Adoro viajar e adoro dirigir — logo, se posso fazer as duas coisas minhas férias ficam muito mais perto da perfeição. Talvez uma das primeiras e mais longas experiências atrás do volante alhures tenha sido nos Estados Unidos. Um mês inteiro com um Audi quattro, marido, mãe e sogra. Basicamente, boa parte da Florida os quatro juntos — exceto um final de semana a dois. Deixamos as mães em Miami e rumamos sozinhos até Key West para curtir um lindo pôr-do-sol, uma estrada maravilhosa e dois dias sozinhos. Depois da quarta semana, as mães voltaram para o Brasil e nós fomos para a Costa Oeste a trabalho. Duro foi sair do quattro e ir direto para um Sentra para lá de simples… especialmente em Los Angeles, quando nos sentíamos postes sendo ultrapassados por Lamborghinis, Ferraris e outras marcas badaladas. Mas ainda teríamos que voltar para o Brasil em tempos de recente abertura das importações, quando ainda dirigíamos “carroças” na opinião do então presidente da República.
Acho que já mencionei isso aqui, mas no condomínio em que paramos perto de Orlando, tomei uma lição de normas de trânsito no Exterior que de certa forma me traumatizou. Depois disso, sempre olhei algumas peculiaridades do trânsito local antes de viajar. Claro que aprendi na marra e no esforço normais internacionais e sinalização com as quais nem estava familiarizada antes de tirar minha CNH ou antes de dirigir no Exterior. Mas sempre dou um Google e vejo algumas peculiaridades — às vezes, aquelas normas não escritas, como agradecer alguém que ficou atrás de nós apertando brevemente o pisca-alerta. E as uso sempre que possível.
Resumindo meu trauma: no condomínio em que estávamos havia muita gente que era moradora — aliás, a maioria. Aluguel de temporada como o nosso era uma parte ínfima do total de casas. Eis que um dia, voltando de um dos parques temáticos, ficamos logo atrás de um ônibus escolar que ia parando a cada quarteirão despejando crianças. Lá pelas tantas, cansado de ficar atrás e vendo uma chance de ultrapassar o ônibus amarelo quando ele estava parado junto ao meio-fio, minha cara-metade sinalizou e ultrapassou o ônibus. Antes não tivesse feito isso! Se havia antes juro que não vi, mas surgiu à nossa frente uma placa de ‘Pare’, vinda diretamente da lateral do ônibus. Bem na minha frente, que estava no banco do carona. Simultaneamente, a motorista do ônibus proferiu alguns impropérios em voz tão, mas tão alta, que meu ouvido ficou surdo por alguns instantes. Sem entender nada, chegamos à nossa casa e começamos a conjecturar. No dia seguinte, perguntamos a alguém em algum lugar o que tínhamos feito de errado para nunca mais repetir o erro, embora já imaginássemos que era a ultrapassagem. Explicações dadas, lição aprendida, nunca mais ultrapassamos ônibus escolar algum. Acho que nem que ele esteja com o pisca-alerta ligado e o triângulo montado alguns metros atrás. Sinceramente, o que mais me incomoda quando faço coisas desse tipo nem é levar uma multa — que pode, ou não, chegar. Mas fazer algo errado. Isso me deixa muito, muito brava — comigo mesma, é claro.
Depois disso, e com o advento da internet, ficou tudo mais fácil. E a Noratur cuida de tudo antes de viajar, incluindo algumas dicas sobre direção no lugar de destino. Fácil, não?
Bem, nem tanto. Há sinalização que para mim era de uma forma e descobri que só no Brasil é que é diferente. Ou, pelo menos, em poucos lugares. Como bem notou o leitor David Diniz (e apesar da demora, esta coluna é em atendimento a uma solicitação dele) na Europa e em todos os países que lembrei de pesquisar, a placa que indica contramão é de fundo vermelho com traço branco:
Já no Brasil, como quase tudo por aqui é diferente, a placa usa a seta para cima com fundo branco e um traço
Pessoalmente, acho confusa esta sinalização. Como disse o David Diniz, dá a impressão de que das duas uma: ou não pode olhar para cima ou ninguém (automóvel, pedestre, nada) pode seguir adiante. Descobri que na Irlanda também se usa esta placa, assim como em alguns lugares da Ásia. Mas em Cingapura usam a primeira, como na maioria dos países. Ou seja, parece algo aleatório onde se adota uma ou outra sinalização.
Na Espanha, usam o mesmo sinal, mas as vezes com o reforço das palavras:
Mas às vezes tem este:
O mesmo acontece com o sinal de “proibido estacionar”. Na maioria dos países é:
Com ou sem os dizeres. Mas também tem esta:
Pessoalmente, acho que deveria ser tudo padronizado. Afinal, não vejo por que não e se você não entende o idioma deveria poder entender a sinalização. Por sorte, e por cuidado, nunca tomei multa de trânsito no Exterior, mas já recebi uma advertência. Estávamos na Bélgica e paramos numa cidadezinha do interior num estacionamento público. Pagamos no totem e pegamos o tíquete. Só que todas as placas estavam em flamenco. Não conseguimos entender se era para deixar ou não, pois a diferença era sutil e eu não falo nada de flamenco — apenas deduzi, pois tem coisas de holandês que lembram um pouco alemão e muito de francês que, sim, domino bem. Ou seja, não terminei de entender o que deveria fazer com o raio do papel. Como não havia ninguém a quem perguntar, na dúvida, o deixamos para que as autoridades entendessem que havíamos pagado o estacionamento. Pois é, levamos advertência porque não era para deixar, mas não fomos multados justamente porque entenderam que o equívoco fora de boa fé e estava claro que havíamos pagado. Bom, pelo menos essa foi a explicação que a locadora me enviou quando mandou a advertência – sem nenhuma multa ou custo.
Também acho que dizeres no geral são desnecessários. Geralmente, o grafismo é autoexplicativo. O triângulo de ponta-cabeça é internacionalmente entendido como “dê passagem”. Mas graças à minha pesquisa para escrever esta coluna (obrigada, leitores, vocês sempre me afazem aumentar minha cultura) agora já sei como se escreve isso em gaélico. Pois é, já sei que na Irlanda é assim:
Mas, claro, não me peçam para pronunciar pois não faço a menor ideia de como seja.
Também encontrei alguns sinais que nunca havia visto. Não sei como interpretaria este:
À primeira vista, chutaria algo assim como “cuidado, motos atravessam a estrada sobre os carros de passeio” ou “cuidado, motos voadoras”, mas, é claro é pouco provável que seja isso. A placa em questão é usada no Reino Unido e significa que veículos motorizados não podem trafegar, apenas pedestres e bicicletas. Achei bem, bem confuso. Cavalos podem? Para isso, prefiro a sinalização argentina que significa o oposto: “proibido tração a sangue”. Ou seja, só podem transitar veículos a motor, qualquer um. E, por óbvio, estão proibidos cavalos, burros, bicicletas e qualquer coisa “impulsionada” a sangue – humano ou animal.
Na minha opinião, os britânicos levam o prêmio exotismo quando o quesito é sinalização de trânsito. Se não, vejam só, caros leitores. O que quer dizer isto?:
Nas minhas aulas de Matemática, em priscas eras, aprendi que dois negativos dá um positivo — por isso acho esta placa especialmente confusa: ela tem a proibição de estacionar no círculo cortado mas também outra no texto: proibido esperar em qualquer tempo. Para piorar, o fundo do círculo é azul, que geralmente indica permissão, em vez de vermelho, que significa quase sempre proibição. Acho que nos estudos de Semiótica há muito exagero, mas como nosso cérebro pode entender tantos sinais contraditórios? Trocando em miúdos, esta placa significa o velho e bom “proibido parar ou estacionar nem por um minutinho”. Juro que não sei por que não usam o convencional para isso…
Irmã gêmea da placa anterior, temos esta, ainda nos domínios da rainha:
Aqui também vejo excesso de informação e, novamente, confusão provocada pelo fundo azul que costuma significar permissão — exceto nestes casos estranhos no Reino Unido. Em resumo, esqueça tudo o que diz na placa e vá direto à última linha: não pare. Mas me parece uma complicação desnecessária.
Esta provavelmente tenha sido a mais divertida das placas exóticas que encontrei.
À primeira vista, pensei que se tratava do sutiã de um biquíni. Seria “praia adiante, reduza a velocidade”? Talvez pelo trânsito de banhistas carregando guarda-sóis… mas aí lembrei que é quase exclusiva do Reino Unido onde há pouco sol e menos ainda praias. Olhei então novamente e pensei no famoso café da manhã britânico. Seriam dois ovos pochês sobre duas torradas? Mas isto não é algo tão delicioso a ponto de fazer com que a visão de algo assim provoque congestionamentos, logo, por que reduzir a velocidade? … Nada disso. Os britânicos são bem criativos e eu certamente seria reprovada num teste de Rorschach, aquele em que nos mostram manchas e dizemos o que vemos. Significa “estrada irregular, diminua a velocidade”. Mas ainda acho minhas interpretações mais divertidas do que a realidade.
Mudando de assunto: a corrida de F-1 da Áustria já havia sido bem emocionante, mas como descrever a da Inglaterra do último domingo? Proibida para cardíacos, no mínimo. Linda prova, cheia de disputas, inclusive nas posições intermediárias. Cada vez gosto mais do Leclerc e de moleques como Norris e Gasly. O monegasco deu show, apesar de novamente a equipe ter usado uma estratégia equivocada. Há tempos que digo que ele deveria ignorar os planos da Ferrari que tem errado muito, e não apenas com ele, mas com o Vettel também. Aliás, falando em errar… faz tempo que o alemão conjuga esse verbo na primeira pessoa. Hamilton tem além do talento a sorte dos campeões e me desapontei com o Bottas, pois não poderia ter ficado parado com o recorde da pista quando ainda faltavam várias voltas para o fim da prova e estava de pneus novos e ideais para altas velocidades. Como meus leitores sabem, sempre tive uma queda por pilotos finlandeses na F-1 (bem, não só finlandeses…), mas acho que a ele falta a garra que desde Rosberg (OK, sueco, mas corria sob a bandeira finlandesa), passando por Häkkinen e meu “muso” Räikkönen tinham de sobra. Feliz mesmo fiquei com as manobras de ataque e defesa de Leclerc. Isso sem falar na hilária coletiva de imprensa antes da corrida, com o desbocado e impagável Ricciardo. Gosto de ver a F-1 assim, mais leve e divertida, embora continue extremamente competitiva e feroz nas pistas. Sinto muita falta dessas bobagens ditas entre os pilotos, como na época do Piquet. Bom que alguém tomou o lugar do brasileiro nesse caso.
NG
A coluna “Visão feminina” é de exclusiva responsabilidade de sua autora.