O término da avaliação de 30 dias como o Renault Captur cumpriu, como sempre, o padrão estabelecido há tempos, ou seja, a análise técnica realizada pelo parceiro Alberto Trivellato, da oficina paulistana Suspentécnica. Porém, antes de entrar no assunto de oficina é preciso relatar como foi a prometida contraprova do consumo com álcool, que logo nas primeiras semanas do teste assustou com a malvada marca de 5,2 km/l.
Totalmente realizados em percurso urbano, com média horária semelhante — por volta dos 15 km/h — nos quase 240 km rodados nesta semana de encerramento da avaliação a marca obtida melhorou pouco, quase nada, 5,3 km/l, praticamente repetindo os 5,2 km/l.
Premissa: consumo é apenas um dos itens entre os muitos observados nas avaliações. É um aspecto que diz muito sobre cada carro avaliado, mas não tudo. Evidentemente, um carro com eficiência energética alta, capaz de rodar muito gastando pouco, é o que todos queremos. Queremos também o máximo de desempenho, conforto supremo, segurança à prova de bomba mas… não se pode ter tudo e assim a alternativa é buscar o melhor compromisso, o equilíbrio entre os dotes.
O Renault Captur é um utilitário de lazer que agrada aos olhos por suas formas harmoniosas, agrada também pelo espaço interno e conforto da cabine, pela capacidade de seu porta-malas e por itens de praticidade. Dirigi-lo nestas quatro semanas não representou nenhum sacrifício, pelo contrário, e certamente trata-se de um automóvel muito bem projetado e construído, válida opção dentro de seu segmento. Porém, não é um campeão em termos de consumo, especialmente com álcool, visto que com a gasolina alcançou bem mais decentes 6,1 km/l em uso urbano.
Área frontal relevante, pneus grandes e largos e peso declarado em ordem de marcha de quase 1,3 tonelada… tudo isso e mais um pouco exige que o motor 1,6-litro de 120 cv declarados quando abastecido com o combustível vegetal “sue” para tirar o Captur da inércia. Associado a uma caixa automática tipo CVT, o motor “justo” exige que o pedal do acelerador seja usado sem parcimônia para vencer as pirambeiras nas quais a maior parte de nosso teste se desenrola, daí a marca que considerei assustadora, que o afastará de alguns clientes, enquanto outros podem relevar tal ineficiência energética por valorizar as inegáveis qualidades em outros itens.
A chegada à Suspentécnica para a costumeira análise de Alberto Trivellato foi precedida por seu tradicional circuito, nas conhecidas ruinhas do entorno do metamorfoseado bairro da Vila Olímpia, no passado pleno de pequenas casas, hoje coalhado de arranha-céus. Como em toda São Paulo, a pavimentação não combina nada com o alto valor do metro quadrado dos imóveis ali, nem com o salgado imposto predial cobrado de seus proprietários.
De imediato nosso colaborador aponta uma incongruência no Captur: a suspensão dianteira, segundo ele, não “conversa” com a traseira, pois enquanto uma – a da frente – oferece um bom padrão de absorção de irregularidades, a de trás tem outro. O resumo é que o sistema denuncia aos ocupantes as irregularidades do piso de modo patente. A traseira parece ter um acerto de picape, pensada para levar carga, quando o carro está vazio, pula demasiadamente.
Nas esquinas encaradas com displicência, Alberto nota a característica da direção, que joga para o volante o efeito de valetas e buracos, detalhe esse que certamente não o agrada mas que, como ele mesmo comentou, é uma característica deste sistema, pois já o havia verificado num parente próximo do Captur, o Renault Duster, com o qual há grande compartilhamento de componentes.
Erguido no elevador da oficina, este compartilhamento salta à vista através de vários itens, uma espécie de “déjà vu” automobilístico mas que não depõe em nada contra a Renault, mas apenas faz ver quer sua engenharia é hábil no aproveitar soluções aprovadas sem querer “reinventar a roda” a cada novo modelo.
Destaque é o encapsulamento do conjunto motor+câmbio, protegido por uma ampla e sólida cobertura inferior de aço. O espaço do assoalho inferior entre os eixos não tem, como seria adequado, nenhum painel que torne uniforme a superfície, cuidado aerodinâmico cada vez mais presente nos carros de projeto mais recente, mas que o Captur não recebeu. Todavia, uma ampla capa plástica reveste o eixo traseiro de torção, elemento cuja explicação pode ser tanto a busca de menor arrasto quanto conter ruídos, ou ambos. Tal capricho não é, infelizmente, dedicado ao para-choque traseiro, cuja face interna não mostra nenhuma preocupação para evitar o “efeito paraquedas”.
Em síntese, a observação das entranhas do Captur revelou simplicidade construtiva associada a robustez, o que certamente dá ao modelo capacidade de encarar as vias com pavimentação de má qualidade sem que isso traga problemas de ordem técnica. Na verdade, a parte inferior deste Renault é quase um contraponto ao design exterior: de um lado, elegância, sofisticação, formas harmoniosas. Embaixo, rusticidade descomplicada.
Ao cabo de mais este Teste de 30 Dias a sensação é de que o Renault Captur deve ser objeto de pequenos ajustes para se tornar uma grande opção em seu segmento. Ponto nº 1, o conjunto motor-caixa de câmbio, cuja resposta ao pedal do acelerador é exageradamente morna, principalmente nas saídas desde a imobilidade. Outro aspecto merecedor de atenção é o acerto de suspensões e caixa de direção, que se reajustadas podem fazer o conforto de marcha e prazer de conduzir ganhar os pontinhos que lhe faltam para atingir a excelência.
Assista ao vídeo da ida à Suspentécnica:
RA
Leia os relatórios anteriores: 1ª semana 2 semana 3ª semana
Renault Captur Intense 1,6 CVT X-Tronic
Dias: 30
Quilometragem total: 1.238 km
Distância na cidade: 718 km (58%)
Distância na estrada: 520 km (42%)
Consumo médio: 5,8 km/l (76% álcool/24% gasolina)
Melhor média (álcool): 11,3 km/l (rodovia)/5,6 km/l (cidade)
Pior média (álcool): 9,4 km/l (rodovia)/5,2 km/l (cidade)
Melhor média (gasolina): 11,1 km/l (rodovia)/7,4 km/l (cidade)
Pior média (gasolina): 10,5 km/l (rodovia)/6,1 km/l (cidade)
Velocidade média: 16 km/h
Tempo ao volante: 78h27min
Litros consumidos: 212,2 (44,2 gasolina/168,0 álcool)
Preço médio litro: R$ 2,92
Custo: R$ 621,57
Custo do quilômetro rodado: R$ 0,50
FICHA TÉCNICA RENAULT CAPTUR INTENSE 1,6 SCe CVT X-TRONIC | |
MOTOR | |
Denominação | 1.6 SCe |
Descrição | 4 cil. em linha, dianteiro, transversal, bloco e cabeçote de alumínio, duplo comando de válvulas, corrente, variador de fase na admissão, 4 válvulas por cilindro, injeção no duto, aspiração atmosférica, flex |
Diâmetro x curso (mm) | 78 x 83,6 |
Cilindrada (cm³) | 1.597 |
Aspiração | Atmosférica |
Taxa de compressão (:1) | 10,7 |
Potência máxima (cv/rpm) (G/A) | 118/120/5.500 |
Torque máximo (m·kgf/rpm) (G/A) | 16,2/16,2/4.000 |
TRANSMISSÃO | |
Câmbio | Transeixo dianteiro automático CVT X-Tronic com conversor de torque, tração dianteira |
N° de marchas simuladas | 6 à frente e 1 à ré |
Relações simuladas (:1) | 3,874 a 0,532 |
Espectro (:1) | 7,281 |
Relação do diferencial (:1) | 4,88 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular, mola helicoidal. amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência eletro-hidráulica indexada à velocidade |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 10,7 |
FREIOS | |
De serviço | Hidráulico, duplo-circuito em diagonal, servoassistido, ABS (obrigatório), distribuição eletrônica das forças da frenagem e auxílio às frenagens de emergência |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado, 269 |
Traseiros (Ø mm) | Tambor, 229 |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Liga de alumínio, 6,5J x 17 |
Pneus | 215/60R17V |
PESOS (kg) | |
Em ordem de marcha | 1.286 |
Carga útil | 449 |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Monobloco em aço, 4-portas, 5 lugares |
DIMENSÕES EXTERNAS (mm) | |
Comprimento | 4.329 |
Largura (sem espelhos) | 1.813 |
Altura | 1.619 |
Distância entre eixos | 2.673 |
Distância mínima do solo (vazio) | 212 |
CAPACIDADES | |
Porta-malas (L) | 437 |
Tanque de combustível (L) | 50 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s) (G/A) | 14,5/13,1 |
Velocidade máxima (km/h) (G/A) | 168/169 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL (INMETRO/PBEV) | |
Cidade (km/l) (G/A) | 10,5/7,3 |
Estrada (km/l) (G/A) | 11,7/8,1 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 6ª simulD (km/h) | 48,6 |
Rotação a 120 km/h em 6ª simulada (rpm) | 2.470 |
GARANTIA E MANUTENÇÃO | |
Duração da garantia | 3 anos ou 100.000 km |
Revisões, intervalo (km) | 10.000 |
Troca de óleo do motor (km/tempo) | 10.000 / 1 ano |