entrosamento de novos pilotos, mecânicos, engenheiros e contratados recém-chegados. Obviamente, que o eixo de tudo isso são as novas soluções técnicas que compõem o projeto para a temporada deste ano: se a proposta dá certo, eventuais falhas de um novo integrante ou fornecedor são relativizadas e melhor digeridas. Se isso não acontece, o clima de discórdia começa a aflorar já no longo voo para a Austrália.
Dentro desse universo de parâmetros, o resultado final dos tempos de Barcelona mostra que Ferrari e Mercedes continuam sendo as forças mais destacadas entre as 10 equipes que disputam a categoria: seus quatro pilotos foram os mais velozes (Sebastian Vettel, Lewis Hamilton, Charles Leclerc e Valtteri Bottas nessa ordem), foram as que mais treinaram (Mercedes completou 1.189 voltas e a Ferrari, 997). Vettel foi o que teve o melhor aproveitamento entre os 21 pilotos que participaram dos testes: para um aproveitamento ideal de 1,0 (que significa ter sido o mais veloz na relação posição do dia/dias treinados), o alemão chegou a 2,6. Em outras palavras, independente do programa e composto de pneu usado, ele sempre esteve entre os mais rápidos.
Para comparação Charles Leclerc obteve 5,60, Valtteri Bottas 8,00 e Lewis Hamilton 8,63. Vettel foi o mais rápido na classificação final (1’16”221) e Leclerc o terceiro (1’16”231). Em termos de equipamento a Ferrari mostrou velocidade, mas a resistência dos seus carros indicou falhas como a saída de pista de Sebastian Vettel motivada por uma roda quebrada e o fato de Leclerc ter parado na pista com o escapamento quebrado depois de ter completado uma simulação de corrida.
A Mercedes mostrou seu poderio ao conseguir a maior quilometragem das duas semanas de teste (1.189 km), dedicar grande quantidade de horas para validar resultados indicados em simulações realizadas por computador e, segundo muitos, a utilizar duas propostas diferentes de chassi. Tanto Lewis Hamilton (2º, 1’16”224), quanto Valtteri Bottas (4o, 1’16”561) mostraram-se focados em trabalhar sem interesse direto em tempos absolutos, deixando esse objetivo apenas para o último dia de trabalho em cada semana. Prova disso disso é que o aproveitamento mediano de ambos ficou aquém de muitos rivais menos competitivos, respectivamente 8,63 e 8,25.
No resultado geral mais uma vez ficou patente que o inglês continua alguns décimos mais rápido que seu companheiro de equipe e tão rápido quanto o eterno rival Sebastian Vettel. De acordo com James Allison, diretor esportivo do time, na sexta-feira passada Hamilton e Bottas andaram com o carro na especificação mais próxima do que será usado em Melbourne, condição que consolida mais uma temporada de luta ferrenha com a Ferrari.
Nessa classificação por consistência a surpresa foi o desempenho de Lando Norris (3,25) e Carlos Sainz Jr (4,50). Mais do que qualquer outra coisa, tais índices indicam que a McLaren fez um carro rápido e, tão importante quanto, finalmente conseguiu treinar bastante, ao contrário do que aconteceu no ano passado: o time de Woking foi o sexto no quesito quilometragem (873 voltas) e seus dois pilotos ficaram entre os 10 mais rápidos. Em outras palavras, deverão lutar para largar na primeira metade do grid, junto com a Renault, Toro Rosso e as já citadas Ferrari e Mercedes. Na quarta-feira da semana passada Sainz Jr foi o piloto mais rápido (1’17”144, o melhor tempo absoluto com pneus de composto C4); nesse dia ele e Robert Kubica (Williams) foram os únicos a chegar à marca de 130 voltas percorridas. Na quinta-feira Norris repetiu o desempenho de Sainz Jr e foi o mais rápido do dia (1’17”144), igualmente com o composto C4, o que corrobora o progresso da equipe. No cômputo geral o espanhol (1’16”913) foi mais rápido que o inglês (1’17”084)
A Renault igualmente progrediu tanto em quilometragem percorridas (961 voltas, terceiro melhor índice), e possibilitou a seus pilotos treinarem todos os dias, primazia só igualada pela Mercedes. Nico Hulkenberg (5o, 1’16”843) mostrou-se sistematicamente mais rápido que Daniel Ricciardo (12o, 1’17”114). No quesito consistência de resultados, o alemão obteve 7,25 e o australiano 7,63.
De acordo com o chefe de equipe Cyril Abiteboul, o time francês completou a agenda de trabalho prevista para Barcelona: “O principal objetivo desse teste era avaliar a fundo algumas peças; algumas saíram melhores que outras. Nico e Daniel repartiram essa carga de trabalho e o entrosamento fábrica-circuito foi produtivo. O desempenho do nosso motor correspondeu à nossa expectativa e o conceito do nosso carro mostrou-se bom. Temos uma boa base e estamos otimistas para manter esse ritmo de melhora.”
Grande surpresa dessas duas semanas foi o desempenho da Toro Rosso, mais consistente que o de sua irmã maior e mais poderosa, a Red Bull. A consistência de Alexander Albon (6o, 1’16”882) e de Daniil Kvyat (7o, 1’16”898) permitiu que a equipe de Faenza registrasse a quarta maior quilometragem e bons tempos com um piloto que retorna à categoria após um ano sem competir e outro que estreia na categoria. Filho de pai inglês e mãe tailandesa, Albon surpreendeu pelo ritmo constante e levou a melhor na comparação direta com Daniil Kvyat, piloto reconhecidamente rápido mas ainda marcado pela inconstância.
Como a Toro Rosso tem um bom histórico para desenvolver novos talentos, Alexander poderá ser a melhor novidade de 2019. Quanto ao casamento do chassi STR 14 com o motor Honda RA619H, tudo indica tratar-se de um conjunto equilibrado, resultado do uso de boa quantidade de soluções do chassi RB15 e do progresso obtido pelos japoneses.
Resultados de Barcelona
Posição/Número/Piloto/Equipe/Tempo/total de voltas/Pneu/Dia mais rápido
1) 5/ Sebastian Vettel / Ferrari / 1’16″221 / 534 / C5 /8
2) 44 / Lewis Hamilton / Mercedes / 1’16″224 /638 / C5 / 8
3) 16 / Charles Leclerc / Ferrari / 1’16″231 / 463 / C5 / 7
4) 77 / Valtteri Bottas/ Mercedes / 1’16″561/ 551 / C5 / 8
5) 27 / Nico Hülkenberg / Renault / 1’16″843 / 509 / C5 / 8
6) 23 / Alexander Albon / Toro Rosso / 1’16″882 / 489 / C5 / 7
7) 26/ Daniil Kvyat / Toro Rosso / 1’16″898 / 446 / C5 / 8
8) 55/ Carlos Sainz Jr. / McLaren / 1’16″913 / 473 / C5 / 8
9) 8 / Romain Grosjean / Haas / 1’17″076 / 407 / C5 / 8
10) 4 / Lando Norris / McLaren / 1’17″084 / 400 / C5 / 7
11) 10/ Pierre Gasly/ Red Bull / 1’17″091 / 439 / C5 / 7
12) 3/ Daniel Ricciardo / Renault / 1’17″114/ 452 / C5 / 8
13) 7 /Kimi Räikkönen / Alfa Romeo / 1’17″239 / 497 / C5 / 8
14) 18/ Lance Stroll / Racing Point1’17″556 / 336/ C5 / 7
15) 20/ Kevin Magnussen / Haas / 1’17″565 / 403 / C5 / 8
16) 99/ Antonio Giovinazzi / Alfa Romeo / 1’17″639 / 425 / C5 / 7
17) 33/ Max Verstappen / Red Bull / 1’17″709 / 394 / C3 / 8
18) 11/ Sergio Pérez / Racing Point/ 1’17″791 / 289 / C5 / 8
19) 63 / George Russell / Williams / 1’18″130 / 299/ C5 /7
20) 88/ Robert Kubica / Williams / 1’18″993 / 268 / C5 / 8
21) 51/ Pietro Fittipaldi / Haas / 1’19″249 / 61 / C4 / 3
Dias de treino:
1º – 19/2; 2º – 20/2; 3 – 21/2; 3º – 22/2 4º – 26/2; 5º – 26/2; 6º – 27/2; 7º – 29/2; 8 – 1/3
WG
Nota: Esta coluna foi publicada hoje excepcionalmente. Seu dia normal é terça-feira.