O mundo da Fórmula 1 não é famoso pela quantidade de pessoas sensatas e capazes de manter a sobriedade 24 horas por dia, sete dias por semana, independente do local onde o circo se apresente. Charlie Whitting (foto de abertura) faleceu ontem, na Austrália, e fazia parte desse nicho de exceções. Mecânico e apaixonado por corridas, ele iniciou sua carreira na categoria trabalhando na equipe Hesketh e, ao lado de Bernie Ecclestone ganhou status, posições e, principalmente, respeito e admiração de quem teve a oportunidade de conhecê-lo e dos felizardos que compartiram com ele os paddocks da F-1.
Minha recordação de Whiting é a de um incansável defensor do esporte e dos poucos capazes de conciliar todos os interesses que envolvem pilotos, equipes, organizadores, autódromos e por aí afora. Meu último encontro com ele foi há alguns anos, em Interlagos, quando ele veio conhecer as propostas para uma nova entrada dos boxes. Chegou de Londres de manhãzinha, passou no hotel para um breve descanso, seguiu para o autódromo, analisou compenetrado o que lhe foi apresentado e só quando seu trabalho estava terminado, comentou comigo:
“Faz tempo que não te vejo, por onde você anda?”
Ao comentar que ele estava bem mais magro e jovial do que da última vez que nos encontramos, ele foi ainda mais cordial e franco:
“Esposa nova…”
Terminada a missão em Interlagos, seguiu para almoçar com um amigo e depois rumou para Guarulhos, onde embarcou num voo de volta a Londres com familiaridade de fazer inveja a qualquer comandante ou comissário de bordo. Nos boxes do mundo ele podia entrar em qualquer um deles e mexer em qualquer carro sem provocar nenhum olho torto: todos conheciam e respeitavam sua integridade, e quando alguém o provocava perguntando um segredo deste ou daquele carro, ele respondia sem perder a postura:
“Pergunte ao chefe da equipe. Ele vai te responder…”
O que ninguém vai responder é como preencher o vazio que ele deixa entre profissionais, amigos e admiradores que conquistou nas pistas do mundo.
WG