Sabe aquelas coisas que quando você vê por aí diz, poxa, que legal! Como ninguém fez isso antes? Ou então, mais realisticamente: que bom que fizeram isso! Pois é. Relutei um pouco quando surgiram as faixas de contenção para bicicletas e motos na cidade, logo antes da faixa de pedestres e à frente da faixa para reter os carros.
Inicialmente, fiquei um pouco desconfiada mas, convenhamos, isso é normal em mim. Não aceito nem rejeito nada logo de cara, por mais bobo que pareça. Gosto de apoiar ou criticar com base em dados e fatos concretos. Lembro da minha mãe quando eu era pequena e pedia, por exemplo, autorização para ir a uma festa. Raríssimas vezes ela disse “sim” de imediato, mas também não lembro de nenhum “não” automático. Qualquer resposta só era dada depois de saber onde seria a festa, quem iria, se ela iria me levar e/ou buscar ou se teria carona para ir e voltar (nesse caso, desdobramento da pergunta: quem seria o motorista?). Enfim, uma série de questões tinha de ser respondida antes de um sim ou um não. Muitas vezes, nem era na hora, mas no dia seguinte ou algumas horas depois. Acho que me acostumei com isso e não costumo decidir nada sem ter todos os dados para chegar a uma conclusão. Especialmente opinião de algo que domino parcialmente. Se sequer domino, muito menos — mais pesquisa e mais demora em responder. Já chega de opinião e palpiteiros nas redes (anti)sociais que têm resposta de bate-pronto para qualquer coisa. Saem os nomes dos convocados para a seleção brasileira? O sujeito tem opinião. Descobre-se um novo planeta? O sujeito tem opinião. Alguém é preso roubando algo num supermercado? O sujeito tem opinião. Nova lei sobre lavagem de dinheiro? O sujeito tem opinião. Cai a taxa Selic? O sujeito tem opinião. Incrível como tem gente que domina (modo irônico ativado) tantos assuntos, não?
Foi assim comigo com as tais faixas para veículos de duas rodas (foto de abertura). No começo achei que só atrapalhariam, mas não sabia exatamente por quê. Aí pesquisei e descobri que realmente ajudam na segurança dos motociclistas e ciclistas. Continuo não gostando quando eles passam muito rente ao meu carro (como sói acontecer) ou mesmo se espremendo no “corredor” ou, pior ainda, quando vem pela contramão apenas para chegar na tal faixa. Mas, se realmente melhora a segurança, meu incômodo é pequeno. No início da implantação, parecia legal. Hoje, parece-me mais uma boa ideia desperdiçada.
O que vejo na maioria das vezes é motociclista que se esgueira entre carros ou na pista contrária para chegar à frente e… passa toda a extensão do retângulo que seria para ele parar e só o faz sobre a faixa de pedestres! Socorro! Não raro nas avenidas com mais trânsito, pedestres ficam andando em ziguezague desviando das motos para conseguir atravessar a rua. Carros ficam parados estupidamente metros atrás da faixa de pedestres e o tal lugar para dar maior segurança aos condutores de veículos de duas rodas, total ou parcialmente vazio.
Sem falar na confusão que se cria quando um pedestre quer atravessar. Aí os fofos ficam manobrando para um lado e para o outro para permitir que a pessoa ande justamente por onde deveria — pura perda de tempo para todos e, claro, quando o sinal abre, eles, que deveriam sair primeiro para ter mais segurança, são espremidos pelos carros que vem logo atrás e tem de esperar as manobras para se reposicionarem antes de sair — aí sim, em desabalada carreira, é claro.
Ou seja, mais uma boa ideia com bons resultados em alguns outros países (embora na Austrália tenham voltado atrás na implementação dos bolsões), mas que aqui… veja bem… simplesmente torna-se ineficaz por pura burrice. Acabou-se com o princípio de que distanciando motos de carros nos momentos iniciais após a abertura do semáforo diminuem-se as ultrapassagens e com isto o risco que existe nesta manobra. Na época da implementação, foi considerado que o bolsão seria um privilégio para uma categoria, a de duas rodas. Sim, é, mas segue-se o conceito de que há de se favorecer meios de transporte mais frágeis e menos visíveis em detrimento dos maiores como forma de evitar acidentes.
Quando vejo idéias que poderiam ter sido boas se não tivessem sido deformadas, adaptadas erroneamente, lembro daquela locução do Cléber Machado: Hoje não! Hoje não… Hoje sim! Hoje sim? Lá se vão 17 anos desde que ele narrou o GP da Áustria de 2002, num final de semana dominado por Rubens Barrichello, então companheiro de Michael Schumacher na Ferrari. Rubinho havia liderado todos os treinos livres, fizera a pole-position e liderava a corrida em A1 Ring desde a largada até a última curva. Só que não. Schumacher estava na frente no campeonato com folga, pois havia vencido quatro das cinco provas até aquele mês de maio. Mesmo assim, a Ferrari deu a ordem: Barrichello teria de dar passagem para o alemão, abrindo mão de uma vitória supermerecida e conquistada por mérito próprio. Acabou fazendo isso apenas a alguns metros da linha de chegada. A narração de Cléber Machado, com a decepção patente de que seria um dia em que Schumacher não ganharia como sempre, mas acabou ganhando, virou antologia. É assim que eu me sinto muitas vezes. Hoje não vamos fazer besteira e vamos copiar boas ideias. Mas sim, acaba que fazemos besteira e boas ideias viram arremedos de desastre. Hoje não vamos fazer besteira, hoje não… hoje sim, hoje fizemos besteira de novo.
Mudando de assunto: o GP da Itália em Monza foi mais um de uma lista de corridas memoráveis este ano. Teve de tudo — até dois malucos voltando na pista depois de terem rodado, em curva e a centímetros de outro carro que vinha a milhão. Vettel fazer isso é absurdo e o Stroll, depois de ter sido vítima da manobra do alemão, fazer isso para cima do Gasly é de doer em dobro. Acho que punir com tempo extra quem faz isso é pouco. Deveriam dar tempo a título de “bônus” para as vítimas, o que deixaria Stroll numa situação de empate (Ok, ttalvez precise aperfeiçoar minha teoria). Gasly perdeu tempo e quase perdeu a corrida por causa do canadense e por muito pouco não houve algo mais sério. Lindas ultrapassagens e Leclerc fez tudo certo. Ver o monegasco fazer a parabólica com mais da metade do carro fora da pista, mas sem infringir o regulamento durante mais de 50 voltas foi um deleite. Imagino que ele tenha treinado essa manobra e conseguiu repeti-la à exaustão, sempre com perfeição. Pena o susto na Fórmula 3 com a capotagem de Alexander Peroni que, por muita sorte, saiu ileso. Falando em punir, o que se faz com a criatura que colocou aquela rampa de decolagem fora da pista e que justamente fez com que o carro do australiano saísse voando? Prisão perpétua é pouco.
NG